
Por Raphael Machado.
A principal notícia internacional do dia 19 de julho de 2024 foi o “apagão cibernético” que teria afetado as atividades de inúmeras empresas públicas e privadas em várias partes do mundo, com destaque para as Américas, Europa Ocidental e Israel.
O “apagão”, consistente em uma tela azul que impossibilita o uso do sistema, afetou as máquinas com sistema operacional da Microsoft que dispõe dos serviços de nuvem da Crowdstrike, uma importante empresa de cibersegurança. Aeroportos, hospitais, bancos, lojas e vários outros tipos de instalações pararam de funcionar.
Segundo a versão oficial, fornecida pelo próprio CEO da Crowdstrike, George Kurtz, tudo não passou de uma atualização defeituosa que as máquinas conectadas à internet acabaram baixando e sofrendo com o problema em questão. Segundo Kurtz definitivamente não teria sido um “ciberataque”, uma negativa que, sinceramente, é de se esperar já que se trata de uma das maiores empresas de cibersegurança do mundo.
Mas independentemente das causas, o que chama a atenção é que a Crowdstrike não é bem uma empresa privada qualquer, mas basicamente um braço terceirizado do Deep State.
Para constatar isso basta analisar o histórico e conexões da empresa e dos seus principais agentes.
George Kurtz e Dmitri Alperovich, fundadores da Crowdstrike, eram ambos funcionários da McAfee quando romperam com John McAfee em 2011, supostamente por considerar que a McAfee não estava evoluindo suficientemente rápido para lidar com as novas ameaças, mas a realidade pode ser um pouco diferente.
Em 2010, ambos participaram de operações de ciberguerra, a “Operação Aurora”, a “Operação Night Dragon” e a “Operação Shady Rat”, que dificilmente foram feitas sem solicitação e coordenação com agências de inteligência dos EUA, como o FBI.
Nessas operações, a “investigação” conduzida por Kurtz e Alperovich “concluiu” que as várias ondas de ciberataques sofridas por uma miríade de países, empresas e organismos internacionais entre 2006 e 2011 haviam sido direcionadas por atores chineses ligados ao Exército Popular de Libertação da China.
Nesse sentido, o trabalho de ambos provavelmente convenceu certas pessoas poderosas de seu potencial, o qual talvez fosse melhor aproveitado em uma empresa só sua, e não através da McAfee.
Quanto a John McAfee, é sempre necessário recordar que o mesmo afirmava, em seus últimos anos, ter tido backdoors em sistemas do governo estadunidense que lhe permitiram espionar atividades governamentais. Curiosamente, já a partir de 2012 começa a sua via crucis judicial, que culminaria com a sua morte “por suicídio” em uma prisão espanhola em 2021. Dois anos antes ele havia dito, em uma conta no Twitter, que se ele aparecesse morto certamente não seria por suicídio.

Anunciando a nova empresa já no início de 2012, começando já com um investimento de 25 milhões de dólares da firma Warburg Pincus, e começando as suas operações com vários “ex”-funcionários do FBI, como Shawn Henry, pra dirigir uma subsidiária da CrowdStrike, e Steve Chabinsky, que esteve na divisão de crimes cibernéticos do FBI.
A partir de então, a Crowdstrike se destacou principalmente por “serviços” prestados às agências de inteligência dos EUA. Todas elas “identificando” espiões russos e chineses que estariam sempre hackeando empresas dos EUA. Em 2015, por exemplo, pouco depois de uma pequena aproximação entre EUA e China, com Xi Jinping e Barack Obama prometendo que combateriam ações de hackers, a Crowdstrike anunciou que teria “descoberto” hackers chineses atacando empresas estadunidenses.
Enquanto isso, por volta de 2015, a Crowdstrike já estava recebendo 100 milhões de dólares da Google Capital, e em 2017 já contava com mais de 250 milhões de dólares da Warburg, Google Capital e outros investidores.
Agora, antes de ir ao principal motivo pelo qual a Crowdstrike é conhecida, é importante pontuar mais algumas coisas.
Hoje, a Crowdstrike é de propriedade principalmente da Blackrock, Vanguard e MorganStanley. E ela, por sua vez, fez uma série de outras aquisições de empresas de cibersegurança de todo o mundo, as mais recentes sendo algumas aquisições bilionárias de empresas israelenses, como a Bionic e a Flow Security.
Enquanto isso, Alperovich, ao longo dos últimos anos, atuou como assessor do Departamento de Defesa, assessor no Departamento de Segurança Nacional, e parte de uma assessoria de cibersegurança do Presidente Biden.
Mas a Crowdstrike é mais famosa por seu envolvimento profundo em todos os escândalos envolvendo o Partido Democrata, as eleições estadunidenses de 2016 e 2020 e uma suposta narrativa de “interferência russa” nas eleições.
Tomemos como exemplo a narrativa do hackeamento dos e-mails de Hillary Clinton e seu círculo de apoiadores entre 2015-2016, quando e-mails teriam sido hackeados e repassados a Julian Assange para divulgação pelo Wikileaks. A única análise forense dos computadores e e-mails foi feita pela própria Crowdstrike, contratada pelo Partido Democrata. O FBI solicitou acesso oficialmente, mas não recebeu.
Também foi a Crowdstrike a única fonte para a narrativa da manipulação das eleições dos EUA pela Rússia ou de conexões impróprias de Trump com a Rússia.

Mais recentemente, o Alperovich abriu um laboratório de ideias (think tank) dedicado a construir políticas públicas para apoiar os EUA em desafios de cibersegurança contra seus adversários geopolíticos – o que, sem eufemismos, significa um laboratório de ideias dedicado à ciberguerra. Como se já não tivessem suficientes conexões com o Deep State, um dos membros da diretoria desse think-tank é o ex-diretor da CIA David Petraeus.
São indícios demais para que se possa negar que a Crowdstrike é, certamente, um aparato terceirizado das operações de guerra híbrida dirigidos pelos braços de inteligência do Deep State dos EUA.
Isso obviamente abre um novo leque de possibilidades sobre o que realmente pode ter acontecido nesse apagão cibernético.
Interessante este resgate das origens de tal empresa. Poderia escrever algo sobre qual a intenção desse “apagão”. Um teste? Um ensaio para outras traquinagens? Obrigado.