Por Lorenzo Carrasco.
Em ” O Estado de S. Paulo” de hoje (27/08/2024), o ex-diplomata Rubens Barbosa faz uma firme defesa do ingresso do Brasil na Iniciativa Cinturão e Rota ou Nova Rota da Seda, o colossal plano de infraestrutura física e digital para conectar a China com a Ásia, Europa, África e América Latina, ao qual já aderiram mais de 150 países.
Segundo ele, os projetos “de infraestrutura na América do Sul são os que mais se enquadram no contexto da Rota da Seda. Caso concretizados, favoreceriam a ampliação do comércio do Brasil com os vizinhos sul-americanos e poderiam abrir um corredor para a exportação de produtos brasileiros para a Ásia, especialmente para a China. A Rota da Seda sul-americana, levando em conta os interesses brasileiros, poderia representar um passo relevante para uma política de integração física na América do Sul, liderada pelo Brasil, que possa beneficiar todos os países da região”.
Entre esses projetos, destaca-se uma ferrovia transcontinental ligando o Sudeste brasileiro aos grandes portos do Peru, que estão sendo ampliados com recursos chineses, passando pela Região Norte do País, projeto que chegou a ser proposto pela China ainda no governo de Dilma Rousseff.
De acordo com Rubens Barbosa, “esse corredor ferroviário teria um sentido estratégico fundamental para o Brasil se pudesse ser executado. Alternativamente, poderiam ser mais bem aproveitadas as vias hidroviárias nacionais na interligação com países vizinhos, como o Peru”.
Vale ressaltar que a América do Sul é a única grande massa continental permanentemente habitada que até hoje não dispõe de uma ligação ferroviária transcontinental.
Um projeto do gênero, que já foi proposto na década de 1970 pelo saudoso engenheiro e deputado federal baiano Vasco Azevedo Neto, seria um daqueles capazes de proporcionar uma poderosa injeção de otimismo cultural e eficiência econômica, não apenas ao longo de todas as regiões diretamente afetadas por ele, mas para todo o subcontinente sul-americano.
Porém, há pelo menos um enorme obstáculo diante dele: o poderio do aparato ambientalista-indigenista internacional, que tremeu de horror diante do mero anúncio do interesse chinês no projeto, no governo Dilma. Hoje, o Brasil não pode sequer construir uma ferrovia bem menor, a EF-170 Ferrogrão, porque a “Máfia Verde” e sua linha auxiliar no Judiciário e no Ministério Público não aceitam a supressão de ridículos 0,06% (é isto mesmo, seis décimos de um por cento!) de um parque nacional para permitir o traçado. Ou asfaltar uma rodovia já existente, a BR-319 Manaus-Porto Velho, velha aspiração das populações locais. Ou ainda perfurar um poço de pesquisa no litoral norte do Amapá, para investigar a potencialidade petrolífera da área, o que os vizinhos Suriname e Guiana estão fazendo com grande sucesso em formações geológicas semelhantes às da Margem Equatorial Brasileira.
Já podemos até mesmo imaginar a objeção de uma histérica ministra Marina Silva.
Ela é a própria reencarnação no século XXI dos luditas ingleses do início do século XIX, que se reuniam em hordas furiosas para destruir os novos teares mecânicos que estavam lançando a Revolução Industrial. A principal diferença é que o movimento antiprogresso atual não é uma reação espontânea de trabalhadores desempregados pelas máquinas ou irritados com as longas jornadas de trabalho. Ao contrário, a “Máfia Verde” foi pensada, implementada e continua sendo muito bem financiada por altos círculos oligárquicos dos EUA, Canadá e Europa Ocidental, de olho em retardar ou bloquear a industrialização e o avanço dos países em desenvolvimento detentores de vastos recursos naturais.
Em suma, em breve, o Brasil terá que fazer uma opção entre o fanatismo míope representado por Marina e a possibilidade de desenvolver plenamente os seus recursos humanos e naturais em favor de uma agenda de progresso compartilhado com outras nações, na qual os BRICS terão um papel cada vez mais relevante.