Do Movimento de Solidariedade Íbero-americana.
Na década de 1990, no auge da empolgação com a globalização financeira, uma frase feita recorrente entre os setores das elites brasileiras influenciados pela Faria Lima, inclusive os chamados formadores de opinião, era: a melhor política industrial é não ter política industrial. Ironicamente, por comodismo, oportunismo ou uma sensação de impotência, não poucos representantes do setor manufatureiro se deixaram arrastar pela tsunami globalista e assistiram passivamente à desnacionalização e ao recuo do peso econômico do setor para os níveis da República Velha.
Três décadas depois, a expressão política industrial volta a frequentar os salões das boas maneiras econômicas e até mesmo antigos conformistas com o “status quo” parecem estar percebendo a urgência de serem rediscutidas e novamente implementadas com a devida seriedade.
Em um artigo no “O Estado de S. Paulo” de 3 de setembro, o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, faz uma oportuna intervenção no tema, com um artigo ironicamente intitulado “Política industrial não é jabuticaba”.
Citando um recente estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI), ele observa que “política industrial não é um recurso de poucos, mas sim uma prática internacional. Estamos falando de Estados Unidos, União Europeia, de países da Ásia, da África”.
Segundo o FMI, em 2023, “foram realizadas mais de 2.500 intervenções de política industrial no mundo, com aumento tanto em países avançados quanto em emergentes”.
“Tanto os países avançados quanto os emergentes e em desenvolvimento usam recursos públicos, por meio de empréstimos governamentais”, escreve.
“Os países avançados recorrem, ainda, a incentivos à exportação. Os emergentes também usam o comércio exterior para ações de política industrial, porém por meio de barreiras à importação”, observa.
“Os Estados Unidos anunciaram US$ 369 bilhões em subsídios domésticos para auxiliar o processo de transição energética no país. Já a União Europeia decidiu destinar US$ 270 bilhões para reforçar a competitividade da indústria com impacto neutro no clima e apoiar a transição rápida para a neutralidade carbônica.
“Na América Latina, o México destinou US$ 7 bilhões para estimular um projeto de alternativa ao Canal do Panamá, enquanto o Chile anunciou US$ 33,5 bilhões em incentivos fiscais para atrair investimentos estrangeiros associados à troca de tecnologia. E tivemos, este ano, o anúncio de uma política industrial em nosso país, a Nova Indústria Brasil, ou NIB, que prevê R$ 300 bilhões em estímulos para o setor até 2026.”
O presidente da Firjan enfatiza o óbvio: “Diante das mudanças geopolíticas e dos grandes desafios globais, a revitalização da indústria nacional é urgente. O Brasil precisa de uma política de desenvolvimento industrial integrada às políticas de inovação e comércio exterior, e a NIB está na direção certa.”