Reproduzimos aqui um depoimento dado por Leonel Brizola, datado de abril de 1992, quando estava em seu segundo mandato como governador do RJ. Depoimento dado ao jornalista Osvaldo Maneschy, contido no livro por ele editado, intitulado “Legalidade e outros pensamentos conclusivos”. Quase trinta anos depois, tais depoimentos, como este abaixo, nos parecem especialmente pertinentes.
Os grifos e os comentário entre parênteses são do JORNAL PURO SANGUE.
“Todo esse modismo de neoliberalismo, se pensarmos bem, chega a ser ridículo. Por que esta doutrina? Por que o privatismo não resolveu os problemas do Brasil em todo o século passado (século XIX)? Enquanto outros países construíam o seu desenvolvimento, havia um governo aqui que só cuidava disso! Exatamente como querem os neoliberais agora: cuidava da polícia, das Forças Armadas, da diplomacia, da arrecadação de impostos, da Justiça… Não cuidava da educação e não havia uma cidade que tivesse água potável. A iniciativa privada era livre, totalmente livre.
Mas por que não construíram o desenvolvimento brasileiro, como a iniciativa privada dos norte-americanos? Só por um motivo básico: lá nos Estados Unidos havia uma consciência de nacionalidade. Os EUA tiveram sua independência e ficaram meio séculos isolados, cuidando do seu desenvolvimento, do seu próprio mercado. Só se relacionavam com a França. Os ingleses os consideravam filhos traidores do grande império.
Por que não fizeram? Por que a iniciativa privada não fez da Baixada Fluminense uma metrópole moderna? A Baixada esteve entregue à iniciativa privada anárquica: cada um fazia ali o que queria e quando tinha dificuldades… comprava o prefeito, o vereador, comprava tudo! Taí o resultado. Deixai fazer!
Na Baixada, o que faltou foi governo. Justamente o que eles, os defensores da privatização, debilitam e condenam. Por que a iniciativa privada não fez o desenvolvimento na Primeira República, na chamada República Velha, a partir da implantação do regime republicano, até 1930? Por que não fez?
Não havia impedimento algum, nem para capital estrangeiro, nem para nada. Por que não fez? Essas concessões que deram para a ITT (multinacional das telecomunicações) e para outros grupos estrangeiros em matéria de energia elétrica e em outras áreas, como é o caso dos minérios: ouro, carvão, ferro, manganês etc… Por que essas empresas privadas, que dominavam a vida nacional, não investiram? Por que não modernizaram o país? Não fizeram nada disso exatamente pelos motivos que todos nós sabemos.
O Brasil só tomou rumos depois da Revolução de 1930, quando o país adquiriu certo sentido de desenvolvimento econômico e tratou de planejar o futuro. Aí, sim, o país modernizou-se, industrializou-se. Fomos, é claro, acumulando erros e vícios. Mas não podemos jogar tudo fora agora, em nome da “modernidade”. Para mim tudo isso é cair na irracionalidade. Esta história de abrir o país é irracional e empírica. Transformar o país na casa da sogra e virar mil pedaços colonizados pelos interesses internacionais! Não, não podemos entregar a alma, o gênio deste país!
O Brasil é um país afogado numa crosta de cartéis, por isso a nossa economia não dá certo. A saída é dar um “chega para lá” nesta crosta de cartéis. Romper com os grilhões, com a exploração e a espoliação econômica.
Como aqueles povos da Europa Oriental que deram o grito e se libertaram daquela textura, daquela crosta de estatais sobre eles. Até aí nós achamos que é assim. Numa visão liberal do país, teríamos que começar pela redução da Rede Globo de televisão a 25% do mercado, quebrando o monopólio real que ela exerce. Esse remédio vale para muitos que andam falando em liberalismo por aí.
Sabe qual é nossa posição? Liberdade, sim, mas até o ponto em que essas franquias não transformem na liberdade da raposa dentro do galinheiro. Esta é a nossa fronteira. Se a liberdade é para todos no galinheiro, mas quem come as galinhas é a raposa, então não serve. Precisamos de um Estado democrático, uma sociedade vigilante, para que isso não aconteça. Porque do contrário desaparece toda a razão de sermos uma nação independente, um povo que tem o seu orgulho, a sua vontade de projetar-se para o futuro.
O conservadorismo (travestido de neoliberalismo) brasileiro, as elites e as oligarquias estão em maus lençóis neste momento. Dispõem de uma máquina de publicidade fantástica, que parece às vezes um partido único, mas ainda assim não conseguem se justificar, se explicar. Sabem por quê? É porque a causa que defendem é muito ruim.”
Meus parabéns pela matéria isso é NACIONALISMO ILUMINADO.👍
Brizola, o imortal do trabalhismo… Dá-lhe Rubem Gonzalez e todos que acompanham o trabalhismo.
BRIZOLA FOI O ÚNICO SONHO DOURADO QUE O POVO TEVE E NUNCA PODE TRANSFORMAR EM REALIDADE PORQUE AS OLIGARQUIAS CICERONEADAS PELAS MULTINACIONAIS ESTRANGEURAS JAMAIS PERMITIRAM COM O APOIO DOS TRAIDORES DO BRASIL TRAVESTIDOS DE PATRIOTAS.