Por Daniele Parra.
O objetivo de Israel não é “destruir o Hezbollah”.
O objetivo de Netanyahu e companhia é voltar a ocupar o sul do Líbano porque é assim que está previsto no projeto messiânico do Grande Israel “desde o rio Eufrates até o rio do Egito” (que alguns acreditam ser o Nilo, outros um curso de água agora extinto que costumava estar nas fronteiras sul da atual Faixa de Gaza).
A este respeito, parece oportuno recordar que muitos rabinos interpretaram a restituição do Sinai ao Egito, na sequência dos Acordos de Camp David de 1978, como uma verdadeira traição (o Sinai tinha sido ocupado em 1967 e o ataque conjunto anglo-franco-israelita ao Egito, em 1956, já tinha sido considerado pelo “laico” Ben Gurion como uma forma de estabelecer Israel ao longo das fronteiras bíblicas).
A primeira agressão militar contra o Líbano (Operação Litani), data também de 1978. Nessa ocasião, o rabinato militar tinha distribuído cartões aos soldados destacados para a ação, nos quais os nomes das zonas e das aldeias eram apresentados na sua versão hebraica.
Escusado será dizer que, durante a ocupação do Sul do Líbano, que durou décadas, Israel beneficiou da ajuda da milícia colaboracionista de Antoine Lahad (o chamado Exército do Sul do Líbano, responsável por numerosos atos terroristas contra a população civil e, em particular, contra os xiitas). A história dramática da tortura no centro de detenção de Khiyam é tristemente conhecida e foi também relatada no filme “A Mulher que Canta” do realizador canadense Denis Villeneuve.
Ora, qual é o objetivo da nova agressão contra o Líbano?
Em primeiro lugar, é evidente que a “Doutrina Dahiye” (nome de uma zona de Beirute), já aplicada (com pouco sucesso, para sermos justos, em 2006), será usada extensivamente (como foi feito em Gaza). Essa doutrina prevê o bombardeamento extensivo de áreas residenciais e infraestruturas civis para aterrorizar e expulsar a população, e depois atacar as mesmas áreas de forma mais violenta através da utilização combinada da força aérea e da força terrestre.
Livrar o Sul do Líbano dos seus civis (maioritariamente xiitas), provocando um enorme fluxo de refugiados para Beirute, significa, em primeiro lugar, desestabilizar política e demograficamente o Líbano. O objetivo secundário da ocupação, talvez mesmo a “longo prazo”, é garantir a soberania israelita sobre a zona (não esqueçamos que a administração Trump reconheceu, à revelia do direito internacional, a soberania israelita sobre os montes Golã ocupados).
Ao ocupar o sul do Líbano, Tel Aviv toma posse total dos recursos hídricos da região (o que sempre foi um dos objetivos da geopolítica sionista) e, tal como em Gaza, põe as mãos nos importantes campos de gás disputados pelo Líbano e por Israel ao largo da costa.
O Hezbollah não representa uma ameaça existencial para Israel. A presença do Hezbollah impede, pura e simplesmente, Israel de levar a cabo um tal projeto.
Em tudo isto, é notória a total ausência de liderança política nesse “acidente da história” que dá pelo nome de “Ocidente”.