Por Movimento de Solidariedade Íbero-americana.
Após três décadas de paralisações, a usina nuclear Angra 3 deverá ter a sua construção concluída, com a abertura das propostas das empresas interessadas no empreendimento, prevista para junho.
Paralisada desde 2015, devido às repercussões do escândalo revelado pela Operação Lava Jato, Angra 3 é o maior empreendimento de infraestrutura nacional previsto para este ano e tem um custo estimado em R$ 15
bilhões. Um dos problemas a ser enfrentado é o custo da dívida de R$ 9 bilhões em financiamentos contraídos pela operadora Eletronuclear com bancos públicos.
A expectativa é de que a obra esteja concluída em 2026, quando poderá agregar cerca de 1.400 megawatts (MW) à capacidade elétrica instalada no País.
Ao contrário de vários dos seus antecessores, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, tem se mostrado um entusiasta da energia nuclear, ressaltando que o Brasil não tem usinas nucleares em número suficiente
para as suas necessidades, como mostra a atual ameaça de problemas com o abastecimento, devido à seca que tem rebaixado os reservatórios das usinas hidrelétricas do Sudeste e Sul (Click Petróleo e Gás,
18/05/2021 e Eletronuclear, 14/05/2021).
Outro projeto tecnológico da área nuclear que precisa sair do papel com a maior urgência é o Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), projeto incluído na agenda do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) desde 2007, mas enfrenta a via crucis habitual do setor: a falta de recursos.
Com um custo estimado em 500 milhões de dólares, o RMB é um reator de 30 MW destinado a múltiplas finalidades, como a produção de radioisótopos para usos médicos, pesquisas referentes aos usos da energia
nuclear na agricultura, indústria, desenvolvimento de materiais, meio ambiente e outras áreas.
Na área dos radiofármacos, o RMB poderá livrar o país da dependência externa, atualmente, agravada pelas restrições impostas pela pandemia de Covid-19. No Brasil, são realizados anualmente cerca de 2 milhões de
procedimentos com aplicação de radiofármacos, número três vezes menor que os da Argentina e do Chile, com população combinada inferior a um terço da brasileira.
Estima-se que apenas a economia de divisas com as importações desses produtos, ao longo da vida útil do reator (50 anos), justifica o investimento no RMB.
O RMB será construído no Centro Experimentar Aramar da Marinha do
Brasil, em Iperó (SP), onde está sendo desenvolvido o protótipo reator do futuro submarino nuclear brasileiro. O RMB também será utilizado no desenvolvimento e teste de materiais e combustíveis para o submarino nuclear.
O projeto detalhado do RMB, do qual participou a empresa argentina
Invap, está sendo concluído pela Amazônia Azul Tecnologias de Defesa
(Amazul) e a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) (Defesanet,
21/02/2021). O passo seguinte – e o mais difícil – será conseguir os recursos,
num país de dirigentes refratários a tais investimentos.
Em novembro de 2020, em visita ao Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), em São Paulo (SP), Marcos Pontes, o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marcos Pontes, afirmou: “(O RMB tem que sair do papel e se tornar realidade para a sociedade brasileira. Trabalhamos fortemente no MCTI para viabilizar a liberação dos recursos necessários, via Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(Agência Brasil, 17/11/2020).”
Em meio à ameaça de colapso do setor, motivada pelas draconianas restrições orçamentárias impostas pelos tecnocratas fazendários do governo, a tarefa do ministro se afigura incomparavelmente
mais difícil do que o seu treinamento de astronauta. Mas, a bem do futuro do país, precisa ser bem-sucedida.
Publicado em Solidariedade Íbero-americana, n. 12, v. XXVVII, maio de 2021.
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