Por Luiz Alberto Moniz Bandeira.
Ao contrário dos Estados Unidos, onde a nação terminou por conformar o Estado, o Estado-Império, instituído no Brasil, foi que construiu a nação, sem ruptura da ordem política, a desdobrar a obra empreendida por D. João VI, e assegurou a unidade de vasta extensão territorial. Com razão, o cientista político José Murilo de Carvalho acentuou que a elite brasileira, particularmente na primeira metade do século XIX, teve treinamento em Coimbra, concentrado na formação jurídica, e seria em grande maioria integrante do serviço público, sobretudo da magistratura e do Exército. Ela era ideologicamente homogênea e reproduziu-se no Brasil em condições muito semelhantes. E, conforme José Murilo de Carvalho ainda observou, ‘essa transposição de um grupo dirigente teria talvez maior importância que a transposição da própria Corte e foi fenômeno único na América’. Na sua opinião, ‘a maior continuidade com a situação pré-independência levou à manutenção de um aparato estatal mais organizado, mais coeso e talvez mesmo mais poderoso’. Com efeito, o Império do Brasil, na metade do século XIX, já estava consolidado como nação, com um aparelho burocrático-militar capaz de defender e mesmo impor, tanto interna quanto externamente, a vontade política de suas classes dirigentes. Tornara-se potência regional, tanto que o encarregado de negócios da França em Montevidéu, Pierre-Daniel Martin-Maillefer (1798-1877), em 1854, referiu-se ao Império do Brasil como ‘Rússia tropical’, por ter a ‘vantagem da organização e a perseverança, em meio dos Estados turbulentos ou mal constituídos’ da América do Sul.”
Trecho de “A Expansão do Brasil e a Formação dos Estados na Bacia do Prata: Argentina, Uruguai e Paraguai (Da colonização à Guerra da Tríplice Aliança)”