O site DefesaNet, uma voz dos militares, está a denunciar a existência de uma força de desestabilização do governo de Jair Bolsonaro, comandada pelos Estados Unidos, na iminência da posse de Joe Biden. Tratar-se-ia do que eles chamam da Task Force Brazil (ou Força Tarefa Brasil). Diante do artigo do ex-embaixador dos EUA no Brasil e diplomata de carreira Thomas Shannon, que acusa Bolsonaro de prejudicar as relações bilaterais, o DefesaNet soltou a seguinte nota:
O artigo em questão foi publicado na Revista Crusoé, na edição de 04 de janeiro de 2021, a mesma que apresenta um artigo de ninguém menos que o Ministro Luis Roberto Barroso, atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral, avalista do processo eleitoral de 2020 e opositor ferrenho do voto impresso. A Crusoé foi fundada e é editada por Mário Sabino e Diogo Mainardi, jornalistas que fizeram carreira na Veja, Editora Abril. A revista tem como um de seus articulistas o ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro. Apesar do português sofrível que demonstra, Moro tem o espaço na Crusoé para “defender a democracia”.
De acordo com o DefesaNet, a esses artigos somam-se o editorial do Estado de São Paulo, denunciando o autoritarismo sobre novas vestes, e reportagem Folha de São Paulo, que demonstra que três em cada quatro brasileiros confiam nas urnas eletrônicas. O site credita todas essas ações aqui elencadas como orquestradas de fora, diante do cenário político que se avizinha. Com forte presença na mídia e no Judiciário, estaria em operação o “Deep State Caboclo”, filial do Deep State estadunidense.
Thomas Shannon, por sua vez, tem uma carreira curiosa: foi nomeado por Barack Obama em 2010 para a embaixada em Brasília, ficando lá até setembro de 2013, logo depois do país sair convulsionado pelas manifestações de 2013, popularizadas pela New Left como “jornadas de junho”. Dali saiu para assumir o cargo de conselheiro da Secretaria de Estado, quando em 2016 assumiu o cargo de Sub-Secretário de Estado para Assuntos Políticos, chegando mesmo a ocupar interinamente o cargo de Secretário de Estado na transição Obama para Trump. Uma ascensão na carreira considerável para um ex-embaixador no Brasil, o que sinaliza bons serviços prestados.
Conforme Shannon expõe em seu artigo, “Joe Biden é um presidente que conhece muito bem o Brasil”, por seus anos no Senado e nos oito que ocupou a vice-presidência. E, com certeza, Shannon conhece muito bem Biden e vice-versa.
Será que existe essa proximidade também entre Shannon e Moro, quando este era treinado, durante o Governo Obama, em cursos e seminários sobre lavagem de dinheiro? Há mais do que mostram os vazamentos do Wikileaks, sobre os vínculos criados entre Moro e o Departamento de Justiça dos EUA?
Alguns acusam o governo brasileiro de estar criando, desde o afastamento de Dilma Roussef da presidência, um “Deep State Tabajara”, uma filial do Deep State dos EUA. O Deep State é um termo utilizado para descrever a comunidade de inteligência e políticos associados a ela que tem o poder de influir nos eventos políticos daquele país. O “Deep State Tabajara” seria então caracterizado pela ascensão dos militares a postos-chave de poder desde o Governo Temer, com o fortalecimento do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), vinculado à presidência da República, nas figuras de Sérgio Etchegoyen (Temer) e Augusto Heleno (Bolsonaro). Já o DefesaNet reapropria o termo, como Deep State Caboclo para se referir ao verdadeiro grupo de apoio dos interesses estrangeiros no Brasil, amparado por uma “Força Tarefa Brasil”, fazendo alusão à Força Tarefa da Lava Jato, comandada por Moro, envolvendo o MPF e a Polícia Federal.
Parece-nos que o Brasil se encontra desguarnecido em questões estratégicas e de inteligência, e que a denúncia do DefesaNet mostra que a comunidade militar parece estar atenta ao giro que o Brasil vai precisar dar em sua política externa, diante da posse da camarilha de Biden. Resta saber se Bolsonaro vai estar pronto para o desafio que se coloca no horizonte.