Por Antonio Risério.
Diante do meu novo livro, “As Sinhás Pretas da Bahia: suas escravas, suas joias”, a militância identitária racialista neonegra, além de exigir seu cancelamento, parte para o mais franco e total negacionismo.
Mostro em meu livro que os africanos, que eram escravistas em suas terras de origem muito antes de qualquer contato com europeus, não deixaram de ser escravistas durante a travessia atlântica. Continuaram escravistas do lado de cá do oceano. Mesmo quando ainda eram escravos, negros tratavam de comprar escravos para si, a exemplo de Francisco Nazareth (casado com a ialorixá Maria Júlia Conceição, criadora do candomblé do Gantois – e seu parceiro na implantação do dito terreiro). Nazareth foi escravo de um escravo e comprou seu primeiro escravo quando ainda era escravo.
Mostro – em base histórica e sócio-antropológica – a formação de uma elite socioeconômica negra na Bahia setecentista/oitocentista. São pretos e pretas (especialmente, estas) que conseguiram ganhar dinheiro, comprar sua carta de alforria ou liberdade e se tornaram ricas o suficiente para investir – comprando, de preferência, escravos, imóveis e joias. Essas negras – de Iyá Nassô (criadora do célebre terreiro da Barroquinha) a Otampê Ojaró (princesa nagô, neta do rei Akebioru, criadora do terreiro do Alaketu), passando por Marcelina Obatossí (ex-escrava de Iyá Nassô que comprou por um preço altíssimo sua alforria na mão da ialorixá e depois se tornou a primeira mãe de santo do terreiro da Casa Branca) -, com sua escravaria e suas joias, responsabilizaram-se por uma realização cultural de altíssima importância, que foi a criação e implantação do candomblé jeje-nagô do Brasil.
O negacionismo identitário acha abominável a ideia de negros vitoriosos – só quer saber de derrotados e torturados, massacrados. Saber de uma elite negra escravista desorganiza tudo na cabecinha estreita deles. Logo, a saída: afirmam agora, categoricamente, que não existiram sinhás pretas no Brasil. Bem, para sustentar uma fantasia negacionista dessas, terão de incendiar toda a documentação existente nos arquivos públicos da Bahia, de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. Incinerar todos os registros da época, em diversos livros e documentos. E uma pilha de teses e livros de historiadores e antropólogos brasileiros e estrangeiros, de Sheila de Castro Faria a Mary del Priore, passando pela dupla formada por Lisa Earl Castillo e Nicolau Parés, entre muitíssimos outros estudiosos do assunto.
No meu livro “As Sinhás Pretas da Bahia: suas escravas, suas joias” está tudo detalhadamente documentado e analisado. Mas o negacionismo identitário (siamês, nisso, do negacionismo bolsonarista) não quer saber disso. Prefere fazer decretos para si mesmo – e dar as costas à realidade, quando não estão empenhados em falsificá-la. É isso.
“Miscigenação também é genocídio” Com certeza. Hitler tinha razão.
Alguém duvida que seriam mesmo capazes de incendiar e incinerar os documentos históricos ? que o digam as estátuas já vandalizadas Brasil afora.
Esse documentos provavelmente já estão tudo digitalizados.
Esses documentos provavelmente já estão todos digitalizados.