
Do “Hoje no Mundo da NATO”
O tão lembrado e já extinto SNI, apesar de ter exercido grandes esforços de inteligência para conter opositores dos governos militares, conseguiu identificar por muitas vezes atividades de espionagem intensas no Brasil, principalmente por parte de americanos, israelenses, e franceses. Para a história em questão, deve-se manter foco especificamente nos interesses estrangeiros em relação ao CTA (Centro Técnico Aeroespacial) e a todo o complexo aeroespacial de São José dos Campos.
Não somente no Brasil, a infiltração de agentes da CIA ocorria muitas vezes por meio de qualquer tipo de representação oficial americana, como era o caso de John James Gilbride Jr., uma espécie de auxiliar do Consul estadunidense no Rio de Janeiro.
Estranhamente, aquele referido como John apresentava um interesse no mínimo suspeito em manter contato e, por vezes, apresentar propostas de trabalho a inúmeros engenheiros e cientistas do CTA. O governo era ciente de seu propósito, mas permaneceu em silêncio no intuito de evitar uma crise que partisse do Itamaraty. Ainda naquela época, a polícia do Estado de São Paulo identificou gravadores em postes no vale do Paraíba, provavelmente colocados para grampear chamadas relacionadas ao setor aeroespacial Brasileiro.
A morte de Albano: em meio a todo o contexto mencionado anteriormente, repleto de indícios de espionagem que se fez entre 1970 e 1990, o Brasil investia em seu programa nuclear para fins militares em uma parceria com o Iraque. Pelo que se entende de reportagens e documentos, o Iraque seria mais responsável como uma espécie de sócio principal do desenvolvimento. Em troca, o Brasil compartilharia dados de tecnologia obtidos ao longo do processo.
Aquele que gerenciava o projeto era sim ele, José Alberto Albano do Amarante, um engenheiro elétrico da FAB formado pelo ITA, um dos pioneiros da pesquisa nuclear na América do Sul. O grande foco do momento (entre 1977 e 81), era o enriquecimento de urânio por meio de laser, algo teoricamente mais rápido e prático que a velha conhecida centrífuga.
A partir de 1979, um cidadão israelense nascido na Polônia conhecido como Samuel Giliad, assumiu o posto de gerente do Hotel Eldorado, o mais reconhecido de São José dos Campos naqueles tempos, inclusive por grandes empresários industriais e militares brasileiros.

Samuel, sempre muito gentil e solidário com todos, fazia questão de abrir espaço na infraestrutura do hotel para que importantes reuniões empresariais acontecessem; grandes contratos foram firmados ali, sempre com grande participação do gerente que fazia questão de ouvir o máximo de detalhes que pudesse, ao mesmo tempo que amava hospedar representantes de tais classes, incluindo militares que vinham a trabalho para a cidade. Rolavam boatos de escutas instaladas nos quartos, mas nada comprovado.
Nessa mesma época, o israelense demonstrava enorme interesse em construir algum tipo de relação com Albano, de forma que, por inúmeras vezes tentou se aproximar desse, que sempre se mostrou contrário a tal gesto. Tendo suas investidas negadas, o chefe do hotel não parou por aí; marcava consultas em médicos e dentistas, os mesmos que atendiam Albano. O mais curioso é que os horários marcados eram sempre aqueles que seguiam imediatamente após o atendimento do oficial da FAB. Assim, durante as consultas, fazia perguntas como: “O que a FAB está construindo no Pará? Sei que será uma grande estrutura aeroportuária, mas… Pra quê isso sendo que já existem equivalentes em Manaus e Belém?”. O conhecimento de Samuel sobre projetos das FFAA era algo impressionante, para não dizer absurdo. Os profissionais de saúde relataram tal ocorrido a Albano, que ficou mais intrigado do que já estava.
Os primeiros experimentos nucleares do Brasil iriam ocorrer justamente no Pará, em Cachimbo. Uma vez que Albano se fez ciente, provavelmente denunciou imediatamente para o setor de inteligência da FAB, mas, de qualquer forma, é fato que a força passou a vigiar Samuel de perto e rapidamente descobriu-se que ele tinha 5 passaportes e realmente tinha implantado escutas nos quartos do hotel. Durante a estadia do israelense no país, a imprensa alarmou em todo o mundo que o Brasil desenvolvia um programa nuclear e enviava urânio ao Iraque; as notícias tinham, também, uma riqueza absurda de detalhes, em tese confidenciais.
Naquele período, já em meados de 1980, Albano dizia constantemente, de acordo com a família, que estava sendo perseguido pela CIA e pelo Mossad. Já em 1981, o Tenente-Coronel passa a se sentir mal; rapidamente diagnosticado com uma leucemia extremamente agressiva. Faleceu em 10 dias. No jornal da cidade, Samuel anunciou que queria um acompanhante para viajar até a Argentina, o que já alertou o comando que esse planejava sair de cena. A vigilância cresceu ainda mais, Samuel percebeu. Foi monitorado até o ponto que saiu do município de São José dos Campos, quando desapareceu e nunca mais foi visto.
Levantou-se uma enorme suspeita de que Albano teria sido contaminado por ingestão de material radioativo de maneira proposital. A família afirma que o militar foi assassinado. Nos meses seguintes, sua sepultura foi violada algumas vezes; o autor é desconhecido.
A autoria do ataque ao complexo de Tamuz, no Iraque, já havia sido reclamada por Israel.

Estou com 41 anos e só agora soube desse fato. Nossa inteligência da época deveria pegar e interrogar Samuel, uma falha imperdoável.