Por Thiago Espindula
Na manhã de hoje, foi divulgada uma pesquisa (mais uma!) do DataFolha a respeito da aprovação do governo de Jair Bolsonaro, na qual foi possível encontrar um crescimento da aprovação e uma redução da reprovação do ex-capitão. Em torno do tema, abriu-se intenso debate nas redes a respeito do fato do crescimento da popularidade dele poder estar atrelado à liberação do auxílio emergencial, ainda que Bolsonaro tenha sido contra o valor de R$ 600,00 (propondo apenas R$ 200,00).
Pesquisa do DataFolha revela aumento da aprovação de Jair Bolsonaro.
A primeira questão importante a se discutir aqui é que a tendência da opinião sobre Bolsonaro é manter-se estabilizada, pendendo para o positivo (momentaneamente), em função do papel que o auxílio acaba cumprindo na vida das pessoas, aliviando o sufoco da falta de dinheiro para pagar as contas do mês. Porém, o efeito tende a ser temporário, já que o auxílio não é permanente. Inclusive, é um erro da esquerda cumprir a agenda proposta pela direita de culpar o povo por aliviar às criticas ao Bolsonaro por causa do auxílio, e digo isso por vários motivos: primeiro, porque o brasileiro tende a atribuir o ônus e o bônus das ações políticas ao Poder Executivo, o que significa que naturalmente o auxílio emergencial será visto como “o auxílio do Bolsonaro”; segundo, que é preciso compreender que, em uma situação de desespero, a tendência do apoio tende a migrar para quem tem possibilidade de promover um alívio mínimo das condições, sem qualquer avaliação ideológica.
O ponto central da discussão precisa apontar o que se esconde por trás do auxílio: que é o fato do Bolsonaro estar criando condições estruturais, com suas reformas neoliberais e antipovo, para que todos caiam à condição de precisar de auxílios, de forma que a tendência progressiva da destruição da nossa economia e entrega do nosso patrimônio tende a ser a de empurrar todos para a dependência de rendas mínimas e auxílios. É preciso demonstrar que Bolsonaro irá apelar para os auxílios para ganhar musculatura política para poder seguir gerando ainda mais condições para empobrecer o povo e enriquecer os ricos, deixando aos pobres apenas a situação de ter que depender de um pratinho de ração que o governo deixa na porta de cada um, o que também fica claro pela intenção do governo de investir na criação de uma renda básica bolsonarista (o tal Renda Brasil).
Sobre essa questão, é preciso denunciar a aproximação que a direita está propondo entre Lula e Bolsonaro, assemelhando ambos no que tange à política social: o governo Lula garantiu o Bolsa Família como forma de evitar a fome enquanto a economia não tinha condições de absorver a todos, mas promovendo crescimento econômico e empregabilidade; Bolsonaro deverá utilizar a renda mínima para mascarar o caráter neoliberal e entreguista de seu governo, que entrega patrimônio nacional e destrói bem-estar social, e também para ganhar musculatura política na base da pirâmide socioeconômica para seguir no poder atacando o povo, sobretudo as classes médias e trabalhadoras que tendem a ver suas condições de vida virar fumaça.
Bolsonaro faz demagogia populista, como a promovida em sua visita ao São Francisco.
Como já tem sido feito extensamente pelo governo e pela grande mídia, a intenção em todas as matérias que tem sido publicadas é produzir a sensação de que o governo Bolsonaro apresenta uma ala que quer o investimento público enquanto outra quer a redução de gastos. Foi justamente por isso que tem se concentrado em “transparecer” os supostos “rachas” entre Guedes e os generais, justamente para vender a ideia de que existem alas preocupadas com o social enquanto outras estão preocupadas com as contas públicas, assim o governo engole as pautas da oposição por se apresentar como aquele que cumpre internamente o papel de situação e de oposição a si mesmo. É justamente aí que mora a cilada, pois o governo está articulando uma imagem de investimento público enquanto aproveita a cortina de fumaça para seguir destruindo a soberania do país e as condições de vida do povo.
O governo quer convencer de as alas liberais (Guedes) e protecionistas (Braga Netto) coexistem dentro de um governo equilibrado.
No ponto do gasto público, a pesquisa vem para tentar construir a ideia de que o crescimento da popularidade de Bolsonaro se deve ao fato dele estar avançando sobre as questões sociais e sobre o eleitorado de Lula, como se Bolsonaro realmente estivesse fazendo algo pelo social ou como se a popularidade de Lula se devesse somente ao Bolsa-Família. É aqui que mora o grande perigo, pois a estratégia pode estar sendo desempenhada para conduzir o povo a acreditar e aceitar o fato de Bolsonaro vencer eleições manipuladas em 2022 para que o ex-capitão pareça o vencedor. Digo isso porque sei, assim como qualquer pessoa crítica e precavida sabe, que pesquisas não buscam demonstrar o cenário real, mas sugerir e estimular cenários políticos, até por isso convém tomar as pesquisas como as intenções da burguesia (também por isso tanto alarde na grande mídia).
A sugestão de que Bolsonaro estaria roubando o eleitorado de Lula pode se prestar a dois efeitos, um dele mais provável, outro menos: o mais possível é o que tenta convencer os brasileiros de que Bolsonaro esvaziou Lula, para que a esquerda se veja confusa e na posição de escolher outras alternativas à esquerda; o menos provável seria o de tentar construir um cenário para respaldar uma possível vitória de Bolsonaro sobre Lula, caso não consigam evitar que ele concorra. A segunda hipótese é pouco provável porque seria arriscado demais para a burguesia permitir uma cena eleitoral entre Lula e Bolsonaro, pois a polarização do pleito poderia levar o sistema geral a perder o controle das variáveis, bem como poderia ficar difícil convencer o povo de que Bolsonaro poderia vencer Lula nas eleições. De uma forma ou de outra, uma coisa é certa: a direita já percebe que será difícil convencer o povo de que Lula não poderá concorrer baseando-se em tudo que a Lava-Jato fez, por isso já apela para estratégias que visem fazer Lula desistir da candidatura.
Outras duas inferências importantes a partir da divulgação da pesquisa do DataFolha são: o claro apoio ao governo Bolsonaro por parte da grande mídia, emulando um teatro que afirma que “apesar dos nossos ataques jornalísticos, ele segue firme”, buscando fazer o brasileiro acreditar que mídia e Bolsonaro estão em lados opostos; e a segunda, e isso ficou claro por matérias que afirmaram que Bolsonaro ficou mais popular após se entender com o Congresso e com o Judiciário, é tentar reforçar a ideia de que o Brasil tem instituições que funcionam e de que apenas a via de apoio ao sistema atrai o apoio do povo. Na verdade, é notória a intenção de passar uma mensagem para a esquerda: “não tentem romper com o sistema, pois o povo não quer”; quando o centro do apoio ao bolsonarismo está justamente na sua postura que tenta convencer a todos de que ele é uma figura antissistema.
Resumo da obra: armadilhas demais pelo caminho!
A seguir, vídeo discutindo o assunto abordado no texto.
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Com informações Verdade Concreta