
A coroação do Rei Carlos III, ocorrida no sábado, dia 06 de maio, foi a oportunidade para o outrora príncipe impopular ganhar a bajulação cerimonial de autoridades do mundo todo. Estranhamente, a data da coroação do rei sucedeu vários meses desde a morte da Rainha Elizabeth II, ocorrida em setembro do ano passado.
O presidente Lula não deixou de se fazer presente, junto com a primeira dama Janja da Silva, que, por sua vez, buscou roubar espaço das atenções. No dia anterior, Lula esteve com o primeiro ministro Sunak, que prometeu contribuir com R$ 500 milhões para o Fundo Amazônia.

O tema amazônico realmente roubou a pauta dos temas tratados pelo líder brasileiro com o primeiro ministro e o rei recém-coroado. Lula disse que a primeira coisa que o rei lhe relatou foi para que “cuidasse da Amazônia”. O que não é de se espantar, tendo em vista que a Casa de Windsor é uma das grandes financiadoras da causa ambiental, que inclui organizações como a WWF e o Greenpeace.
Assim, como não poderia deixar de ser, a ministra Marina Silva usou o twitter para tecer elogios à figura do monarca, que chegou ao local da coroação, a Abadia de Westminister, em uma carruagem banhada a ouro, construída em meados do século XVIII, com, provavelmente, ouro extraído de Minas Gerais.

Alguns, por outro lado, argumentam que a ascensão ao trono de um “rei ambientalista” – talvez desconhecendo o papel histórico da Casa de Windsor na causa ambientalista – seria uma grande virtude do monarca, simbolizando o papel “tradicional” que seu reinado vai assumir, colocando a preservação do meio ambiente como meta. Talvez não saibam, também, que a Coroa Britânica exerce direito de propriedade sobre a plataforma continental da ilha, recebendo milhões de libras anualmente pelos projetos de energia eólica, já que uma lei de 1964 transformou a plataforma continental britânica em propriedade da Coroa. Os ganhos com esses projetos cresceram bastante desde 2020, graças à transição energética com “energias limpas”, ainda que com preços maiores para os consumidores britânicos.
Em entrevista à revista eletrônica Wired, o professor Guy Standing, da Escola de Estudos Orientais e Africanos de Londres, disse que o Crown State (o fundo que gere o patrimônio da Coroa) está transformando o leito do mar em grande fonte de renda, na casa dos bilhões, conforme gráfico abaixo:

Poderíamos citar outros fatos que não contribuem para a imagem do rei, tal como a amizade dele com o pedófilo, abusador de crianças e apresentador de programas da BBC Jimmy Saville e do caso de seu irmão Andrew, bastante envolvido com a rede de abusadores sexuais de Jeffrey Epstein. Sem falar na impopularidade ganhada desde a morte da Princesa Diana. Mas significativo é uma frase de seu falecido pai, o Princípe Consorte Phillip, que disse que após a morte, gostaria de reencarnar como um vírus mortal para lidar com o “problema da superpopulação no mundo”.
Talvez na Família Real britânica possa se observar melhor a ligação do maltusianismo (a doutrina que prega que a população tende sempre a crescer mais rápido do que os meios para sustentá-la) e o ambientalismo.