Do Movimento de Solidariedade Ibero-americana.
As declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em suas visitas de Estado a Pequim
e Abu Dhabi, sobre a natureza do conflito Rússia-Ucrânia, além da visita do chanceler russo
Sergei Lavrov a Brasília, provocaram uma grande contrariedade em Washington e Bruxelas,
devidamente refletida nos posicionamentos dos setores das elites dirigentes brasileiras
geralmente alinhados com o eixo euroatlântico.
A irritação das capitais do “Ocidente coletivo” tem dupla motivação. Primeiro, o fato de Lula
ter praticamente equiparado em responsabilidade pelo conflito a Rússia, a Ucrânia, os EUA
e a União Europeia (UE). Segundo, pela reversão de um aparente posicionamento brasileiro
contra a Rússia, manifestado no comunicado conjunto da reunião de Lula com o
estadunidense Joe Biden, na votação contra o país na Assembleia Geral das Nações
Unidas e na aceitação tácita do esdrúxulo mandado de prisão expedido pelo Tribunal Penal
Internacional contra o presidente Vladimir Putin. Um alinhamento esperado e cobrado como
retribuição ao forte apoio estadunidense e europeu à eleição de Lula.
Tal posição foi colocada de forma insultuosa pelo porta-voz do Conselho de Segurança
Nacional dos EUA, John Kirby, ao afirmar que Lula estava “papagaiando a propaganda
russa e chinesa (BBC News, 18/04/2023)”.
Já o porta-voz da EU, Peter Stano, lembrou o voto do Brasil na ONU, condenando a
agressão russa e exortando Moscou a retirar-se de todo o território da Ucrânia.
Um editorial do “Estadão” de 18 de abril traduziu o desconforto dos pró-atlanticistas
internos: “Na viagem à China, Lula se destacou por sinalizar o alinhamento do Brasil a uma
ordem internacional baseada no autoritarismo e na força em oposição a uma ordem
baseada no direito internacional e na valorização dos direitos humanos, do pluralismo
político e das liberdades civis (grifos nossos)”.
A barragem de artilharia pesada parece ter surtido efeito, pois, no mesmo dia, falando após
a recepção ao presidente da Romênia, Klaus Iohannis, o mandatário brasileiro tratou de
contemporizar, justificando: “Ao mesmo tempo em que meu governo condena a violação da
integridade territorial da Ucrânia, defendemos uma solução política negociada para o
conflito (“O Estado de S. Paulo”, 18/04/2023).”
Não obstante, em outra vertente, o eixo anglo-americano pode regozijar-se do alinhamento
integral e incondicional de Lula em área de seu interesse estratégico, a agenda
ambientalista-indigenista, posicionamento que tende a reforçar o já restrito exercício da
soberania brasileira sobre a vital região amazônica. De fato, desde a sua campanha
presidencial, Lula tem ressaltado repetidamente o seu comprometimento com a
controvertida pauta do “desmatamento zero”, explicitado com a nomeação de Marina Silva
como uma virtual plenipotenciária no renomeado Ministério do Meio Ambiente e Mudança
do Clima (MMA), e cujos vínculos com a estrutura do aparato ambientalista-indigenista
internacional são notórios. Igualmente, Lula & Cia. não ocultam a intenção de atrair
investimentos e recursos a fundo perdido estrangeiros para o financiamento das políticas
ambiental e indígena, velho vício brasileiro desde o início da ofensiva “verde-indígena”
contra o País, no final da década de 1980.
Uma evidência dessa intromissão “convidada” foi a recente reunião da embaixadora dos
EUA em Brasília, Elisabeth Bagley, com representantes da Coordenação das Organizações
Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), na qual anunciou o apoio ao trabalho “pelos
direitos e autonomia (sic) dos povos indígenas na região amazônica”. Como parte desse
apoio, a embaixada está oferecendo 240 vagas para um curso gratuito de inglês a
“afrobrasileiros e indígenas”.
Bagley não é uma diplomata qualquer. É empresária (sócia da empresa de telefonia Celular
One, que opera no Arizona e no Novo México), mas com mais de 30 anos de atuação no
Instituto Nacional Democrata para Assuntos Internacionais (NDI), um dos órgãos
integrantes da Fundação Nacional para a Democracia (NED), criada em 1983 para “ajudar a
reforçar instituições democráticas em todo o mundo”.
Na prática, a NED funciona como uma fachada “legal” para um esporte favorito
do Establishment estadunidense, antes prerrogativa da CIA: intervenções na política interna
de países-alvo da agenda hegemônica de Washington.
A NED representa uma interface suprapartidária entre o Congresso, representado pelo NDI
e o Instituto Republicano Internacional (IRI), e o governo, pelo Departamento de Estado, do
qual provém a maior parte do seu orçamento (US$ 180 milhões em 2019), vinculado ao da
Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), que também
funciona com frequência como fachada para atividades da CIA.
Além disso, já integrou o ultra-seleto Conselho de Relações Exteriores (CFR) de Nova York
e, com seu falecido marido, Smith Bagley (um dos herdeiros da R.J. Reynolds Tobacco
Company), foi uma das maiores financiadoras das campanhas presidenciais de Bill Clinton,
Hillary Clinton, Barack Obama e Joe Biden, sendo ainda uma das principais arrecadadoras
de fundos do Partido Democrata.
Aos 70 anos, não é provável que tenha retornado “à ativa” apenas pelo prêmio de uma
embaixada de certo peso, como é praxe em Washington entre os grandes contribuintes das
campanhas presidenciais vencedoras (ela mesma já foi embaixadora em Portugal, na
década de 1990). Tanto seu currículo como a sua proximidade com a subsecretária de
Estado para Assuntos Políticos, Victoria Nuland, além de suas ações iniciais, sugerem que
tenha sido “convocada” para uma missão especial no Brasil, país que tem se revelado
problemático para a agenda estadunidense, desde que efetuou uma guinada diplomática
para reaproximar-se da Rússia, em 2021.
Na mesma linha, veio ao Brasil o secretário para Territórios Ultramarinos, Comunidade
Britânica, Energia, Clima e Meio Ambiente do Reino Unido (o antigo Ministério das
Colônias), Zac Goldsmith, que, na companhia da embaixadora em Brasília, Stephanie Al-
Qaq, reuniu-se com a direção da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), para
tratar do apoio britânico a ações direcionadas aos direitos indígenas, como a demarcação
de terras e projetos de sustentabilidade.
“Nossas políticas e prioridades estão alinhadas. Agora só temos que fazer isso dar certo e
trabalhar em conjunto”, afirmou ele (Funai, 18/04/2023).
Goldsmith é um alto operativo do aparato ambientalista-indigenista internacional, cuja
família é historicamente vinculada ao planejamento e financiamento da agenda “verde-
indígena”, além de ligado pelo casamento à notória família Rothschild, que atua discreta
mas firmemente nos bastidores da agenda. Seu pai, o bilionário investidor James Goldsmith, foi um ativo financiador da preparação e consolidação do ambientalismo-
indigenismo como instrumento de intervenção política em países em desenvolvimento,
visando a “preservá-los” como reservas de recursos naturais para usufruto futuro das
potências industrializadas do Hemisfério Norte, o objetivo real dessa nefasta ideologia.
O tio de Zac, Edward Goldsmith, foi fundador da revista “The Ecologist”, um dos primeiros
canais de divulgação da ideologia “verde”, copatrocinada por James Goldsmith e Victor
Rothschild, outro importante operativo do aparato. Zac Goldsmith foi editor da revista entre
1997 e 2006.
James Goldsmith foi também um dos principais financiadores da notória ONG britânica
Survival International (SI), fundada em 1969, com o objetivo explícito de implementar a
criação de uma gigantesca reserva transfronteiriça para os indígenas ianomâmis do Brasil e
da Venezuela, objetivo logrado na década de 1990. A SI continua sendo uma das principais
caixas de ressonância e propaganda da agenda indigenista internacional, inclusive, contra o
Brasil.
Ademais, a repartição de Zac Goldsmith tem um histórico de apoio a entidades que atuam
como quintas-colunas daquele aparato de “governo mundial”, a exemplo do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Brasil.