Por Lorenzo Carrasco.
O fantasma do presidente Franklin Delano Roosevelt (1933-1945) parece estar assombrando o Establishment anglo-americano. Pelo menos, é o que depreende de um artigo do historiador Max Boot, membro veterano do Conselho de Relações Exteriores (CFR) de Nova York, o templo máximo dos oligarcas engajados na agenda de hegemonia global desde a sua fundação, há mais de um século.
Publicado no “Washington Post” e reproduzido no O Estado de S. Paulo de 28 de outubro, o texto, intitulado “Se Trump vencer a eleição nos EUA, o mundo vai voltar ao caos dos anos 1930”, afirma pretensiosamente que a escolha entre Kamala Harris e Donald Trump “é um referendo não apenas do futuro dos Estados Unidos, mas também do futuro do mundo inteiro”.
Com uma visão um tanto distorcida da História, ele defende: “Na década de 1930, os EUA seguiram uma política de protecionismo e isolacionismo. Não por coincidência, a 2.ª Guerra Mundial logo se seguiu. Os vizinhos da Alemanha e do Japão eram fracos demais para dissuadir e derrotar essas ditaduras fascistas por conta própria. Eles precisavam desesperadamente de ajuda americana e não a receberam até que fosse quase tarde demais.”
E prossegue: “Depois de 1945 nos EUA, a maior de todas as gerações procurou retificar esse erro construindo uma nova ordem mundial baseada em pactos de livre comércio e alianças de segurança. Essa abordagem foi incrivelmente bem-sucedida: democracia e prosperidade se espalharam pelo mundo. Grandes conflitos de poder foram evitados.(…) “Agora, essas conquistas históricas estão ameaçadas pela possibilidade de Trump retornar ao cargo e implementar políticas do tipo ‘Estados Unidos em primeiro lugar’ que lembram a década de 1930. Somente com uma vitória de Harris os EUA provavelmente continuarão a perseguir as políticas que sustentaram sua prosperidade e segurança desde 1945.”
De fato, Harris é a candidata “in pectore” dos oligarcas empenhados em preservar a agenda hegemônica praticada pelos EUA desde o final da guerra, a partir da consolidação do “complexo de segurança nacional” em torno da indústria bélica e um aparato militar, de inteligência e financeiro de alcance mundial. Mas aquele conflito teve pouco a ver com protecionismo e isolacionismo e, muito mais, com as disputas de potências imperiais ostensivas ou disfarçadas, como os próprios EUA, que agiam como tais no Pacífico, e com o apoio decisivo dado por grandes financistas e industriais alemães, estadunidenses e britânicos para a consolidação do nazifascismo, aí incluída a máquina de guerra de Hitler.
Quanto a Roosevelt, que merece apenas uma citação gratuita no artigo, no contexto de um comentário de Trump sobre a sua boa relação com o presidente russo Vladimir Putin, o temor de Boot e seus pares oligárquicos é que um Trump vitorioso possa adotar políticas econômicas do corte do “New Deal”, que pavimentou o caminho para a recuperação plena da economia estadunidense baseada na conversão para a indústria de guerra – sem um novo conflito global de grandes proporções.