Por Roberto Nishiki
Os EUA são um país tão desgraçado, tão erigido sobre o racismo, que até 1970, havia crime de miscigenação, salvo em NY e outros poucos estados. O primeiro estado a adotar leis contra a miscigenação racial foi a Virgínia em 1691 após a revolta de Bacon. Para saber mais, clique aqui.
A obsessão anglo-saxã com a pureza da raça branca gerou diversas bizarrices ao longo do tempo. Em 1948, um cara chamado Davis Knight, que era 1/8 africano, chamado pelos americanos de octaroon por ser um oitavo negro, foi preso por 5 anos por se casar com uma moça 100% saxã. Ele não sabia que tinha uma ancestral negra, mas alguns de seus vizinhos sabiam e o denunciaram pelo crime de miscigenação racial.
Um homem loiro de olhos azuis e pele rosada como Walter Francis White, era obrigado a se identificar como negro por ser apenas 1/16 africano, por ter uma trisavó negra, e teve de fugir para NY para poder se casar com uma moça judia da Ucrânia, a famosa escritora Poppy Cannon, para evitar de ser preso pelo crime de miscigenação. Ele chefiou a Associação para o Avanço dos Homens de Cor de 1929 a 1955. Quando se casou com Poppy Cannon (sua segunda esposa) foi chamado de traidor da raça negra pelos ativistas negros dos EUA. Claro que um homem como esse jamais seria visto como negro no Brasil. Na verdade, é provável que no Brasil o chamassem de “Alemão”.
O primeiro homem a ser expulso de um vagão de trem exclusivo para brancos foi um homem chamado Homer Plessy. Outro octaroon (1/8 negro), é outro que passaria por “alemão” no Brasil. Em 7 de junho de 1892, Plessy comprou um bilhete de primeira classe para o trem que ia de Nova Orleans para Covington, sentou-se no vagão para os passageiros brancos e o condutor lhe perguntou se ele era um homem negro. Um detetive particular, com poderes de prisão, foi contratado para retirar Plessy do trem na esquina das ruas Press e Royal, para garantir que ele fosse acusado criminalmente de violar a lei estadual de vagões separados para brancos e negros.
Em 1983 uma mulher da Lousiana chamada Susie Guillory tentou tirar um passaporte para viajar. Ela, que nunca havia olhado sua própria raça em sua certidão de nascimento, se identificou como branca no formulário. Contudo, sua certidão de nascimento dizia claramente “colored”, negra. Ela era a pentaneta de Margarita, uma escrava que teve filhos com seu dono, Jean Guillory, em 1770, na época da independência americana. Margarita, que era a “great-great-great-great-grandmother” de Susie, colou para sempre a condição de negra em sua pentaneta de pele clara. Susie apelou para a Suprema Corte, mas seu pedido foi negado, pois, segundo as autoridades, ela era sem dúvidas uma “colored”.
Por fim, devemos chamar a atenção para o fato de que os amerikkkanos nunca perdoaram a América Latina por ser católica e miscigenada. Isso para seus anglo-saxões é um crime sem perdão. Eles sentem inveja e fascinação das nossas relações entre diferentes cores – ainda muito problemáticas, mas ainda assim infinitamente melhores do que as relações amerikkkanas. Contudo, ao mesmo tempo que sentem inveja e fascinação por nossas relações de mestiçagem, eles também sentem nojo das mesmas. Um problema psicanalítico de desejo e horror em relação à nação mais miscigenada do mundo. Eles nunca vão ser nossos amigos. E de nenhum país latino. No inconsciente coletivo dos brancos dos EUA, o sangue negro ainda é uma espécie de agente infeccioso, que contamina com apenas uma gota.