As manifestações convocadas por Jair Bolsonaro no 7 de setembro tiveram por uma das bases fundamentais os caminhoneiros. Na noite do dia 7 para o dia 8, depois do discurso inflamado do presidente, observamos o fechamento de estradas em diversos estados do país, assim como viralizou – quem não lembra? – um vídeo de caminhoneiros, em uma praça de pedágios, chorando de emoção por (mais uma) notícia falsa, que circulava no momento, de que Bolsonaro tinha decretado Estado de Sítio.
De fato ele não tinha mesmo feito nenhuma menção a isso, mas, diante de uma multidão em Brasília, em uma manhã ensolarada, avisou que convocaria o Conselho da República para discutir a respeito da crise com o Judiciário. No fundo, nada mais foi do que o prenúncio de mais uma “fraquejada”, desta vez grave, em que teve que pedir desculpas ao Ministro Alexandre Moraes por intermédio do ex-presidente Michel Temer – o mesmo que indicou quatro atrás Moraes ao STF.
Alguns dizem que Bolsonaro ligou para Temer no desespero, às lágrimas, temendo pela possível prisão do filho Carlos, assim como o próprio presidente admitiu que chora de noite frequentemente desde quando assumiu o cargo máximo da República. De concreto, o que vimos foi o festival de risadas de Temer e seus amigos patrícios sírio-libaneses de prestígio (João Saad, Gilberto Kassab, dentre outros) diante da imitação de um humorista, ridicularizando o presidente, que sentava com eles em, possivelmente, em um restaurante de luxo em São Paulo.
Assim, vendo-se abandonados pelos palacianos, os caminhoneiros ensaiam uma nova greve para o início de novembro, pleiteando o reajuste no valor do frete e o a diminuição do preço do diesel. Na verdade, trata-se do único esboço de reação de algum segmento organizado da sociedade contra a política de preços da Petrobras, diante de um governo paralisado e de uma oposição que gasta sua energia na discussão de migalhas, marcando ridículas posições – para não falar do total engessamento dos sindicatos.
Até mesmo porque são os caminhoneiros que veem as filas e, muitas vezes, distribuem os restos de ossos de frango e de boi que alimentam aqueles que, diante da inflação de alimentos, tem que correr atrás de sobras de proteínas, assim como sobras de arroz e feijão, enquanto o não-governo de Bolsonaro – para usar a expressão de Felipe Quintas – é conivente com os lucros recordes dolarizados dos acionistas da Petrobras e do esvaziamento deliberado dos estoques internos de alimentos. Dessa forma nem o significativo saldo comercial do setor agro contribui para a redução do dólar, graças à política do Banco Central de permitir contas em dólar.