
Por Lorenzo Carrasco.
O peso da realidade vai se impondo de forma consistente sobre a agenda da chamada transição energética para fontes de baixas emissões de carbono e a superestimada eletrificação automotiva, cujas limitações tecnológicas e econômicas se tornam cada vez mais evidentes.
Em 7 de agosto, o jornal O Estado de S. Paulo publicou um editorial oportunamente intitulado “Expectativa e realidade”, observando que a “substituição de carros a combustão por elétricos tende a demorar mais do que o previsto”. Dele, reproduzimos os parágrafos essenciais:
“Anúncios recentes de montadoras como Ford e General Motors de que vão alterar seus investimentos nos Estados Unidos, reduzindo o escopo dos planos de produção de carros elétricos e até redirecionando recursos para a fabricação de veículos a combustão, mostra que o processo de transição energética será mais complexo e demorado do que o previsto. Ainda são grandes os obstáculos para sustentar o crescimento de demanda na eletrificação veicular, e ganham corpo as dúvidas sobre a viabilidade de banir a venda de carros a combustão até 2035, como determinaram ao menos 16 países. (…)
“Os Estados Unidos não são os maiores produtores de carros elétricos nem são seu maior mercado. À frente dos americanos estão China – onde um em cada três carros vendidos é elétrico –, Noruega e Suécia. Mas a economia norte-americana, a maior do mundo, é referência para o movimento mundial. E lá o crescimento das vendas de veículos elétricos diminuiu nos últimos 12 meses, apesar dos investimentos bilionários no desenvolvimento e modernização de tecnologias. (…)
“Os motivos foram os altos preços dos automóveis e caminhões elétricos e as dificuldades para abastecê-los. Apesar dos incentivos, os elétricos ainda não têm o mesmo nível de competitividade dos carros a combustão. O Brasil viveu na década de 1970, durante a crise do petróleo, experiência semelhante no lançamento dos motores a etanol, que só se popularizaram de fato quase duas décadas depois. Agora, além dos problemas comuns à transição, o mercado doméstico ainda enfrenta a dificuldade extra de basear a oferta em importação, sem produção local e, muito menos, transferência de tecnologia. (…)”
A conclusão fala por si mesma: “ Numa visão realista, o Brasil – e o mundo – ainda conviverá com motores a combustão por bastante tempo.”