
Do Movimento de Solidariedade Íbero-americana.
Definitivamente, a perspectiva de mais um mandato de Donald Trump na Presidência dos EUA está tirando o sono e a tranquilidade do Establishment oligárquico anglo-americano, ao ponto de já estarem partindo para ameaças diretas ao candidato declarado.
Em 30 de novembro (de 2023), o jornalista Robert Kagan, colaborador do jornal Washington Post e um dos principais ideólogos dos “neoconservadores” que dominam a política externa estadunidense, publicou um artigo com o sugestivo título: “Uma ditadura Trump é crescentemente inevitável. Deveríamos parar de fingir.”
Nele, com uma sutileza paquidérmica, deixa uma advertência explícita: “Nós vamos fazer algo a respeito? Usando uma metáfora, se pensássemos que houvesse 50% de chance de um asteroide cair na América do Norte daqui a um ano, ficaríamos apenas esperando que não caísse? Ou tomaríamos todas as medidas concebíveis para tentar detê-lo, inclusive muitas coisas que poderiam não funcionar, mas que, dada a magnitude da crise, deveriam ser tentadas de qualquer maneira?”
Em seguida, foi a vez da ultraelitista revista britânica The Economist, que divide com o jornal Financial Times o pódio dos arautos da City de Londres, publicar um longo editorial qualificando Trump como “o maior perigo para o mundo em 2024”. O texto não oculta o alarme daqueles altos círculos oligárquicos com a possibilidade de uma política econômica protecionista da indústria estadunidense e de uma política externa que acelere a derrocada da hegemonia da superpotência, como se constata nos trechos a seguir, com direito a mais ameaças explícitas:
“(…) Trump 2 seria mais organizado do que Trump 1… Trump se sentiria livre para perseguir vinganças, protecionismos econômicos e acordos teatralmente extravagantes. Não impressiona que o prospecto de um segundo mandato de Trump encha de desespero parlamentos e diretorias de empresas. Mas desesperar-se não é um plano. Passou da hora de impor ordem sobre a ansiedade. (…)
“Mas uma vitória de Trump no próximo ano também teria um efeito profundo no exterior. China e seus amigos se deleitariam diante da evidência de que a democracia americana é disfuncional. Se Trump desafiar a legalidade e os direitos civis nos EUA, seus diplomatas não poderão proclamá-los no exterior. Confirmaria-se a suspeita do Sul Global de que os apelos americanos por se fazer o que é certo não passam de um exercício de hipocrisia. Os EUA se tornariam apenas outra grande potência.
“Os instintos protecionistas de Trump também estariam livres de amarras. Em seu primeiro mandato, a economia prosperou apesar de suas tarifas sobre a China. Seus planos para um segundo mandato seriam mais daninhos. Ele e seus asseclas planejam um imposto universal de 10% sobre as importações,
mais de três vezes superior ao nível atual”.
Em outro parágrafo, os editorialistas apontam o que os “atlanticistas” consideram uma heresia imperdoável: “Trump considera que, para os EUA, derramar sangue e despejar dinheiro na Europa é um mau negócio. Portanto ele promete pôr fim à guerra na Ucrânia e arruinar a OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte], talvez renegando o compromisso dos EUA em tratar um ataque contra um
país da aliança como um ataque contra todos… Na Ásia, Trump poderá estar aberto a um acordo com o presidente chinês, Xi Jinping, para que os EUA se esqueçam de Taiwan, já que não vê motivo para seu país travar uma guerra contra uma superpotência nuclear pelo benefício de uma ilha minúscula.”
E concluem em tom apocalíptico: “Um segundo mandato de Trump seria um divisor de águas de uma maneira que o primeiro não foi. A vitória confirmaria seus instintos mais destrutivos em relação ao poder. Seus planos encontrariam menos resistência. E em razão dos EUA o terem escolhido conhecendo seu pior, a autoridade moral do país declinaria. A eleição será decidida por dezenas de milhares de eleitores de uns poucos Estados. Em 2024, o destino do mundo dependerá de suas cédulas.”
O tom de alarme e de ameaça é explícito, e deverá aumentar com a vitória de Trump nas primárias do Partido Republicano, em Iowa, quando levou mais de 50% dos votos.
Já vimos filmes parecidos por lá antes, e não foi em Hollywood.