
Pablo Marçal é um perigo, não ele como pessoa, mas o que ele representa. Ele se destaca por sua falta de coerência e por uma inteligência que parece impressionar a ele mesmo ou a pessoas ingênuas, que acreditam nas mentiras que ele dissemina em suas palestras de autoajuda, como se fosse isso que o enriqueceu.
O processo de enriquecimento de Pablo Marçal é nebuloso. Ele opera nas sombras do mundo digital, onde aparentemente tem mais domínio. Há 14 anos, ele foi condenado por criar armadilhas e aplicar golpes digitais em pessoas vulneráveis, especialmente idosos, que não têm familiaridade com a tecnologia.
Muitos enriqueceram nesse tipo de atividade, embora todos neguem depois. É mais fácil dizer que se ficou rico vendendo algo superfaturado do que desviando dinheiro de outras pessoas. O grande problema, no entanto, não está apenas nesse comportamento. O verdadeiro perigo está no tipo de gente que ele atrai e na mensagem que ele propaga. Sua mensagem é assustadora porque mina a organização social construída ao longo de décadas e séculos por uma sociedade, apesar de todos os seus defeitos e falhas.
O que essas pessoas pregam não é o fim da esquerda e da direita, como alguns nacionalistas defendem. Eu, por exemplo, acredito que devemos aproveitar o que há de bom em ambos os lados, atualizando suas contribuições em um processo nacionalista que valorize o que é nosso, transformando a sociedade para melhor. Um país é a soma de seu povo, e esse povo deveria ser acionista, recebendo de volta o que o país produz.
Existem cidadãos como Pablo Marçal que se apegam aos modelos tradicionais de demonização, principalmente da esquerda, porque isso dá mais visibilidade. Porém, o que eles pregam é um modelo de destruição em massa, na qual a prioridade é destruir o que já foi construído, com a promessa de que todos se tornarão empreendedores e apenas os mais fortes sobreviverão – os que compram seus cursos. Ele promete ensinar todos a ficarem ricos, mas até agora, apenas ele conseguiu.
Essas pessoas têm um efeito deletério na vida pública. Eles formam uma nova corrente de destruição, misturando elementos de neopentecostalismo, judaísmo, magia negra e práticas de baixo nível, todos liderados por “coaches”, pessoas que não são especialistas em nada e que fracassaram em suas próprias vidas, mas que prometem a solução para a vida dos outros. Esse grupo, em poucos anos, pode destruir tudo o que de pior foi criado pela direita e pela esquerda. A sociedade teria que se reestruturar do zero.
Esse movimento é pior do que o século da vergonha; ele é o século da vergonha do século da vergonha. Contra eles, nada se opõe. É como dar uma carteira e uma licença para roubar o Estado. O exemplo da Argentina é claro: o ouro dos “hermanos” já está em Londres, e, se encontrarem mais algum, será enviado para lá também, enquanto o país afunda na miséria. Em breve, só restarão “pablos marçais” por lá. A Argentina já deixou de ser um país, e o Brasil só precisa de um pequeno empurrão. Se ninguém souber empurrar, fique tranquilo, Pablo Marçal está aqui. Fique calmo, porque eu estou aqui; tudo vai dar certo – ou melhor, tudo vai dar errado. Aquela história de que o brasileiro tem QI de 81 ou 83 é uma lenda urbana. Quem vota em Pablo Marçal não pode ter um QI acima de 30, e quem o acha um gênio inteligente deve ter um QI ainda menor, talvez similar ao de uma ameba ou de um excremento. Pelo menos, o excremento sabe boiar.
Rubem González.