
Afinal de contas o que esse povo aglomerado nas ruas, especialistas bissextos em política e geopolítica desejam de verdade? Qual a força que os encaminha? Será que existe realmente alguém por trás disso tudo ou é apenas uma sensação de desamparo criado pelo vácuo de verdadeiros líderes políticos que parecem não existir mais? Afinal, o que procuram?
Eles procuram no mundo real um ser mítico, que obviamente não existe, um vingador ilibado, casto, puro e sem nenhum interesse além, é claro, de fazer prosperar a “tradição, família e propriedade” e os valores da direita, que aliás são os únicos valores justos sobre a terra.
É esse o vingador com a estrela de Davi tatuada no peito, usando como manto uma capa com a bandeira dos Estados Unidos, fruto da impregnação ideológica de décadas de filmes de terceira de Hollywood e ultimamente da overdose provocada pela Netflix, o alter ego de cada manifestante.
Esse ser mítico que habita o inconsciente coletivo dos bolsonaristas brasileiros fará o papel histórico do fantasma de Dom Sebastião, que alimentou com ilusões o povo português no século XVI e teve eco no movimento de Canudos do místico Antônio Conselheiro três séculos depois, um movimento delirante que atravessa os séculos e se repete hoje de forma quase farsesca.
Assim como o fantasma de Dom Sebastião, esse herói vingador saído dos quartéis, pilotando tanques imaginários e movimentando fictícias tropas para esmagar o STF malvadão e os esquerdistas ladrões, lamentavelmente ou ainda bem, só habita as mentes estreitas dessa gente.
Quando o tempo passar e descobrirem que nem o fantasma de Dom Sebastião e tampouco o anjo vingador do Norte, representante da moral “judaico – cristã” sempre foi um delírio de uma catarse coletiva ou de uma hipnose grupal criada e alimentada pela falta de verdadeiros vultos nacionalistas, tão em voga outrora.
Inclusive o próprio termo “judaico – cristão” não passa de uma aleivosia. Nunca tivemos essa cultura na nossa sociedade, porque simplesmente ela é antagônica pela raiz. O que temos é uma mixórdia, uma bagunça de ideias criadas por um cidadão chamado Olavo de Carvalho que é o profeta de boa parte dessa gente.
Em pouco tempo todos serão frustrados, voltarão a ser apenas negadores da política, ao invés de se aprofundar nela, e enxergar que mudanças estruturais não passam por milagres e sim por mudanças de comportamento; que é um trabalho duro de conscientização e que grandes conhecedores políticos e geopolíticos não dão em árvores ou caem do céu.
Se ao menos se dessem o trabalho de pensar chegariam à conclusão que a chance de achar um salvador ao acaso é a mesma de achar a cura de graves enfermidades ou males que assolam a humanidade de forma fortuita, ao acaso, sem nenhum tipo de trabalho ou dedicação da nossa parte, apenas por sorte ou pela providência divina promovida pela etérea fé.
É por isso que as mudanças estruturais são tão difíceis e tão combatidas, quase todos os povos nesse momento se apegam a falsos profetas e o resultado nós temos visto pelo planeta afora através dos séculos, movimentos totalitários liderados por psicopatas acabam fazendo um mal bem maior ao próprio povo que desejava um milagre e acaba precipitando sua ruína.
A hora é de arregaçar as mangas, fazer a análise de avarias, fazer um plano de prevenção de danos, reparar o sistema exigir mudanças de base e partir para um projeto sólido e consciente.
Mas nada disso será feito sem um processo de reestruturação política e geopolítica com um mínimo de qualidade e honestidade, não podemos nunca mais cair num modelo de educação de introdução do homem como insatisfeito ao extrato político por cidadãos como Olavo de Carvalho e seus seguidores mais próximos.
Foto: Bruno Santos/Folhapress.