
A teoria da causa antropogênica do aquecimento global estará dentro em breve no centro do confronto entre o Ocidente e a Rússia. Se ninguém contesta que algumas partes do mundo estão aquecendo, não há, no momento, explicação alternativa para este fenômeno. Mas cientistas de renome apresentarão, a propósito, uma outra na COP-28 do Dubai. Acontece que são membros da Academia de Ciências da Rússia.
Por Thierry Meyssan.
A teoria segundo a qual o aquecimento climático seria observável no conjunto do planeta e que ela seria provocada pela atividade humana foi popularizada pelo Grupo intergovernamental de estudo sobre a evolução do clima (GIEC); uma comissão das Nações Unidas.
Eu não tenho qualquer competência em matéria climática e não me permito julgar se esta teoria é verdadeira ou falsa, mas sou um especialista em política internacional e posso avaliar o trabalho desta comissão das Nações Unidas.
Há uma dezena de anos, eu escrevi que, como o seu próprio nome indica, o GIEC não é de forma alguma uma academia científica, mas sim um grupo intergovernamental [1]. A suas conclusões não são pois fruto de um trabalho científico, mas antes de uma discussão política.
O GIEC foi criado por iniciativa da primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher, a fim de apoiar a sua luta contra os sindicatos dos mineiros. Sem surpresa, o grupo concluiu que o uso de carvão é ruim para o meio ambiente, enquanto a energia nuclear é desejável. Ou seja, não é um teorema científico, mas uma tomada de posição política.
Além disso, eu chamei à atenção que a criação de “direitos” de emissão de gases com efeito de estufa não é uma iniciativa intergovernamental, mas uma ideia da Joyce Fundation, posta em marcha pela Climate Exchange Ldt [2]. Cada Estado redige a sua própria legislação na matéria e recebe uma certa quantidade de “direitos de emissão” que distribui como entende pelas empresas. As que só os utilizam parcialmente podem revender os direitos não utilizados numa Bolsa de valores especializada em Chicago.
Os estatutos desta Bolsa foram redigidos por um advogado da Joyce Foundation, então desconhecido, um tal Barack Obama (futuro Presidente dos Estados Unidos). O apelo aos investidores para o lançamento desta Bolsa foi lançado por Al Gore (futuro vice-presidente dos Estados Unidos), e por David Blood (antigo diretor do banco Goldman Sachs). Tanto se pode considerar estas pessoas como militantes ecologistas de boa-fé ou como escroques de alto coturno, é uma questão de ponto de vista.
Com o tempo, este dispositivo político dotou-se de um verniz científico e de “boas intenções” de tal modo que se tornou difícil questioná-lo. Existe, no entanto, uma teoria científica alternativa para explicar o aquecimento global. Ela foi enunciada pelo geofísico croata Milutin Milanković no período entreguerras.
A órbita da Terra varia segundo três ciclos naturais: a sua excentricidade, a sua obliquidade e a precessão dos equinócios. Cada uma destas variações segue um ciclo, entre 20. 000 e 100. 000 anos, perfeitamente mensurável. Estas três variações combinadas têm influencia sobre a insolação da Terra e, portanto, sobre o seu clima. Esta teoria foi confirmada, em 1976, pelo estudo de núcleos de gelo durante a perfuração de Vostok (Antártica). No entanto, ela não explica tudo.
A Academia de Ciências da Rússia acaba de enunciar uma terceira teoria, também ela baseada na observação da natureza. Segundo esta, “a principal causa das catástrofes climáticas locais é a emissão crescente de hidrogênio natural devido às forças gravitacionais alternadas da lua e do sol, as quais provocam buracos na camada de ozônio. A elevação de temperatura que daí resulta e a mistura de ozônio e de hidrogênio são as principais causas de fogos das florestas e das estepes”” [3].
A Academia de Ciências não se contenta de por em casa o dogma do GIEC, ela contesta também o dispositivo visando reduzir os buracos da camada de ozônio. A saber, a Convenção de Viena e o Protocolo de Montreal, “cuja aplicação eliminou ramos inteiros da indústria química sem afetar o tamanho dos buracos de ozônio, os quais não pararam de aumentar”.
A teoria da Academia de Ciências russa repousa também na ideia de que o aquecimento global não é um fenômeno comparável nas diferentes regiões do mundo. Ora, acaba de se verificar que, contrariamente a um clichê generalizado, a temperatura do Oceano Pacífico diminuiu [4].
Os trabalhos da Academia de Ciências russa serão apresentados no fim de Novembro e início de dezembro na COP-28 do Dubai. Desde logo, começou uma batalha política para calar os cientistas. Ela tem a ver com o presidente da mesa da Conferência que poderá conceder a palavra de forma ampla aos contestatários ou, pelo contrário, reduzi-los ao silêncio. É a Mohammed bin Zayed, o soberano dos Emirados Árabes Unidos, que cabe escolher. Ele nomeou Sultan al-Jaber, o seu Ministro da Indústria. De imediato, parlamentares dos Estados Unidos e da União Europeia escreveram ao Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, pedindo-lhe que se opusesse. O argumento, como sempre, não tem relação com o seu objetivo. Eles argumentam que Sultan al-Jaber também é presidente da Abu Dhabi National Oil Company (Adnoc). Portanto, ele seria juiz e parte no assunto. Eles preconizam, ao contrário, designar um lobista das energias renováveis. É claro, este também seria juiz e parte, mas agora do campo oposto.
Se os cientistas russos se exprimirem na COP-28, é provável que a Assembleia se divida em duas, não por critérios científicos, mas sim políticos. Os partidários dos anglo-saxões contra os da Rússia (o resto do mundo). Não duvidem, o dogma do GIEC não tardará em tornar-se a ideia fixa dos Ocidentais e a chacota do resto do mundo.
Referências:
[1] El pretexto climático 2/3 : «1982-1996: La ecología de mercado», por Thierry Meyssan, Оdnako (Rusia) , Red Voltaire , 25 de abril de 2010.
[2] El pretexto climático 3/3 : «1997-2010: La ecología financiera », por Thierry Meyssan, Оdnako (Rusia) , Red Voltaire , 28 de abril de 2010.
[3] Fonte : Communiqué du président de l’Académie des Sciences de Russie.
[4] Systematic Climate Model Biases in the Large-Scale Patterns of Recent Sea-Surface Temperature and Sea-Level Pressure Change, Robert C. J. Wills, Yue Dong, Cristian Proistosecu, Kyle C. Armour & David S. Battisti, Geophysical Research Letters, DOI : 10.1029/2022GL100011.