
Por Raphael Machado.
No Irã, foi eleito Masoud Pezeshkian, com 55% dos votos, contra Saeed Jalili, que recebeu 45% dos votos. Se no 1º turno houve uma participação de 40% dos eleitores registrados, no 2º turno houve uma participação de 50%, e esse aumento foi o que fez a diferença e deu a vitória a Pezeshkian.
Pelo próprio caráter dualista da política, inclusive da política iraniana, o 2º turno foi retratado como um embate entre um “conservador” e um “reformista”. E, de fato, Pezeshkian foi apoiado pelas formações políticas moderadas e reformistas do sistema democrático iraniano.
Mas ele não pode ser visto como um “opositor” da Velayat-e Faqih.
Pezeshkian combateu na Guerra Irã-Iraque e é considerado um patriota, além de um defensor da diversidade etnocultural de seu país. Partidário da Guarda Revolucionária, Pezeshkian também exaltou inúmeras vezes as virtudes do General Qassem Soleimani.
As únicas críticas que já fez ao governo iraniano dizem respeito a como o Irã lida com protestos, com Pezeshkian defendendo uma maior maleabilidade, sem que se perca a firmeza contra ameaças concretas à estabilidade do país.
No âmbito econômico, ele é tão desenvolvimentista e protecionista quanto era seu adversário, Saeed Jalili, de modo que parece haver um consenso sobre as questões econômicas prementes entre os principais atores políticos iranianos. No caso, o desafio nacional é o de oxigenar a economia iraniana diante das sanções ocidentais.
Agora, a sua postura de estar aberto para negociações com os EUA e o Ocidente, principalmente no que concerne a questão nuclear, gerou uma série de preocupações.
Não obstante, é necessário levar algumas coisas importantes em consideração: em primeiro lugar, a sua candidatura foi aprovada pelo Conselho dos Guardiões, de modo que ele foi considerado suficientemente confiável e leal para poder participar.
Ademais, após ele formar o seu gabinete ministerial (nas primeiras semanas ele conduzirá o gabinete de Ebrahim Raisi), as suas escolhas precisarão ser aprovadas, primeiro, pelo Parlamento e, depois, pelo Aiatolá Khamenei.
Pezeshkian, após a vitória, imediatamente se reuniu com seu adversário Jalili e pediu o seu apoio no governo que vem. Ademais, ele já deixou claro que seguirá as diretrizes de Khamenei em todas as questões de política externa, o que inclui o apoio a Gaza e as relações com a Rússia.
Não se espere muitas mudanças significativas, portanto, no âmbito da política externa e questões de defesa. De fato, recorde-se que foi no período do também “reformista moderado” Rouhani que a Guarda Revolucionária consolidou o Eixo de Resistência e derrotou, junto com a Rússia, o ISIS.
Não é casual, portanto, que alguns, think tanks ocidentais estão dizendo que essa eleição foi “armada” e que Pezeshkian era, já, o candidato favorito de Khamenei, como sendo uma espécie de “aposta reformista do Khamenei”. Não obstante, é fato de muitos dos membros da elite política e intelectual iraniana preferiam Jalili, de modo que, de um jeito ou de outro, provou-se o vigor da democracia islâmica iraniana.
Se não está em dúvida a política externa ou a economia iraniana, é necessário ver se a posição “moderada” e “aberta” de Pezeshkian será eficaz contra as tentativas de infiltração, cooptação e subversão, no âmbito cultural, que seguem se espalhando pelas frestas e beiradas da comunidade nacional.