Por Raphael Machado.
Em primeiro lugar, representa o rechaço popular total pelas elites globalistas delirantes que vampirizavam economicamente o povo em prol de uma escalada nuclear irresponsável contra a Rússia, enquanto martelavam wokismo nas cabeças das pessoas comuns.
Com todas as mídias de massa fazendo campanha por Kamala Harris, com todas as celebridades, com a maioria dos bilionários, Trump não só venceu, mas atropelou sua adversária com uma distância de cinco milhões de votos. Aliás, se era previsto que a apuração se arrastaria por dias, dessa vez tudo parece confirmado já, em menos de um dia.
Me parece hoje ainda mais claro que Trump venceu as eleições de 2020, mas como a vitória foi apertada foi possível fraudar as eleições em vários pontos específicos, especialmente com a técnica dos votos por correios.
De certa forma, a vitória de Trump era previsível, em alguma medida, a partir da insistência do Biden de disputar, da tentativa de assassinato de Trump e da escolha absolutamente idiota por Kamala Harris. O que os Clintons e os Obamas estavam pensando com essa escolha? Não é possível que os democratas não tivessem uma opção mais carismática e menos queimada.
Além disso, temos o fato da alta no custo de vida, o desgaste do apoio direto a um genocídio televisionado e o clima de uma escalada nuclear contra a Rússia. E nisso tudo Kamala Harris teve um papel direto. Ela é uma vice-presidente muito mais influente do que a média por causa da própria senilidade do Biden. Claramente, a população dos EUA a via como responsável por todos os seus problemas porque ela se saiu pior que o Biden em todos os condados do país. Todos. Sem exceção.
Em segundo lugar, aqueles que apostaram as suas carreiras na derrota do Trump, dentro e fora dos EUA, precisam agora sair de cena ou se reorganizar.
Começando pelo plano externo, Zelensky está agora em maus lençóis. Há uma chance bem maior agora de que ele seja descartado ou de que precise se apoiar mais em outras alianças, como as europeias, para se manter. A máquina de guerra na Ucrânia provavelmente seguirá ativa, porém; apenas um pouco mais limitada.
Fico aqui pensando no porquê termos um presidente que se sente na necessidade de palpitar sobre eleições ao redor do mundo. Ele acha mesmo que é uma figura de envergadura mundial, destinada à Secretaria-Geral da ONU? Lula se encrencou com Maduro e perdeu, agora há alguns dias estava se declarando em apoio a Kamala Harris (ninguém havia perguntado, aliás…) e agora vai ter que lidar com o fato de ter acusado Trump de ser uma ameaça à democracia.
O motivo da posição de Lula é fácil de entender: ele realmente achava que Kamala Harris levaria porque ele não entende a correlação de forças internacionais da pós-modernidade. Ele ainda é adepto do alterglobalismo. Ele crê que caminhamos, de forma inevitável, para a integração planetária em uma aldeia global, e achava que caminharíamos nessa direção com apenas alguns tropeços pelo caminho. Ele e a elite do PT não é capaz de “computar” a vitória de Trump como representando o futuro, apenas como “acidente de percurso”.
Lula agora só tem duas opções: ou abraça as relações com Trump ou então decide de forma definitiva pelos BRICS. Acabou a hipótese de ficar em cima do muro fazendo jogo duplo.
Há, aliás, uma série de outras figuras do cenário brasileiro que apostavam em uma permanência dos democratas no poder e em um não retorno de Trump. De ministros do STF aos “ongueiros”, todos avaliaram de forma equivocada a correlação de forças e os padrões internacionais. Recordo-me quando, após a vitória de Biden, os jornais vaticinaram “o fim do populismo”, “o retorno da política”. Eis onde estamos agora.
Para estruturas como a ONU, a OTAN e o Complexo Industrial de ONGs, a vitória de Trump representa uma dura derrota.
Trump não dá a mínima para a ONU, diz querer desenfatizar o papel dos EUA na OTAN e pode agora reduzir o papel do Estado dos EUA no suporte às ações “ongueiras” internacionais. Isso representa uma maior abertura para o advento da multipolaridade e um golpe profundo contra o multilateralismo.
Trump representa a hipótese de um futuro de Estados-Civilizações plenamente autônomos e em choque no plano internacional, com o resultado dependendo apenas das correlações de forças, dos acordos entre líderes, dos sistemas de alianças – não mais de “tribunais”, “assembleias” ou o que seja.
Naturalmente, ele pode ser apenas um interlúdio, uma pausa no caminho de degeneração dos EUA. Spengler enxerga o cesarismo típico de civilizações decadentes não com “otimismo”, mas entendendo que na maioria dos casos o César é apenas um soluço antes da continuação do deslize rumo ao abismo. Nesse sentido, se Trump for incapaz de realmente expurgar o establishment dos EUA e empreender uma profunda revolução cultural, ele será, de fato, tão somente um soluço. Poderemos perceber melhor tudo isso a partir do momento em que ele escolher o seu time, especialmente para comandar o Departamento de Estado.
De modo geral, apesar de não haver mudanças relevantes e imediatas para a América Ibérica, ainda é uma mudança significativa no plano geopolítico planetário cuja significância primária é o do adiamento ou mesmo suspensão do risco de uma guerra nuclear direta entre EUA e Rússia.
O resto ainda está aberto e segue em jogo.