O maior fenômeno da ressaca da democracia no Brasil foi a aparição do improvável Pablo Marçal, uma figura surpreendente que encontra poucos parâmetros ou talvez nenhum na história política nacional, fruto talvez de uma época tecnológica mas também impulsionada pelo espectro do fantasma dos 83 de QI do nosso povo.
Pablo Marçal, em condições normais de pressão e temperatura, em um país razoavelmente organizado ou quiçá, no Brasil de 50 anos atrás, sem nenhum viés ligado ao AI-5, fique bem claro, estaria entre preso e inelegível para o resto da vida.
É um cidadão de inteligência mediana e esperteza ímpar, mais um pobre brasileiro nascido no limbo da sociedade, que achou nos atalhos da lei, quando não no crime direto, a forma de se libertar da triste sina que persegue a 99% daqueles que nascem em pobreza, que é morrer na pobreza.
Pablo Marçal é o João Grilo de ” O Auto da Compadecida” sem o glamour do mesmo. O seu ficcional análogo desejava apenas fugir da fome, porém o horizonte de Pablo Marçal era outro muito maior. Somando as artimanhas mentiras e fraudes cometidas pelo primeiro em busca de comida, o nosso personagem do mundo real permeou isso com crimes verdadeiros nada românticos, valeu de golpe de telemarketing para roubar velhos e aposentados a narrativas delirantes e até a jogadas messiânicas, como querer fazer paraplégicos andar.
Longe do João Grilo personagem, o nosso grande destaque e surpresa política deste Brasil cada vez mais sem identidade, tem uma dose de soberba e arrogância que transita entre a megalomania o delírio e encosta claramente numa psicopatia social fácil de ser identificada até por um leigo.
Foi exatamente esse último parágrafo que pode estar transformando um quadro político surpreendente em apenas mais um voo de galinha, cada vez mais apaixonado e fã de si mesmo. Pablo Marçal confirma a máxima popular de que todo otário com sorte pensa que é malandro, o fato de ter passado tanta gente para trás, de ter se autodenominado um gênio inalcançável foram algumas de suas mentiras que ele mesmo passou a acreditar.
As últimas pesquisas pós-debate mostram um desgaste assombroso da sua imagem em apenas míseros 15 dias, o lobo parece que não conseguiu disfarçar a sua pele de cordeiro até o momento certo. A ânsia de dar uma carteirada de lobo falou mais alto e provavelmente possa ter soterrado o futuro do nosso bissexto político, que deve se contentar em continuar apenas mais uma escroque das mídias sociais deste Brasil cada vez mais trágico.
Rubem González