Henry Meyer, Bloomberg
Um magnata russo conservador e confidente do Kremlin disse acreditar que Moscou recusará qualquer oferta de cessar-fogo na Ucrânia intermediada pelo novo presidente dos EUA, Donald Trump.
Konstantin Malofeev, um financista nacionalista que está sob sanções ocidentais, disse à Bloomberg News em uma entrevista que Moscou pode não aceitar um acordo, pois busca concessões adicionais, incluindo um status neutro legalmente vinculativo para Kiev. Ao mesmo tempo, ele disse que há uma chance de “50/50” de um eventual acordo com Trump.
As palavras de Malofeev são os últimos sinais crescentes de que Moscou tem pouca vontade de fazer um acordo fácil ou rápido, uma das principais promessas de Trump, que disse estar pronto para encerrar o conflito em 24 horas. Embora não seja um funcionário do governo do presidente Vladimir Putin, Malofeev é uma voz proeminente da linha dura na Rússia e gastou milhões promovendo causas pró-Kremlin, inclusive por meio de sua estação de TV Tsargrad.
“É importante que o futuro governo dos EUA entenda que uma trégua não é um presente que a Rússia está esperando, que eles começarão a conversar conosco e nós cederemos a tudo”, disse Malofeev em Dubai. “Uma trégua neste momento é boa para a Ucrânia e para os EUA, mas para nós não traz nenhum benefício – porque estamos ganhando”, disse o magnata.
Malofeev recebeu bem os comentários do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky na sexta-feira, nos quais ele sugeriu que está pronto para aceitar um cessar-fogo com a Rússia que deixaria partes da Ucrânia ocupadas em troca de garantias de segurança da OTAN para as áreas controladas por Kiev. Malofeev descreveu os comentários como um “ponto de virada”, mostrando que Zelensky está aberto a encerrar a guerra sem recuperar todo o território.
Posteriormente, o líder ucraniano procurou se retratar das declarações, dizendo que não havia tais propostas. No entanto, mesmo esse plano para acabar com a guerra não será suficiente para Moscou. Malofeev disse que a Rússia não interromperá as hostilidades até que a Ucrânia mude sua constituição para consagrar seu status de neutralidade e excluir a adesão à OTAN, além de concordar com limites rígidos para o tamanho de suas forças armadas e com a suspensão do fornecimento de armas dos EUA e de seus aliados.
Suas previsões ecoam as de altos funcionários russos que, nos últimos dias, disseram que o fim da guerra na Ucrânia continua sendo uma perspectiva distante.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, repetiu as exigências para que a Ucrânia se desarme, declare sua neutralidade e reconheça as novas “realidades político-territoriais” em uma entrevista publicada na quarta-feira pelo jornal do governo Rossiyskaya Gazeta.
Enquanto isso, Putin continua a intensificar sua retórica. Na quinta-feira, ele alertou que suas forças poderiam atacar “centros de tomada de decisão” na capital ucraniana, Kiev, com novos mísseis balísticos como retaliação a ataques contra a Rússia usando mísseis ocidentais.
Supor que as exigências do Kremlin mudariam quando o novo governo dos EUA assumisse o poder seria um erro, disse Malofeev, que poderia “levar a uma escalada e a um conflito com o governo Trump”.