
Por Rodrigo Wentzel Vieira de Mattos.
O motivo de eu dizer claramente que o Fascismo morreu e que o Comunismo subsiste apenas enquanto retórica é porque recuso-me servir como massa de manobra para oligarcas e grupos de atores internacionais que apostam na divisão social recorrendo a representações vazias e nominalistas, cujo objeto difere em realidade da representação.
A esquerda joga a população no colo do “Fascismo” (in abstracto, pois a palavra correta é Liberalismo Austríaco ou Neoliberalismo) ao atribuir aspectos da cultura ao “Fascismo”, enquanto a mesma – tomada por ódio, fúria e ira em seus desejos – passa a ansiar cegamente por Neoliberalismo que, por sua vez, é a concretude daquilo que nos aprisiona, e não o “Fascismo”.
É uma engenharia social muito sofisticada que cerca o Brasil, e nos tolhe o direito de autodeterminação. Dessa forma, a esquerda defende programas de bem-estar social e desenvolvimento; a direita, de conservação de “valores e da cultura nacional” (in potentia, sem concretude, sem sair da retórica). Mas como as massas estão movidas por pautas anti-“comunistas” ou anti-“fascistas”, mesmo que apenas no plano da representação, ficamos com a entrega e a desconstrução do patrimônio financeiro, material e imaterial nacional, portanto, fazemos o jogo dessa elite globalista que alcança a sua finalidade política, implementando a sua guerra híbrida que culmina no domínio absoluto dos nossos corpos; nossos desejos; nossa defesa; nossa estratégia; nossa riqueza; nossas indústrias; nossas finanças; nossa moeda; nosso território; nossa liberdade; nosso direito de existência; nosso direito à autodeterminação; nosso direito à proliferação da cultura, valores, afetos, modo de vida autenticamente nacionais; nossas mídias; nossas leis; e, nossa independência.
Assim, a esquerda rejeitou Jânio Quadros, Enéas Carneiro, Getúlio Vargas e Ernesto Geisel (anti-“fascismo”) e a direita rejeitou Ciro Gomes, Jango e Leonel Brizola (anti-“comunismo”). O pior de tudo isso: as propostas para o país que todos eles propuseram são proporcionalmente rejeitadas, em sua totalidade, por esse ressentimento (tanto à esquerda, quanto à direita, impedindo a justa defesa da autodeterminação dos povos, do desenvolvimento e da soberania nacional contra o Pensamento Único (Globalização).
A pretexto de lutarem contra o “Fascismo” ou contra o “Comunismo”, que, há muito, não possuem adeptos significativos no mundo inteiro, ocultam a verdadeira ameaça: o Neoliberalismo e ONGs que visam abrir “mercados”, criar consumidores (inclusive com suas pautas mirabolantes) e abrir fronteiras e contam, para isso, com o ativismo judicial. Sob o pretexto de lutarem contra a erotização das crianças (que existe, mas por outros motivos que não o comunismo), o aborto, eutanásia, as intervenções do Estado na autonomia interna da Igreja, cria-se o anti-“comunismo”; sob o pretexto de lutarem contra o crime de homofobia, e o “controle da Igreja sobre o Estado” (isso nunca existiu no Brasil, que nunca adotou o modelo cesaropapista de sobredeterminação do poder religioso, mas, sim, uma preponderância do poder temporal sobre o religioso, como mostram o art 102, II, XIV da Constituição de 1824), cria-se o anti-“fascismo” e, para isso, não importa o fato de o Fascismo real ter-se colocado contra o controle moral da Igreja sobre o Estado Corporativista e tanto o Comunismo quanto o Fascismo serem anticristãos, ainda que por motivos e graus diferentes.
O Fascismo real não é apenas ódio, mas um projeto político estruturado, datado e regionalizado com pretensões de expansão. O Comunismo de Marx não era mera destruição, mas um projeto político com uma teleologia voltada contra as grandes firmas internacionais que dominavam (e ainda dominam) o mundo por meio da contradição de classes sociais (não gênero ou coisa do tipo). Acontece que pensadores como Michael Foucault e Hebert Marcuse (para ficarmos em alguns exemplos) retiraram o conceito de Fascismo do seu contexto histórico, geográfico e filosófico, e começaram a falar de um “Fascismo” em sentido amplo e associados a estruturas do desejo. Não tardou em ser adaptado o discurso pela elite global para utilizar-se dele contra as fronteiras e Estados Nacionais que não subordinam-se aos seus desígnios (Rússia e Irã, por exemplo).
Dessa forma, começaram a usar do mesmo discurso retórico para falar de um “comunismo global”. O comunismo não é a “erotização da sociedade” ou teoria queer da Judith Butler (vulgo, “ideologia de gênero”) ou o trans-humanismo da Donna Haraway. O anticomunismo da Guerra Fria era pautado no socialismo real, geográfico, histórico e filosófico; o atual pauta-se em um delírio coletivo insuflado por pessoas como Olavo de Carvalho, que passou a associar teoria queer, teoria da esquizoanálise e teoria da sexualidade ao comunismo histórico, por meio de artifícios retóricos baseados em corolários só existentes em seu delírio que, acredito, são calculadamente forjados, pois sua cabeça é brilhante e lúcida.
Estas pautas misturadas, na verdade, começaram a surgir separadamente, ainda, como embrião, em pensadores da esquerda pós-1968 como Michael Foucault, Gilles Deleuze, Felix Guattari, Simone de Beauvoir e Herbert Marcuse (para ficarmos nos mais conhecidos), que nada mais fizeram do que elaborar suas teorias (passíveis de discordância) acerca da teoria freudiana da libido, Eros, Tânatos, totens, tabu, Édipo e de um movimento que surgiu naquela época representado pelo Maio de 68, ainda que em diálogo com alguns marxistas como Jean-Paul Sartre, Louis Althusser, Antonio Gramsci e Georg Lukács (que nunca escreveram uma página sobre estes temas de sexualidade, embora o Sartre tenha assinado o manifesto para redução da idade consensual para o sexo junto com Foucaultiana, Derrida, Simone e outros).
Pensadores, estes, que não concordam totalmente entre si. Mas o que importa aqui é que eles não foram criadores de “revolução cultural” nenhuma, apenas passaram a se debruçar no estudo do período. Verdade é, pois, que o sistema financeiro percebeu a fraqueza de sustentação ideológica destes movimentos anárquicos de 68, mas que continha a capacidade de mover sentimentos como ocorreu na Guerra do Vietnã – vencida militarmente pelos os EUA, mas perdida moralmente – e passaram, a partir de 2011, a fabricar essas manifestações no Oriente Médio, que ficaram conhecidas como “Revoluções Coloridas” visando a derrubada do nacionalismo árabe e a realização de mudanças de regime, por meio de guerras de procuração (proxy war, no caso de haver unidade política) ou guerra moral (em democracias).
Enfim, tudo isso é retirado dos seus contextos, é feito uma manipulação de elementos e, assim, uns jogam contra os outros seus fantasmas e medos fictícios, surgindo a mobilização de sentimentalismo anti-isso, anti-aquilo.
Obs: Sobre a teoria queer eu me reservo ao direito de não falar, pois nada conheço profundamente. Nem da sua história, tampouco suas teses. Embora eu tenha falado apenas de história e não tenha feito críticas a nenhuma tese por motivo de foco, é bom esclarecer.
Bom dia, muito interessante o artigo. A respeito da esquizoanalise ela não é propriamente uma teoria, mais uma pratica, e ela não é anti em nada, pelo menos não no sentido de contradição. A esquizoanalise é uma pratica de superação do contraditório como tese, trazendo para seu lugar o que na modernidade se convencionou tratar como antitese.
Mas enfim, muito da teoria é desfigurado quando observado só pelo prisma do materialismo histórico (o que as correntes modernas e pós modernas tão bem fazem), tanto para o bem, quanto para o mau, mas em sintese sempre apontando para uma moralidade que tira do cidadão sua liberdade plena, pois o coloca numa posição de limitação que de forma concreta é uma quimera, uma abstração em que o próprio Individuo é suprimido.