Raphael Machado.
Recordou-se essa semana o assassinato do presidente dos EUA John Fitzgerald Kennedy em 1963, quando ele foi alvejado por dois tiros supostamente disparados por Lee Harvey Oswald – que morreu 2 dias depois, assassinado pelo dono de boate Jacob Rubenstein (ele próprio morto de embolia pulmonar na prisão pouco mais de 3 anos depois).
Desde então, os eventos foram envoltos em inúmeras teorias da conspiração, as mais populares alegando um assassinato a mando da URSS, uma operação da máfia ou uma ação da CIA.
A alegação envolvendo “comunistas a mando da URSS” é descabida porque, na verdade, Kennedy na época tentou conduzir uma política externa equilibrada em relação aos soviéticos. Ele, na verdade, é recordado com bastante simpatia por Andrei Gromyko, o Ministro de Relações Exteriores da URSS na época, em seus diários. É verdade que ele posicionou armas nucleares na Turquia e tentou invadir Cuba, eventos que levaram à Crise dos Mísseis; mas ao mesmo tempo se opunha ao envio de tropas para o Vietnã.
Todos os registros, aliás, confirmam que Khrushchev ficou espantado com o assassinato e se apressou para questionar o aparato de segurança soviético sobre o evento. Ademais, na questão do cui bono (quem se beneficia?) certamente não se pode colocar a URSS em primeiro lugar.
Falar em “máfia” nos EUA é bastante complexo porque não ajuda tanto assim a responder à questão. O tema é fortalecido porque “Jack Ruby” (como Rubenstein era conhecido) era de certo conectado ao submundo dos sindicatos do crime. Mas o verdadeiro “teor” dessa pista só aparece quando se dissipa o mito de que a máfia nos EUA é “italiana” e se descobre as origens e conexões do crime organizado estadunidense nessa época, estruturado ao redor de figuras como Mickey Cohen e Meyer Lansky, os quais haviam financiado grupos terroristas como o Irgun de Menachem Begin (posteriormente primeiro-ministro de Israel).
A pista da CIA é mais “quente”, porém, e recebeu tração nos últimos anos graças à abertura da maioria dos arquivos nacionais sobre Kennedy e a algumas matérias da Fox News e comentários do Tucker Carlson que apontam na direção do envolvimento da agência no assassinato do presidente.
Mas tal como falar em “crime organizado” nos EUA de meados do século XX nos leva a determinadas comunidades específicas, falar na “CIA” dessa época também demanda especificações. Até porque, as obras e documentários que seguem a linha da “culpa da CIA” tendem a se concentrar no chefe de contraespionagem James Angleton.
Mas as investigações que se concentram na CIA e no papel de Angleton – que sim, odiava Kennedy – não costumam apontar que Angleton havia sido descrito pelo chefe do Mossad Meir Amit como o maior sionista dos EUA, e que ele inclusive estava sob suspeita dos setores de “corregedoria” da CIA de ter sido cooptado pelo Mossad. Angleton, portanto, representava na CIA um braço do Mossad, o que torna um pouco mais específica e concreta a acusação contra a CIA.
Se investigamos o ângulo da máfia (Jacob Rubenstein) chegamos a Israel. Se investigamos o ângulo da CIA (James Angleton) chegamos a Israel.
Mas neste caso, por que, em tese, Israel iria querer matar Kennedy?
Em primeiro lugar, por “ódio ancestral”. Israel e todos os “amigos de Israel” odiavam os Kennedy enquanto “clã” por causa das ações do “patriarca” Joe Kennedy. Joe Kennedy, importante diplomata do governo Roosevelt, chefiava um lóbi pacifista que pressionava contra o envolvimento dos EUA fosse no conflito europeu, fosse no conflito asiático.
Ele, por isso, foi comparado a Hitler conforme os ventos mudaram nos EUA, e ele e toda a sua família caíram sob o espectro do “antissemitismo”. Se parece loucura a noção de que se nutriria ressentimento por JFK pelas ações de seu pai, basta recordar o editorial do neocon ultrassionista John Podhoretz quando JFK Jr, filho do ex-presidente, morreu em um “acidente” de avião em 1999(!). No editorial, Podhoretz comemora a morte de JFK Jr e, inclusive, dá a entender que o jovem estava no inferno… por causa dos “pecados” de seu avô 60 anos antes.
Para quem possui “memória de TikTok” é difícil de entender, mas existem grupos, seitas, elites e povos que cultivam uma longa memória…
Mas se a “culpa de sangue” não fosse o bastante, o governo Kennedy rapidamente passou a ser considerado um governo hostil pelo Estado de Israel. É que Kennedy acreditava na necessidade de limitação das armas nucleares, a pretendia forçar Israel a expor as suas pesquisas nucleares a equipes de investigadores internacionais. Enquanto isso, Israel desenvolvia armas nucleares em Dimona, e Kennedy suspeitava disso e pretendia, portanto, forçar a paralisação do programa nuclear sionista.
Além disso, Kennedy começou a construir uma relação de colaboração com Nasser, do Egito, e Ben Bella, da Argélia, além de vários outros governantes árabes do Oriente Médio e norte da África (o que, naturalmente, era de interesse da indústria do petróleo).
Tudo isso apesar do fato de que a campanha presidencial de Kennedy foi apoiada pelo banqueiro Abraham Feinberg, que impôs como condição para o “perdão” (contra a vontade de Ben-Gurion) da “comunidade” à “culpa de sangue” de Kennedy o apoio da Casa Branca a Israel bem como indicar Mike Feldman para conselheiro para assuntos do Oriente Médio, o qual atuaria como espião de Israel. Kennedy, no entanto, traiu suas promessas e conduziu uma política externa, de fato, imparcial na região.
Feinberg, sabe-se hoje, esteve envolvido nos esquemas do crime organizado estadunidense de financiamento dos grupos terroristas sionistas, bem como na contrapartida do contrabando de armas israelenses para a máfia. O banqueiro Feinberg, portanto, estava conectado aos mesmos ambientes que Rubenstein, Cohen e Lansky…
O caso, para mim, é claríssimo e todas as pistas e caminhos de investigação apontam precisamente para uma conspiração orquestrada por Israel e seus braços nos EUA, incluindo aí a CIA e a máfia.