Por João Mulato
O telejornal mais visto da televisão brasileira surpreendeu um total de zero pessoas neste sábado (29/01) ao exibir matéria que visava “explicar” os obscenos aumentos do preço do litro da gasolina no país, que parecem não acabar nunca. Conforme a própria matéria (que pode ser assistida aqui), em cinco estados, o preço médio do combustível já supera a casa dos R$7, sendo que em Angra do Reis-RJ já há postos em que esse valor atinge R$8.
Como de praxe, o Jornal Nacional não hesitou em lançar uso de uma técnica de manipulação bastante manjada: a de entrevistar “especialistas” supostamente neutros que vão dizer exatamente o que os donos da Globo desejam.
A técnica, porém, tornou-se ainda mais sofisticada recentemente com a aplicação do axioma identitário da “representividade”, que faz com que em boa parte das vezes os especialistas sejam de alguma minoria identitária (na matéria em questão, as entrevistadas eram mulheres). Um óbvio reflexo da doutrina “PSOL nos costumes, Partido Novo na economia” adotada por toda a grande mídia brasileira no último biênio.
A primeira das especialistas ouvidas pelo repórter do Jornal Nacional ousou dizer que o aumento da gasolina é resultado do acirramento das tensões entre Rússia e Ucrânia (?!) enquanto a segunda defendeu que o aumento deveria ser feito de maneira parcelada ao longo do tempo e não tudo de uma vez – uma declaração que soou como dizer “ao invés de enfiar com força, passe uma vaselina antes”.
Nos três minutos da matéria, não ouvimos a sigla “PPI” ser mencionada uma única vez. Nada também da informação de que a Petrobras é uma empresa sob controle da Presidência da República, que, se quisesse, poderia fazer o preço da gasolina diminuir com apenas um decreto.
Naturalmente, nós sabemos o porquê dessa omissão: os donos da Globo lucram com a política do PPI (Preço de Paridade de Importação), adotada por Michel Temer, mantida pelo atual governo e considerada a responsável pelos aumentos escabrosos na gasolina. Isso porque essa política faz com que a Petrobras pratique preços de acordo com a demanda internacional e não segundo as necessidades do Brasil, mesmo que isso destrua a economia nacional e torne um inferno a vida de milhões de famílias brasileiras.
Vale lembrar que a Petrobras, assim como outras estatais, é “semiprivatizada”, com boa parte de suas ações estando nas mãos de fundos financeiros transnacionais. Das suas ações ordinárias (que dão direito a voto na Assembleia Geral), a União detém 50,5% , fato que garante o controle efetivo da empresa. Entretanto, quando olhamos para as “ações preferenciais” – que não dão direito a voto, mas oferecem preferência na distribuição dos lucros e dividendos – o governo brasileiro possui apenas 18,48%, enquanto quase a metade (44,8%) está nas mãos de financistas como os donos da Globo, Bradesco e BlackRock.
É por tudo isso que de 2021 para cá a Petrobras subiu 12 vezes o preço da gasolina (um aumento real total de 77%) e que em agosto passado a empresa repassou mais de R$31 bilhões a seus acionistas, o maior montante já pago nessa rubrica em toda sua história.
Não podemos jamais deixar de esquecer que enquanto testemunhamos toda essa riqueza oriunda do nosso petróleo ser transferida para as mãos de financistas, a taxa de desemprego do Brasil continua altíssima (11,9%), os trabalhos precários não param de crescer , a inflação galopante segue corroendo o poder de compra dos brasileiros e a renda média salarial no país atinge seu menor nível em 10 anos.
Situação essa que apenas comprova que, a despeito do belo discurso da promoção do “antirracismo”, do “empoderamento feminino” e da “visibilidade trans” em programas como Big Brother, a Globo é cúmplice do sequestro da Petrobras pelas finanças transnacionais e do atual patamar criminoso dos preços da gasolina a que todos estamos assistindo e sentindo na pele.