Lula fica quatro dias em Hiroshima, no Japão, para a reunião do G7, o grupo das sete maiores economias do Ocidente (mais o Japão).
A origem do G7 remonta à década de 1970, depois do início do rompimento da ordem econômica internacional de Bretton Woods e do início das crises do petróleo, quando os países do Ocidente, depois de algumas décadas de bonança, começaram a enfrentar problemas como o aumento do desemprego e alta inflacionária. Pelo G7, os governos dos EUA, Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Itália e Japão passaram a coordenar políticas para driblar a crise, de corte neoliberal, ainda que fosse em detrimento dos demais países subdesenvolvidos.
Com o fim da União Soviética, tentou-se uma incorporação da Rússia ao grupo, ainda no período Iéltsin (1992-2000). A partir da crise de 2008, o G7 perdeu prestígio para o G20, um foro mais inclusivo, tendo em vista que passou a contar os países dos BRICS e outras economias importantes, como Argentina, Austrália, Indonésia e Turquia.
Contudo, assim mesmo Lula participa desta reunião anual realizada no Japão. Pela agenda divulgada pelo Itamaraty, faz o uso da reunião de cúpula para encontros bilaterais com líderes com diversos países. Também aproveitou a ocasião para fazer um pronunciamento sobre “problemas globais”, como a “mudança climática”, “ameaças à democracia”, guerra na Europa (Ucrânia) etc., além de pedir a reforma da Conselho de Segurança da ONU e a inclusão de países africanos no G20.
Neste ponto, Lula parece repetir o mesmo discurso surrado de vinte anos atrás, já que a reforma das “instituições internacionais” não se dará por pressão do Brasil ou algum outro de países de menor poder, de forma “assembleísta” nos foros internacionais. O Conselho de Segurança não pode ser reformado, pois EUA e Rússia, seus fundadores, estão no polos opostos da disputa geopolítica. Nem mesmo a quase defunta Organização Mundial do Comércio, cujas rodadas de negociação, para redução das tarifas de comércio, já não avançavam ainda no primeiro mandato de Lula, quando a situação geopolítica era de muito menos conflito.
Não se pode pedir que as instituições mudem, “de forma democrática”, por de apelos, como se o poder mundial pudesse ser democratizado desta maneira. Cabe ao Brasil, sim, construir o seu poder, o que não se conseguirá apelando ao G7, solicitando aos países que o compõem que façam investimentos no Brasil, já que as taxas de juros domésticas são proibitivas. Se Lula não consegue governar nem tendo o controle da política monetária do país, como ter a pachorra de pedir por reformas em grupo do qual o Brasil não faz parte?
Se uma vez Karl Marx usou o termo “cretinismo parlamentar” para definir a atuação dos socialistas na Assembleia francesa, logo depois da Revolução de 1848, quando eles cada vez mais abandonavam a luta em prol da participação em debates parlamentares, talvez possa ser usado o termo “cretinismo multilateral” para definir a diplomacia deste terceiro governo Lula, no qual a sua primeira-dama procura chamar mais a atenção dos líderes e da mídia do que o próprio presidente da República.
Enquanto Lula está no Japão, explode uma crise política criada pelo próprio governo, que opõe o IBAMA e a Petrobrás, a ministra do Meio Ambiente e o líder do governo no Senado, cabendo ao onipresente vice-presidente Geraldo Alckmin ter que gerenciar a controvérsia. No Parlamento, o governo se prepara para uma votação importantíssima, a respeito do novo regime fiscal, ao qual deve suceder a votação da reforma tributária.
O real problema está em casa.
Artigo perfeito! Só quero levantar algumas questões para aprimorar o debate. O Brasil se tornou ingovernável, com um poder executivo enfraquecido e um orçamento engessado. Infelizmente sob uma democracia nos moldes liberais, não há salvação para o país, independente de quem governe. A destruição começou com a constituição de 88, e se aprofundou com as reformas de FHC e acredito que a pa de cal foi a criação das agências reguladoras, o poder de decisão saiu das mãos do poder executivo para as mãos ditas imparciais do mercado.