
Do EurAsia Daily.
Há poucos dias, o governo da Ucrânia e a corporação estadunidense BlackRock Financial Market Advisory (BlackRock FMA) assinaram um acordo para a criação do Fundo para a Reconstrução da Ucrânia, pondo de certo modo ponto final à venda de todos os ativos principais do Estado ucraniano: desde as suas (férteis) terras negras até as suas redes elétricas.
Alguns peritos acreditam que Kiev pretende pagar as suas dívidas desta forma. Contudo, isto não vai acontecer. Pior ainda, o que provavelmente foi a república soviética mais próspera simplesmente passará a ser propriedade do capital transnacional.
A empresa BlackRock, Inc. é o fundo de gestão de ativos mais importante do mundo (o seu valor dos seus ativos administrados atingiu, em 1 de Janeiro de 2023, os 8,594 trilhões de dólares, o que equivale aproximadamente à soma dos PIBs da Alemanha e da França.
Entretanto, esta não é a sua única característica. A BlackRock exerce uma influência política imensa em todo o mundo.
Ela não só é acionista das principais companhias financeiras e farmacológicas, de gigantes industriais militares e de corporações midiáticas, como também dirige todos os programas da Reserva Federal estadunidense de compra de títulos corporativos. Ou seja, maneja diretamente um dos instrumentos mais importantes de política monetária deste banco central.
Ex altos responsáveis da BlackRock frequentemente passam a ocupar postos na Casa Branca. Na administração de Joe Biden agora são três: o subsecretario do Tesouro, Wally Adeyemo, o assessor principal do Tesouro sobre questões econômicas relacionadas com a Rússia e a Ucrânia, Eric van Nostrand, e Mike Pyle, assessor econômico da vice-presidente Kamala Harris.
Brian Deese ocupou o cargo de diretor do Conselho Econômico Nacional dos EUA até fevereiro de 2023. Thomas Donilon, presidente do ramo de investigação da BlackRock, foi assessor de segurança nacional de Barack Obama durante muito tempo, ao passo que o seu irmão Mike foi o principal estrategista na campanha presidencial de Joe Biden para a seguir ser nomeado assessor principal na sua administração.
Entre os altos executivos da BlackRock figuram vários responsáveis aposentados da CIA e a própria empresa financia o fundo de capital de risco In-Q-Tel criado pela Agência Central de Inteligência.
A colaboração do governo Zelensky com a BlackRock (pelo menos publicamente) começou em setembro de 2022, quando o New York Times informou sobre as negociações do presidente ucraniano com o chefe da empresa, Larry Fink, para a criação de certo fundo de reconstrução.
Nos termos do acordo, a BlackRock ficaria encarregada concretamente de gerir os ativos ucranianos, incluídos os fundos de ajuda internacional. Deste modo, as empresas estratégicas ucranianas, dentre elas também as que foram “nacionalizadas”, passariam a estar sob o controle transnacional.
No âmbito deste plano também será administrada a dívida pública ucraniana que, segundo o Ministério das Finanças do país, em fins de março atingiu 119,9 bilhões de dólares (externa: 78,51 bilhões; interna: 41,4 bilhões), ou seja, 78% do seu PIB (em fins de 2022).
É claro que os serviços da BlackRock serão pagos com o dinheiro da ajuda ocidental, pois Kiev não tem muito mais.
É muito provável que os EUA se preparem para o calote da Ucrânia, afirma o investigador chefe do Instituto dos EUA e Canadá, Vladimir Vasíliev, caso em que a implicação da BlackRock parece lógica:
“Em caso de quebra da Ucrânia surgirá o problema dos serviços da dívida e da gestão dos ativos restantes, nessa altura as funções da BlackRock passarão ao primeiro plano. Atualmente, a dependência por alavancamento financeiro é certamente o método de gestão exterior mais eficaz que existe. Esta prática serviu de base inclusive para o Plano Marshall quanto às obrigações de dívida da Alemanha”.
Segundo jornais de Kiev, na implementação do acordo estão implicados funcionários acusados de corrupção em várias ocasiões: a ex-chefe do Banco Nacional da Ucrânia, Valeria Góntareva, a ex-chefe do Ministério das Finanças da Ucrânia (cidadã estadunidense), Natalia Yaresko e, naturalmente, o promotor dos interesses de George Soros na Ucrânia, Víktor Pinchuk, um multimilionário que conseguiu evitar a “desoligarquização”, genro do segundo presidente ucraniano Leonid Kuchma.
Neste contexto tornam-se especialmente interessantes os dados da Forbes, segundo os quais Vladimir Zelensky conseguiu mais que duplicar a sua fortuna em 2022: de 650 para 1500 milhões de dólares.
Além disso, indireta ou diretamente, a lista dos ativos ucranianos da BlackRock inclui valores das seguintes empresas: Metinvest, DTEK (energia), MJP (agricultura), Naftogaz, Ferrovias da Ucrânia, Ukravtodor e Ukrenergo.
De acordo com a LandMatrix, em Maio último, 17 milhões de hectares de terras agrícolas ucranianas, dos 40 milhões inscritos no banco de terras, eram propriedade de três empresas: Cargill, Dupont e Monsanto.
Neste caso, não se pode estar mais de acordo com o líder do partido húngaro Nossa Pátria, Laszlo Toroczkai, o qual ao referir-se ao papel da BlackRock na crise ucraniana assinalou sem rodeios: “A Ucrânia já está vendida e a guerra destruirá tudo”.