Por Ricardo Dias
Sabe-se que o mundo hoje em todos os aspectos é mais complexo, ainda que repetindo muitas vezes as mesmas ações e erros cometidos. O área do Direito que estuda as relações internacionais estabelece que uma sociedade internacional é composta por sujeitos internacionais dotados de direitos e deveres, que convivem entre si, compartilhando e competindo por interesses. O que guia as relações internacionais são os interesses e estes uma vez contrariados, são defendidos por força ativa ou dissuasória. A única coisa que existe nas relações internacionais é o interesse. Os atores-chave nisso, para o Direito, são os Estados nacionais.
A sociedade internacional abrange países, organismos internacionais, ONGs e corporações. Há quem acredite que quem manda em muitos países são justamente as corporações, a partir do momento que estas estão ativas e não sujeitas às decisões políticas. Cabe sempre relembrar que o Banco Central estadunidense (Federal Reserve) é privado, tanto que não consta na lista de órgãos públicos nos jornais locais. Isso explica inúmeras mortes inexplicáveis, como a do ex-presidente John Kennedy, que até mesmo o Che Guevara lamentou a sua morte e previu tragédia para a América Latina no desenrolar dos dias. Ele tentou passar o controle da emissão do dólar para o Tesouro. Se os Estados Unidos tivesse autonomia nacional, porquê não seria controlado pelo governo a emissão da moeda que por pouco tempo ainda possui hegemonia global?
Acontece que é tudo muito complexo. Quando o Brasil financiava projetos de pesquisa, gastando rios de dinheiro em contratos aleatórios (de risco) com pesquisadoras procurando petróleo, já importava bilhões de barris da então Standard Oil, da família Rockfeller. Naquela época o escritor nacionalista Monteiro Lobato dizia em seus artigos sobre a existência do petróleo. Dizia que uma pesquisadora de fato encontrou, mas o governo não levava adiante. Lá ele já acusava o governo brasileiro de subserviência e também criticava os brasileiros por serem tão apáticos com a situação. E agora fica o questionamento, será que foi conveniente para a Standard Oil e para os EUA a criação da Petrobrás, em 1953?
Na época da República Velha a economia brasileira era rudimentar de subsistência, com trabalho no campo, muita força dos paulistas e mineiros, exportando produto primário. Com destaque para o café. Pois bem, o Brasil seguiu com economia primária, sendo ocupado por uma elite que nunca teve nenhum apreço pelo sentimento de pátria e acomodada. O Brasil não produzia sequer uma picareta e o grosso de sua população vivia na miséria, numa espécie que lembra a Europa feudal. Em 1930, impulsionado por descontentamento político e social e com condições facilitadas pelo enfraquecimento da venda das sacas de café, ocorreu a Revolução de 30, com o ex-ministro da fazenda Getúlio Vargas. Com o famoso episódio da queima do café, simbolizando o início da quebra dos laços oligarcas e imperialistas, que tanto atormentavam o país.
A Era Vargas é marcada pela modernização da legislação, investimento na cultura, colocando grandes brasileiros como Carlos Drummond de Andrade e Cecília Meirelles para falar em rádio, além do investimento forte no desenvolvimento do país, com o presidente fazendo visitas surpresas em seus ministérios para ver se estavam trabalhando. Dizem até que Jânio Quadros visitava hospitais públicos e se fosse mal atendido demitia o funcionário, inclusive. Voltando ao Vargas, na época já estávamos duas gerações tecnológicas atrasadas, mas com cuidadosos passos íamos conquistando nossa independência do estrangeiro.Para quem mal se abastecia ou produzia picareta, fabricar aço e combustível é um grande avanço, mas aí entra na discussão inicial: seria interessante para a Europa e aos EUA, que lucravam conosco exportando seus produtos? Seria interessante a mão de obra brasileira ser cara e não compensar empresas deles virem para cá, sem a baixa remuneração, com direitos trabalhistas e o tão polêmico imposto sobre a remessa de lucros? Seria conveniente termos uma elite poderosa e nacionalista? Nossos produtos na prateleira deles?
É disso que se trata. Tudo gera conflitos de interesses e aí o atingido vai querer cessar o conflito, e aí entra o investimento governamental na desestabilização do governo que possibilita o desenvolvimento local. Isso é provado em documentos revelados recentemente por figuras como Julian Assange e Edward Snowden, assim como é denunciado em arquivos públicos. Existe um livro na Câmara dos Deputados, possível de ser consultado gratuitamente na internet, chamado “Questão do Rio Pirara”, que narra uma ONG norueguesa que entrava numa tribo indígena para tirar sangue deles para estudar suas resistências à malária.
Isso é uma prática recorrente da humanidade a anos. A exploração de civilizações por outras… Ascensão de tronos e queda de tronos. A estrutura do poder é sempre a mesma, da mesma forma que os erros cometidos, os exageros, também são os mesmos. Existe a síndrome de Roma, mas também existe a síndrome da humanidade. O que muda são os meios, complexidades. Até o surgimento das empresas a estrutura econômica ocidental se resumia a comerciantes e feudos. Mas foi modernizando. Os lordes feudais caíram e o poder foi centralizado, mas a economia foi se diversificando, principalmente com o ideário cada vez mais liberal nesse quesito. Com o tempo surgiram os bancos, empréstimos, com um filme interessante sobre chamado “Mercador de Veneza”. Logo vai começando também o processo de financeirização do capital, quando os donos do dinheiro encontram uma nova forma de ganhar dinheiro, surgindo as bolsas de valores, onde com uma mentira um mega especulador fez sua fortuna.
Pois logo as coisas foram se expandindo e assim surgiram as multinacionais, se intensificando a partir do fim da Segunda Guerra. O único objetivo delas é o lucro e para que elas instalem suas filiais exigem isenções de impostos, mão de obra barata e doações de terras. Todo o lucro vai embora para seu respectivo país. E aí entra no problema, porquê não é conveniente que o Brasil ou qualquer outro país rico, mas subdesenvolvido tenha sua empresa, percebe? Na verdade, como pode ser consultado na história e em livros como “Assassinos Econômicos” do John Perkins, aí que entra a fase da força ativa de defesa dos interesses, com as potências imperialistas desestabilizando o país, chantageando com o objetivo de colocar empresa deles no lugar. É rigorosamente isso que acontece, impedindo a verdadeira autonomia nacional, que como diria o velho Getúlio, só se afirma pela capacidade de mandarmos em nosso próprio destino.
A história das multinacionais estrangeiras no Brasil começa com a ascensão dos militares udenistas no poder, que tanto tentaram por trás do Carlos Lacerda, principal opositor getulista, e não conseguiram, mas finalmente, após anos o Brasil segurando, chegaram ao poder e logo depois saíram e militares nacionalistas assumiram, no fim dos anos 60. O Brasil chegou a ser o que Israel significa para os EUA no Oriente Médio, os olhos e ouvidos deles. Éramos o “guardião do continente”, que estava praticamente todo dominado pelos EUA, na época que disputava a hegemonia com os soviéticos. Foi daqui que criaram um polo de integração econômica e exploração da América Latina. Em 1967 na Conferência de Presidentes de Punta del Este, o presidente estadunidense Lyndon Johnson conseguiu um acordo para criar um mercado comum de ações para que de qualquer lugar na América Latina se pudesse comprar empresas locais. A coragem com o tempo foi aumentando à ponto de serem mais diretos, propondo diretamente privatizações de empresas públicas, começando em 1969, propondo privatizar os frigoríficos na Associação Latino-America de Livre Comércio (ALALC). O primeiro a fazer isso foi o Uruguai.
Depois partem para o desarmamento alfandegário, como relembrado por Eduardo Galeano em seu livro “Veias Abertas da América Latina”, facilitando a circulação das mercadorias, pagando mais barato nas commodities e com os países subdesenvolvidos importando produtos caros produzidos com insumos locais sem nenhuma espécie de protecionismo. Isso gera desproporção na Balança Comercial e déficit nas contas públicas. É o mesmo problema enfrentado hoje. E então os bancos usam a desculpa da inflação -que não é de demanda, nem nada do tipo, mas de paridade com o dólar- para aumentarem as taxas de juro. E isso quebra perna de empresas e de pessoas, fragilizando o fluxo econômico de economia, que pressupõe emprego, renda e crédito.
A manipulação é tamanha que o Mercado Comum Centro-Americano, composto por Costa Rica, El Belize, El Salvador, Guatemala, Honduras e Nicarágua aumentou as barreiras alfandegárias contra empresas estrangeiras, o que até aqui parece ter sido uma medida acertada, só que nada foi feito quanto às que já estavam nos locais, que depois receberam subsídios à ponto de excederem os gastos produtivos dos setores nacionais de tecidos, tintas, medicamentos, cosméticos e bolachas. E aí que está o problema…
Perceba que o estrangeiro não está preocupado com os setores deficitários. Aos poucos se desfazem da INFRAERO, que é a nossa empresa que administra os aeroportos, aumentando o preço das viagens nos aeroportos 12 superavitários para bancar os 66 deficitários. Estão vendendo os que dão lucro e agora o governo Bolsonaro aprovou a construção da NAV, resultante da cisão da INFRAERO, sucedendo sua massa falida, administrando os deficitários, num contexto de país que na capital de Goiás para cada 1000 habitantes se tem 4 leitos de hospital.
Isso tudo compõe o neoliberalismo, que visa colher o que o governo brasileiro, por exemplo, planta. Então quando no final século XIX e meados do século XX se financiava pesquisas procurando petróleo, pouco importava para a Standard Oil, porquê a gente importava deles. Nem acreditavam que aqui tinha petróleo, mas o Monteiro Lobato sempre dizia que sim. E foi provado. E assim veio a Petrobras, que já nos anos 90 não se fazia mais edital para concurso. Aí o governo monta uma plataforma de extração e logo aparece uma multinacional querendo pegar, para dar lucro aos seus acionistas e financiar o desenvolvimento de seu país.
Tudo isso faz parte do processo denominado de internacionalização do capital, com mercados sendo abertos por estrangeiros, reforçando seus respectivos poderes econômicos, pregando pelo baixo custo de produção, pressupondo baixa remuneração e todos os rendimentos são transferidos para o país de origem.
A Europa no século XIX teve uma estratosférica expansão industrial, quando surgiu o motor à combustão interna, possibilitando o desenvolvimento de veículos automotores, além de ter ocorrido a expansão de ferrovias, fabricação do aço, uso de fibras e sintéticos ao invés de insumos tradicionais na produção de roupas, fora o surgimento dos navios à vapor, enfim. Foi época da expansão do petróleo, que até antes não era tão importante. Surgiram os automóveis, vindo o primeiro ao Brasil em 1903, com o Olavo Bilac sendo convidado para usá-lo e ele colidiu com uma árvore com o carro percorrendo na velocidade de 4 KM/H. Nessa época o Brasil não produzia sequer uma picareta. A Europa estava duas gerações tecnológicas na nossa frente. Aqui ainda não era tão importante pra eles, mantendo o foco na África e Ásia, culminando na separação territorial, misturando tribos africanas rivais, como os hutus e os tutsis, na Conferência de Berlim, resultando no que pode ser visto no filme “Hotel Ruanda”. Diga-se de passagem, lá sempre foi um caos. Não é à toa que os africanos que vieram como escravos para o Brasil era vendidos por outros africanos, de tribos rivais.
Depois, no século XX, chega na fase da internacionalização do capital, começando a surgir as primeiras multinacionais, resultado de forte investimento tecnológico de seus países e então, começa o processo tão discorrido acima. Não é conveniente para os EUA a autonomia brasileira e de nenhum país. Não é à toa que não deixaram o Canadá crescer, quando montou um supercaça Arrow, que foi discutido no Portal.
O sistema pode até mudar, mas os homens não mudam. A estrutura do poder sempre segue os ideários de Sun Tzu e dos romanos, na hora do papo. Roma foi tão forte que, apesar de ter destruído uma variedade de civilizações, ela influenciou na língua que falamos, bem como na estrutura regulatória da sociedade pelo direito positivo, valorando pela interpretação mais rígida possível da lei.
Impérios vêm e vão. Sempre foi assim. Não existe essa crença de que tal país é divino e é predestinado ao eterno sucesso enquanto outros são fadados ao fracasso. Ideólogos marxistas não creem na emancipação brasileira com um argumento parecido com esse. Oras, alguém tem que financiar o desenvolvimento francês… Certo, mas quem disse que tem que ser assim? Para eles, não há o que se fazer, porquê a Europa e os EUA venceram e vão lutar até o último segundo para impedirem que o Brasil se desenvolva. Oras, mas é assim no mundo inteiro. Roma já consolidada teve que enfrentar crises. É a guerra de tronos… A vida em si é uma guerra, para uns mais, para outros menos. A questão é: que caminho o país quer seguir? Querem que aceitemos condição de derrotados vivendo num país que em 35 anos multiplicou por 100 suas riquezas.
O país que conseguiu romper com sua estagnação econômica em 35 anos chegou em 2021 completando a pior década em matéria de crescimento econômico dos últimos 120 anos, cumprindo uma emenda constitucional que proibiu o investimento por 20 anos em todas as áreas econômicas, exceto com juro e rolagem de dívida. Tema muito complexo e que vale futura abordagem. Regredimos tecnologicamente à ponto de importarmos fibras de roupa e metade dos insumos da agricultura mais competitiva do planeta. Vendemos produtos primários com preços flutuantes no mercado internacional e importamos seus derivados com preços também flutuantes. Éramos um de oito países no mundo que sabiam produzir um avião, mas destruíram a EMBRAER. Nós cumprimos com toda a agenda vendida lá fora. E isso só nos trouxe decadência. Metade da população não tem acesso ao saneamento básico… Temos 700 mil casos de malária na Amazônia por ano. O sarampo voltou. A fome está mais presente do que nunca, tal como o desemprego, endividamento e violência. Chegamos a perder mil empregos industriais por mês.
O ex-ministro Aldo Rebelo prega que a defesa de um país se dá por escolha e por destino. Pois dizem por aí que aqueles destinados a se enforcarem não vão se afogar… Em 1980, o Brasil produzia quatro vezes mais que a China, Malásia, Singapura e a Coreia do Sul. De cada 100 coisas que produzia, 30 vinha da indústria. Nós tínhamos muito além da Petrobrás. Já tínhamos um protótipo de um carro elétrico. Nós que começamos a ideia do álcool, com o Proalcool do governo Geisel, visando ter mais alternativas energéticas além do petróleo. Tínhamos a Nuclebras, que foi feita em parceria com uma empresa alemã. Nós caminhávamos a passos largos a nos tornarmos uma potência e ficamos para trás. Com toda a dificuldade enfrentada, porquê, por motivos estratégicos, o Brasil só se modernizou no Sul e no Sudeste e tudo mais, nós conquistamos muita coisa. Fizemos muito a serviço do bem, do povo. O problema é que não foi conveniente para as grandes potências… e então em 1979 tivemos o que Bautista Vidal chamou no livro “poder dos trópicos” de dura intervenção externa, por intermédio do tão falado estadunidense Henry Kissinger. Novamente a defesa por força ativa dos interesses… Percebe? Inclusive, até mesmo antes dos primeiros governos militares brasileiros, marcados por uma política subalterna aos EUA, o Brasil, a Argentina, o Chile e o Uruguai concordaram com não comercializarem entre si produtos do comércio maquinário estatístico e componentes para importarem dos EUA. Em troca viriam fábricas deles aos países. Tudo intermediado pelo IBC WORLD TRADE.
E é muito importante sempre se ter em mente que o Governo Militar é muito mais complexo do que ser resumido em “a noite que durou 21 anos”, como muito propagado nas instituições de ensino e por inúmeros políticos. Castelo Branco e Costa e Silva representavam os udenistas que juntamente um setor da aeronáutica (como se fosse a Lava-Jato da época) fizeram o que puderam para desestabilizar o governo Vargas, que era nacionalista, para impor um outro entreguista. Em 1964 houve sim um golpe político, só que depois houve um outro golpe, em 1968 e 1969 e então a ala nacionalista militar assumiu o governo e freou o desmantelamento nacional e retomou o projeto idealizado pelo Getúlio Vargas, com a diplomacia do Barão de Rio Branco. Para se ter uma ideia, a partir de 1979, por dez anos o Brasil enriquecia urânio e exportava para o Iraque, governado na época por Saddam Hussein, inimigo de Estado dos EUA… Foram construídas usinas hidrelétricas, acharam petróleo na Amazônia, investiram no pleno emprego estabelecendo como prioridade nacional, foram feitos seminários com nacionalismo como tema, promoveram o primeiro show em palco, com o Projeto Pixinguinha, enfim.
A Embraer foi criada justamente a partir deste período nacional desenvolvimentista. Criaram a Embratel (Empresa Brasileira de Telecomunicações), iniciaram uma corrida armamentista, a ponto que o Brasil ocupou a quarta posição de venda de armas de pequeno porte no mundo, investiram na tecnologia nuclear, rasgaram o contrato que subalternizava o nosso exército ao estadunidense, acolheram artistas exilados e até mesmo a Maria da Conceição Tavares, que foi assessora do Salvador Allende. O Brasil foi o primeiro país do mundo a reconhecer a independência do povo angolano… No governo Geisel, que foi capitão do exército no Governo Vargas, em 1940, foi criado Ministério da Previdência e Assistência Social, com o Instituto Nacional de Seguridade Social incluindo entre seus encargos o salário-maternidade. Foi criada a Fundação Nacional de Arte (Funarte), com o objetivo de valorizar a cultura brasileira, etc.
Castelo Branco e Costa e Silva representavam os udenistas que juntamente um setor da aeronáutica (como se fosse a Lava-Jato da época) fizeram o que puderam para desestabilizar o governo Vargas, que era nacionalista, para impor um outro entreguista. Em 1964 houve sim um golpe político, só que depois houve um outro golpe, em 1968 e 1969 e então a ala nacionalista militar assumiu o governo. Para se ter uma ideia, a partir de 1979, por dez anos o Brasil enriquecia urânio e exportava para o Iraque, governado na época por Saddam Hussein.
A Embraer foi criada justamente a partir deste período nacional desenvolvimentista. Criaram a Embratel (Empresa Brasileira de Telecomunicações), iniciaram uma corrida armamentista, a ponto que o Brasil ocupou a quarta posição de venda de armas de pequeno porte no mundo, investiram na tecnologia nuclear, rasgaram o contrato que subalternizava o nosso exército ao estadunidense, acolheram artistas exilados e até mesmo a Maria da Conceição Tavares, que foi assessora do Salvador Allende. O Brasil foi o primeiro país do mundo a reconhecer a independência do povo angolano… No governo Geisel, que foi capitão do exército no Governo Vargas, em 1940, foi criado Ministério da Previdência e Assistência Social, com o Instituto Nacional de Seguridade Social incluindo entre seus encargos o salário-maternidade. Foi criada a Fundação Nacional de Arte (Funarte), com o objetivo de valorizar a cultura brasileira, houveram grandes avanços no setor educacional, energético, enfim. A visão deles era de tornar o Brasil uma potência energética sem depender do petróleo. Chegaram a montar usina de álcool de mandioca… Nós tínhamos uma grande siderúrgica, Acesita, que usava carvão vegetal, produzido em florestas locais, então nem importava, como no caso das outras.
A história nacional é mais complexa do que parece. Não tem como resumir o período militar em adjetivos simplistas. Nada pode ser analisado assim… Depois do Costa e Silva, as relações brasileiras no exterior foram aos poucos se desintoxicando ideologicamente, não ficando, portanto, presas aos EUA. Dizem que Geisel foi o último da era Vargas, quando o projeto nacional desenvolvimentista foi freado por forças apátridas. E repare na quantidade de feitos em tão pouco tempo… O Brasil crescia 10% ao ano e tentou uma coisa que nunca mais se ouviu falar: investimento energético.
Em 1979 o Brasil começa a passar por turbulências. Bautista Vidal e vários outros denunciaram sabotagem pelo Banco Mundial e pelo Henry Kissinger nos projetos nacionais. Começa bem antes, com a Operação Condor, comandada pela CIA, que aos poucos foi eliminando figuras nacionais. Inclusive Carlos Lacerda. Nos anos 70 o cineasta Glauber Rocha já denunciava inclusive a infiltração estadunidense nos partidos brasileiros… Inclusive nessa época houve casos estranhos incêndios na sede da Globo, acabando como acervos do nível do Sítio do Pica-Pau Amarelo, enfim. Pois bem, A área tecnológica foi a primeira a ser desmantelada e depois foi seguindo com o resto, com empresas multinacionais ocupando espaço das nacionais. Em 1986 desativaram a Secretaria de Tecnologia industrial, nos anos 90 liquidaram o Ministério da Indústria e do Comércio, além do de Minas e Energia. Sempre com o argumento de que o Estado gasta demais, mas nunca apresentando dados com honestidade. Muitos grandes brasileiros viram o perigo que se aproximava, promovendo o Manifesto Nacionalista, com apoio de Severo Gomes e do Bautista Vidal para pregar a defesa do país e contrariar o entreguismo de Figueiredo. Dizem inclusive que um general do alto comando dos militares ficou sem a função de comando do III exército por defender esse ideário, o Andrada Serpa (entusiasta do Proalcool, era ligado à antiga UDN e também teve um grande papel na reabertura, para ver como a história é complicada).
E foi dito e feito… Desde a redemocratização o que se viu se resume a falsas promessas e a cada mandato menos respeito, coro e liturgia, por parte de nossos políticos. Hoje as sessões sobre a dívida pública são vazias… Só se fala em fofoca da vida pessoal de políticos ou de projetos relativos à entrega do resto de nosso patrimônio. E quando tem discussões à respeito disso, as grandes potências por meio de seus testas-de-ferro como o George Soros, que uma vez disse que sua fundação tem o papel de CIA privada, ordenam que seus vassalos locais arranjem o assunto do momento, para distrair a opinião pública e dar um motivo para os ditos representantes populares não terem que se debruçarem no assunto. É tudo geopolítica. Está tudo interligado. É briga de tronos… É briga por quem vai estar na frente na prateleira do supermercado ou vai aparecer na propaganda do YouTube.
Acontece que optamos pela subserviência, pela manipulação, pela mentira. Nós perdemos a Vale do Rio Doce por menos de 1/3 de seu valor, estimando que transferiram para entidades estrangeiras 16 milhões de hectares de superfície, o que equivale quatro estados do Rio de Janeiro, como comparado pelo Bautista Vidal, fora também 7.700 concessões minerais em grande parte localizadas na Amazônia (o que incidiria no artigo 142 do Código Penal Militar, que prevê até 30 anos de prisão para quem tentar internacionalizar território nacional). Tamanha loucura que o próprio Sarney foi contra. Perdemos a Nuclam, com a estranhíssima prisão do Almirante Othon pela Lava-Jato (ex-presidente da Eletronuclear). Perdemos tudo. Nosso único setor superavitário hoje era o aeroespacial, mas por pouco não entregaram a Embraer quase pelo preço que a Louis Vuitton pagou pelo Copacabana Palace… Detalhe que sendo um de oito países do mundo que sabem produzir avião, não fabricamos carros. Detalhe: o primeiro carro elétrico foi brasileiro, com a Gurgel… Estima-se que no andar da carruagem, se dependesse dos dias atuais Brasília sequer existiria… Perdemos a CSN, a metalurgia, que, diga-se passagem, se não existisse na época não teria surgido o Lula; perdemos a Telebrás (teríamos a nossa Sky), perdemos Serra Pelada, assinamos um tratado limitando a produção de foguetes que viajam a apenas 300 Km de distância, entregamos a base de Alcântara, com absoluta leniência daqueles que se dizem opositores ao projeto neoliberal; associamos tudo que é nosso à corrupção, temos mais mortes que países em estado de guerra, uma ONG pode decidir onde um militar entra ou não, privamos metade dos brasileiros do acesso a saneamento básico, com a esquistossomosee agora o Covid atormentando as populações que vivem nessas regiões e etc. Como diria Enéas Carneiro: “como se pode ter a veleidade proterva de ir para a televisão e dizer que está tudo bem?!”
Todo o esfacelamento da nação se deu no cumprimento de uma agenda internacional, proveniente do Consenso de Washington, que estabelece uma espécie de manual a ser seguido pelos países que teoricamente então um dia chegariam ao patamar estadunidense, europeu, que hoje vive de serviços agregados às suas respectivas indústrias. A agenda consiste no tripé macroeconômico, que implicitamente se encontram as privatizações. Em troca, rios de dinheiro viriam para o Brasil. E por um tempo veio, mas o que não contam é que não se trata de doação, mas de investimento, o que pressupõe pagamento. E como vai pagar se não gira dinheiro? Percebe? E hoje o Brasil vive pagando a dívida que criou lá atrás, dívida que garantiu a reeleição do FHC e do Lula, que quando ainda era candidato disse que não responderia sobre a Amazônia, porquê ela já não era mais nossa. E isso só garantiu o status colonial brasileiro, com o grande Ocidente aqui permanecendo, crescendo às custas brasileiras.
Hoje a situação é tão catastrófica que nossos cartões emitidos pelos nossos bancos tem bandeira da VISA, MASTERCARD e não brasileira, dificultando ainda mais no controle da taxa de juro, que é a mais alta do mundo. Condenado 66,6% das famílias brasileiras ao endividamento e milhões empresas a fecharem suas portas, porquê o governo determinou o fechamento das ruas, mas não garantiu segurança aos empresários e também aos trabalhadores.
A virada da mesa é possível, porquê ela já foi virada muitas vezes… Toda grande potência antes de se tornar o que foi passou por vários perrengues. Só que o Brasil tem uma vantagem, que talvez também seja sua maldição: é o país mais rico do mundo. Existem várias portas de saída… E como sempre relembrado pelo Rubem Gonzalez, na política tudo pode ser pólvora. Soja, pão, trigo, cobalto, urânio, hidrogênio, o que for… A situação russa nos anos 90 era rigorosamente a mesma que a nossa, mesmo tipo de escândalos, arranjos de força contra o país, enfim. Mas aos poucos eles se recuperam do mal causado pelos EUA, por intermédio do FMI e outros, com um projeto de nação. A China se recupera como nunca dos danos causados pela Inglaterra, assim como a Índia e o Irã crescem como nunca. Novamente, o ex-ministro Aldo Rebelo acredita que a defesa de um país se dá por escolha e por destino. Pois escolhas certas garantirão à longo prazo um grande destino. Monteiro Lobato, o escritor nacionalista; Barão do Rio Branco, com sua diplomacia; padre Antônio Vieira, com seu ideário nacionalista; José Bonifácio, o patriarca da independência; Getúlio Vargas, o modernizador; dentre vários outros precisam ser relembrados… É preciso aprender com os erros e acertos e assim recuperar o orgulho de levantar a bandeira do Brasil.
Nossa esperança é Bostanaro! De que ele seja o Yeltsin, que a partir de 1991 governou a Rússia por 2 mandatos incompletos, período que ficou conhecido como ‘os anos de destruição da Rússia’, tendo renunciado na metade de seu 2º mandato. Desde então são 20 longos anos de reconstrução comandada pelo Presidente Vladimir Putin.
Voltando ao Mijo, e a nossa esperança nele, se a História se repete ainda teremos mais 4 anos de desgoverno do Rei do Gado (completa este mandato e governa metade do próximo), para então termos 20 anos de reconstrução pela frente. Ou seja, estaremos beirando 2045 e muitos de nós já teremos morrido sem vermos o Brasil digno novamente. Mas se Bostanaro for o Gorbatchov, que chegou para destruir e dividir (nesse sentido as semelhanças são muitas), passaremos de 2050! e talvez o Brasil digno e altivo seja visto apenas por nossos filhos ou quem sabe nossos netos.
O Rubão sempre fala das “dobras DA História”. Imagine um livro, de História obviamente, ao fechá-lo podemos criar a tal “dobra” NA História, encurtando caminho, passando para a página seguinte sem ter terminado a página anterior, e assim sucessivamente, desde que já conheçamos essa História. Alguém tem dúvida donde o Brasil vai parar?
Meu ponto de vista é, apenas meus filhos e netos tem o direito de ver um país digno e altivo? Ou eu também tenho? E se eu conseguir isso eu terei certeza que eles também terão! Então, encurtando o caminho, a solução que vejo é continuar a saga de meu avô rumo ao Oeste. Ele veio do Leste, no caso a Europa, rumo a Oeste, e no meu ponto de vista, fez uma parada no Brasil. Hoje ninguém tira da minha cabeça que sua parada foi apenas técnica, que sua saga precisa ser completada, que seu gene precisa proliferar pela Ásia, o continente do século XXI.
Aliás, falando nisso, a população pré-americana é descendente dos siberianos, sendo que até cachorros domesticados vieram nessa colonização. A miscigenação étnica brasileira nos presenteou com o sangue pré-americano. Sob esse ponto de vista seria um retorno a origem, ou em busca dela.
É isso que os professores deveriam mostrar aos seus alunos para conhecerem a verdadeira história do Brasil. Hoje o aluno não sabe o que é dever e desconhece o seu direito e aí surge essa sociedade que tudo que é bom tem que vir de fora manipulado pelos meio de comunicaçao.
Muito boa a postagem.