O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, deixou a prisão de segurança máxima em Londres no dia 24 de junho, depois de concordar com um acordo de delação premiada sobre uma acusação de espionagem em um tribunal dos EUA, pondo fim ao seu drama jurídico de anos.
O cidadão australiano Assange foi acusado de 18 delitos, com pena máxima de 175 anos de prisão, por publicar verdades inconvenientes sobre as invasões do Afeganistão e do Iraque pelos Estados Unidos.
Em 2010, ele publicou mais de 250.000 telegramas diplomáticos dos EUA no sítio WikiLeaks, incluindo um conjunto de vazamentos do ex-soldado americano Chelsea Manning (na época Bradley Manning), com o horrível vídeo Collateral Murder, que mostrava helicópteros Apache abatendo 11 iraquianos enquanto os pilotos riam.
Manning foi condenada e presa após uma investigação criminal – embora mais tarde tenha tido a sentença comutada – enquanto Assange buscou refúgio na embaixada do Equador em Londres, enfrentando acusações de agressão sexual na Suécia, antes de ser preso quando Quito retirou seu asilo e iniciou uma batalha de cinco anos para recorrer de sua extradição.
Desde 2010, Assange ficou dois anos em prisão domiciliar, até pedir asilo na embaixada (de 2012 a 2019), até quando foi levado para a prisão de Belmarsh, no Reino Unido, aonde teria sofrido maus tratos.
A caminho da Austrália, Assange deve comparecer a julgamento nas Ilhas Marianas, no Pacífico, onde receberá a condenação, por período inferior ao já cumprido desde o início da prisão domiciliar.
Comentários de ativistas e jornalistas sobre a libertação de Assange:
Lucy Komisar, jornalista investigativa baseada em Nova York: “Fiquei muito satisfeita e feliz ao saber que Julian Assange será libertado após mais de uma década de prisão no Reino Unido, tanto nos anos em que ele foi forçado a encontrar segurança na Embaixada do Equador quanto nas duras condições da prisão de Belmarsh.”
Craig Murray, ex-diplomata britânico: “Não acho que Joe Biden queria que Julian chegasse no meio de uma campanha eleitoral. Ser visto atacando a liberdade de expressão, atacando os direitos constitucionais não é uma boa imagem para o presidente dos Estados Unidos, cuja campanha eleitoral já está com muitos problemas por causa de seu apoio ao genocídio em Gaza.”
Taylor Hudak, jornalista investigativo independente: “A acusação nunca deveria ter acontecido em primeiro lugar. O Sr. Assange nunca deveria ter passado um dia sequer na cadeia pelo chamado crime de jornalismo. O WikiLeaks nunca publicou um documento falso. É lamentável que o Sr. Assange tenha que se declarar culpado de qualquer acusação.”
Caitlin Johnstone, ativista australiana: “Embora Assange possa estar livre, não podemos dizer corretamente que a justiça foi feita. A justiça seria feita se recebesse um perdão total e incondicional e milhões de dólares em compensação do governo dos EUA pelo tormento que o fizeram passar desde 2010. A justiça seria feita se os crimes de guerra Assange expôs, com a prisão e acusação de todos os que ajudaram a arruinar a sua vida por expor esses crimes. Isto incluiria toda uma série de agentes e funcionários governamentais em vários países e vários presidentes dos EUA”.
Comentário:
O julgamento de Assange expõe a capacidade dos EUA de impor a extraterritorialidade de suas leis, com a colaboração de seus parceiros da OTAN, como o Reino Unido. O mesmo dispositivo usado na Lava Jato em ações contra pessoas físicas e jurídicas no Brasil.