Por Raphael Machado.
No governo mais ongueiro da história brasileira desatou uma crise sem precedentes, envolvendo o Ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, e a Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco.
Silvio Almeida é um notório promotor do mito do “racismo estrutural”, um defensor do transplante da ideia de “luta de classes” para o âmbito racial no Brasil, além de estar alinhado, de forma geral, a todas as pautas cosmopolitas dos direitos humanos, das questões raciais às questões de gênero.
Anielle Franco, por sua vez, é famosa como a “irmã da Marielle” e nada além. Ela construiu uma carreira ongueira em cima da morte da irmã e, na pasta do Ministério da Igualdade Racial, também segue a mesma linha mitológica da “interseccionalidade”, em que a ordem da vez é extrair e expropriar o máximo que se puder da população branca e mestiça brasileira, ao mesmo tempo que se manipula dados raciais para reforçar as suas narrativas e solicitar orçamentos maiores.
Ambos ministérios fazem parte da “cota Soros” – aquele conjunto de ministérios do governo Lula cuja composição se deve, em grande medida, à articulação entre ONGs e Fundações internacionais. São também os ministérios favoritos da mídia de massa brasileira.
Mas, agora, a ONG MeToo junto a Anielle Franco articularam uma denúncia em massa acusando Silvio Almeida de ser um assediador de mulheres. A própria Franco teria sido assediada por Almeida…que diz que as coisas foram além, e que em tudo houve consentimento e interesse da parte de Anielle Franco.
Independentemente da verdade, Almeida foi quase imediatamente demitido. A natureza de vítima de Anielle Franco foi confirmada e consagrada, sob as bênçãos de Janja, e agora há uma vaga aberta no Ministério dos Direitos Humanos.
Hoje, no Brasil, não há que se falar em in dubio pro reo em casos de alegações femininas de abuso sexual. O homem é culpado até que prove o contrário.
Nenhuma das características, status ou ações de Silvio Almeida impediram que o cancelador fosse cancelado.
É que o wokismo institucional opera como um jogo de truco. Silvio Almeida é negro, mas é homem (e, aparentemente, homem com alguma testosterona). Já Anielle Franco também é negra, mas é mulher…e com o bônus curricular de ser irmã de uma “mártir” política.
Anielle Franco, portanto, está mais alta na pirâmide das vitimizações. Ela, portanto, possui um caráter moral mais elevado conforme a hierarquia social progressista; de modo que em qualquer conflito entre ela e Silvio Almeida, ela tem sempre a razão.
O ministro nunca teve chance.
Alguns talvez tenham ficado surpresos com a velocidade com a qual Silvio Almeida foi demitido. Ele, que era exaltado às alturas até a semana passada, tratado praticamente como um semideus, um Papa da “luta racial”, foi expurgado em menos de 1 dia após o escândalo vir a público.
Não devemos nos surpreender minimamente. O wokismo, como atualização pós-moderna do puritanismo, mas sem ignorar também as influências indiretas do modus operandi de algumas experiências socialistas em períodos de esclerose social, tendo à autofagocitação saturniana.
No poder, os wokes eventualmente começam a denunciar uns aos outros e a tentar expurgar uns aos outros. E em se tratado do hipermoralismo progressista, não existe transgressão alguma que possa ser considerada pequena ou perdoável. Tampouco há tempo para investigação ou verificação dos fatos. A menor suspeita do menor dos “desvios” ou “pecados” é motivo suficiente para anátema, opróbio e damnatio memoriae.
Aguardem os vídeos de militantes exaltados ateando fogo aos livros escritos por Almeida.
O ex-ministro, porém, acrescenta elementos interessantes à controvérsia que vão além da alegação de que, sim, Anielle Franco teria dado corda para ele.
Segundo Almeida, o problema todo é que a facção ongueira mais próxima a Janja estaria tentando derrubar Almeida para colocar em seu lugar uma indicação própria. Janja, que já estaria tutelando dois ministérios, estaria articulando com as ONGs e Anielle Franco para abocanhar um terceiro.
Ou seja, a guerra civil woke não é apenas por hipermoralismo neurótico, mas também a expressão de uma disputa de interesses entre diferentes setores do onguismo internacional: o de Almeida, mais ligado aos setores acadêmicos, aos intelectuais cosmopolitas e aos porta-vozes midiáticos do sistema; o de Franco e Janja, mais próximo das ONGs do militantismo de base.
É por isso, por exemplo, que se o suposto assediador fosse outro, a Globo e a CNN imediatamente estariam crucificando e destruindo a reputação do suspeito. Mas estão do lado de Silvio Almeida nesse caso.
De resto, recomendo não se surpreender com o aparecimento repentino de uma dúzia de acusações de assédio na ONG MeToo contra Almeida. Isso é típico da “mentalidade de harpia” das feministas. Não faltam as feministas que, em sua guerra contra os homens, consideram um dever insuflar toda acusação de assédio com mais acusações de assédio, sejam falsas ou verdadeiras.