
Por Edson BB de Jesus, pastor.
Tem aumentado muito o número de episódios de intolerância religiosa: centros de Umbanda sendo apedrejados, pais e mães de santo sendo agredidos e até um certo falso apóstolo se gloriando por ter colocado um câncer num repórter famoso e seu desafeto.
A Bíblia prevê que, por aumentar a iniquidade, o amor de quase todos esfriaria, mas o que estamos presenciando não é exatamente um esfriamento e sim um aquecimento do ódio, o que me impeliu em reescrever o versículo 13, de I Coríntios 13, que antes era: “Agora permanecem a fé, a esperança e o amor. Mas o mais importante é o amor”. Na escrita atual: “Agora, permanecem a fé, a esperança e o amor, mas o que menos importa é o amor”.
Não tenho o direito de ser intolerante. Quando criança, na minha amada Itaboraí , interior do Estado do Rio de Janeiro, éramos muito pobres. Papai era pastor da Assembleia de Deus, analfabeto e com o salário baixíssimo. Vivíamos pela misericórdia de Deus, passando por enormes dificuldades.
Todos os dias, pela manhã, o leiteiro passava, às vezes de bicicleta, às vezes a cavalo, e deixava um litro de leite que seria pago no final do mês. Em algumas ocasiões, quando não vendia todos os litros de leite da ordenha diária, voltava lá em casa e deixava mais aquele litro que havia sobrado, agora por sua conta.
Muitas vezes, no final do mês papai não tinha o dinheiro para quitar a conta do leite, mas o leiteiro, com uma paciência divina, entendia a situação e dava por quitado o mês e continuava a fornecer o leite diariamente. Quando cresci descobri que SIDNEI, o caridoso leiteiro, que morava no Areal, era um “macumbeiro”, dono de uma seara, muito famosa por ser frequentada por políticos influentes, que iam em busca de ajuda para as suas eleições.
Um dia perguntei a papai se ele sabia que o Sidnei era macumbeiro, por que nós bebíamos o leite do macumbeiro e já que era macumbeiro, por que era tão bom com a gente? Papai respirou fundo, olhou para o além e com lágrimas nos olhos passou a me responder:
“Meu filho, primeiro o Sidnei não é um macumbeiro. Ele é gente como a gente e tão imagem e semelhança de Deus como nós somos. Segundo, as vaquinhas que o Sidnei cria não tem nada a ver com a religião que ele professa e em terceiro, é o amor de Deus que faz com que Sidnei seja tão bom para nós”.
Cresci e nunca esqueci que fui alimentado por uma pessoa boa, que tinha o amor de Deus no coração e que professava uma religião de raízes africanas.
Por isso declaro: não tenho o direito de ser intolerante. É o amor que mexe minha cabeça e me faz assim.