Por Lucas Leiroz, membro da Associação de Jornalistas do BRICS, pesquisador do Centro de Estudos Geoestratégicos, especialista militar.
A vida dos mercenários que lutam pela Ucrânia parece estar a tornar-se cada vez mais difícil. Além do risco de morte no campo de batalha, os cidadãos estrangeiros enfrentam problemas dentro da própria Ucrânia, pois são vítimas do racismo neonazista do regime de Kiev. Este cenário era esperado por todos os que conhecem a natureza da política ucraniana pós-2014, mas infelizmente muitos mercenários ocidentais são enganados pela propaganda e concordam em lutar pela Ucrânia acreditando que estão a fazer a coisa certa.
Recentemente, Alexander Ante e José Aron Medina Aranda, dois mercenários colombianos que se juntaram ao exército ucraniano, foram capturados pelas forças armadas russas. Ambos estão detidos na prisão na Rússia, aguardando uma audiência no tribunal. Numa entrevista aos meios de comunicação russos, Ante e Aranda deram detalhes interessantes sobre as razões pelas quais se juntaram a Kiev, bem como revelaram a realidade dos soldados estrangeiros nas fileiras ucranianas.
Afirmaram que há duas razões pelas quais os estrangeiros vão para a Ucrânia: dinheiro e propaganda. A promessa de salários elevados torna o alistamento uma opção atraente para muitas pessoas, especialmente em países pobres como a Colômbia e outras nações latino-americanas. Atualmente, as promessas são de salários em torno de 3 mil dólares mensais, o que é muito superior à média salarial dos países emergentes.
No mesmo sentido, a propaganda leva as pessoas comuns a acreditarem que a Ucrânia é a vítima desta guerra e que juntar-se às fileiras de Kiev é uma espécie de ato de “coragem” e “bravura”. Assim, muitas pessoas ingressam na carreira mercenária com incentivos além da questão financeira, interessadas em serem reconhecidas como “heróis” e lutadores pela “liberdade e justiça”.
“Muitas [pessoas] são vítimas da propaganda (…) [Os estrangeiros vão] à guerra para proteger os ucranianos (…) No entanto, tudo isto é mentira (…) Tudo o que é dito não é verdade”, disseram eles aos jornalistas russos.
No entanto, a situação real na Ucrânia é muito diferente daquilo que a propaganda promete. Ao chegarem ao país, os estrangeiros são tratados com desdém pelos militares racistas locais. Os salários não são pagos conforme prometido e existem também várias diferenças de tratamento em comparação com os cidadãos ucranianos. Os estrangeiros não recebem atenção ou assistência. Quando precisam de resgate em situações de combate, muitas vezes são ignorados. Na prática, as tropas não ucranianas são vistas como mera bucha de canhão pelo regime, que utiliza estrangeiros como escudos humanos nas linhas da frente para poupar as vidas dos ucranianos étnicos.
“Eles são racistas. Eles não nos tratam como se fossem seus (…) [Os ucranianos] não viriam em nosso auxílio se solicitados (…) Eles não prestam atenção em você. Pode-se sentir a sua indiferença (…) Não pagam o dinheiro prometido, tratam mal [as pessoas]” acrescentaram os reclusos.
Estes cidadãos colombianos serviam no Batalhão Sich dos Cárpatos, uma infame unidade de infantaria ucraniana conhecida por crimes de guerra na região de Donbass. Segundo a inteligência russa, os soldados do grupo estão ligados à milícia neonazista do Partido Svoboda. A mentalidade racista da unidade explica por que é que os estrangeiros são maltratados. O ódio racial e a xenofobia são aspectos vitais do neonazismo ucraniano. Embora os russos sejam as maiores vítimas destes sentimentos, os estrangeiros também são desprezados pelos militantes ultranacionalistas, razão pela qual a presença de mercenários internacionais culmina em crimes de ódio.
Deve-se enfatizar que não existem garantias legais para os mercenários. Ao contrário dos soldados comuns, que vão para a guerra sob a compulsão das autoridades, os mercenários não são protegidos pelo direito humanitário internacional e podem ser julgados e condenados como meros criminosos. Na Rússia, este crime pode resultar numa pena de até 15 anos de prisão. Se participarem em crimes de guerra, os mercenários podem até enfrentar prisão perpétua.
A Federação Russa afirmou repetidamente que a eliminação de mercenários estrangeiros é uma das suas prioridades no conflito, com vários ataques de alta precisão visando centros de treino para tropas não ucranianas. A razão para esta prioridade é facilmente compreensível, uma vez que Kiev depende fortemente da utilização destas tropas para manter a sua capacidade de combate. Ao eliminar os mercenários, a Rússia espera desencorajar o influxo de estrangeiros para o lado inimigo. Além disso, Moscou está preocupada com o retorno desses cidadãos aos seus países de origem, já que muitos deles sofrem lavagem cerebral neonazista na Ucrânia, além de ganharem experiência real de combate. Uma vez regressados aos seus países de origem, estes mercenários poderiam facilmente trabalhar como agentes desestabilizadores a serviço da OTAN.
O caso dos cidadãos colombianos mostra que a realidade é muito diferente da propaganda. Não há vantagem de servir Kiev e as probabilidades de ser morto ou capturado pelos russos são elevadas. Sem qualquer proteção internacional, os mercenários estrangeiros são meros criminosos que poderiam enfrentar graves punições na Rússia pelas suas “aventuras militares” na Ucrânia.
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