As eleições para a presidência da República foram realizadas no domingo, dia 28 de julho, na Venezuela.
Ao final do dia, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do país, declarou o presidente Nicolás Maduro reeleito por mais um mandato de seis anos.
A oposição acusa fraude, corroborada por institutos estrangeiros que acompanhavam a eleição. A oposicionista Maria Corina Machado estaria realizando uma “apuração paralela”, não oficial, para demonstrar a fraude: ao invés dos 51% dos votos a Maduro e os 44% dos votos dados ao candidato Edmundo Gonzalez Urrutia (por quem Corina fala), este teria derrotado Maduro por ampla margem.
No meio do imbróglio está a questão das atas de votação: o CNE divulgou os percentuais, mas não as atas, as quais afirma que vai divulgar com o devido tempo, de acordo com a legislação local. Já na apuração paralela, a oposição diz ter acesso às atas.
Foi o estopim para os conflitos internos que irromperam na Venezuela e para a toda pressão externa sob este país, a começar pela Argentina de Milei, que “acusou o golpe”, logo no domingo. Como resultado os embaixadores argentino e peruano – cujo governo seguiu a linha de Milei – foram expulsos de Caracas.
No Brasil, a imprensa em bloco cobra de Lula uma posição mais dura em relação a Maduro. Lula só se manifestou na terça, dia 30, após conversa por telefone com Joe Biden (ou alguém que lhe representou) e o PT ter lançado nota reconhecendo a vitória do atual presidente.
No dia 31, ocorreu reunião da Organização dos Estados Americanos, uma instituição com sede em Washington e tão anacrônica quanto o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), obsoleto desde a Guerra das Malvinas. Colocou-se em pauta uma resolução cobrando da Venezuela maiores explicações sobre os resultados eleitorais, incluindo as famigeradas atas. No mesmo dia, um dos porta-vozes do governo estadunidense, John Kirby, afirmou que os EUA “estão perdendo paciência com as autoridades venezuelanas.
O fato é com ata ou sem ata, com ou sem a “paciência” dos EUA, o resultado das eleições já está selado e Maduro governará seu país até 2031. Até porque nos últimos dez anos, a Venezuela já enfrentou crises piores, convivendo com sanções e até mesmo roubo de suas reservas de ouro mantidas em bancos ingleses. Até um “presidente fictício” teve, na figura de Juan Guaidó, hoje esquecido em Miami, mas que foi reconhecido, até mesmo pelo governo Bolsonaro, como o “presidente legítimo” do país. Durante o período 2014 até 2020, enfrentou uma grande catástrofe econômica, corroborada pelo cerco econômico e grande rol de sanções às quais foi submetida, mas desde 2021 passa por um período de recuperação.
Ou seja, se o regime bolivariano tivesse para cair, já teria caído alguns anos atrás. Sobretudo quando o cenário estava mais sombrio para eles em 2019, quando o então presidente Trump ameaçava militarmente o país, atiçando a participação brasileira na empreitada – que, por sua vez, foi devidamente desencorajada pelas Forças Armadas brasileiras, sabedoras de que a economia venezuelana poderia estar em pedaços, mas não suas FFAA. Sobretudo pela providencial ajuda russa.
O centro de gravidade do poder na Venezuela não está na figura de Nicolás Maduro, ex-braço direito de Hugo Chávez, mas nas forças armadas bolivarianas, com base em uma sólida doutrina, conforme mostramos aqui, e na política de compra de armamento russo que vem desde o governo de Chávez (1999-2013).
Para as vedetes da imprensa brasileira, que não falam de outra coisa nesta semana, só resta engolir o choro.