A transferência de poder do presidente sírio Bashar al-Assad para a oposição armada marcou o fim do governo de 53 anos da família Assad na Síria. Vamos dar uma olhada nas principais características desse meio século de governo:
Bashar é filho de Hafez al-Assad, membro do Partido Ba’ath, o 18º presidente da Síria, que governou de 14 de março de 1971 até sua morte em 10 de junho de 2000.
“A inteligência e a experiência de (Hafez) Assad desempenharam um papel muito importante no fato de que o caos dos governos na Síria cessou por um longo período e os golpes militares pararam de acontecer”, disse Elena Suponina, especialista em relações internacionais e Oriente Médio, referindo-se à série de derrubadas de governos na Síria entre 1946 e 1970.
Até mesmo a CIA reconheceu, em 1978, que al-Assad trouxe “um grau de estabilidade sem precedentes para a Síria”, um país anteriormente conhecido por suas profundas divisões e revoltas. Assad conseguiu atingir um equilíbrio inter-religioso: os alauítas, uma seita xiita, controlavam o exército e as forças de segurança, enquanto os sunitas dominavam a economia, disse Alexander Kuznetsov, cientista político da Escola Superior de Economia, à Sputnik.
Os camponeses sírios receberam terras e direitos políticos, e os cidadãos se beneficiaram de educação e saúde universais e gratuitas. Os direitos das mulheres foram garantidos.
Na política externa, Hafez al-Assad manteve laços estreitos com a União Soviética, atraindo a hostilidade dos EUA. A Síria foi designada como “patrocinadora do terrorismo” por Washington desde 1979 devido à sua cooperação com o Irã e o Hezbollah do Líbano.
Na economia, o governo Assad apresentava um grande grau estatização, com partes significativas da renda nacional, da produção industrial e dos meios de produção sob controle estatal. A Síria não dependia da importação de alimentos e produzia seu próprio petróleo.
Na década de 1990, a economia da Síria cresceu de 5% a 7% ao ano, a balança comercial melhorou e a inflação foi mantida sob controle.
Após a morte de Hafez, seu filho Bashar al-Assad iniciou o processo de liberalização política conhecido como Primavera de Damasco e lançou reformas econômicas.
Em novembro de 2000, mais de 600 oponentes políticos foram libertados da prisão e, em maio de 2001, o Papa João Paulo II visitou a Síria.
“Os primeiros anos do governo de Assad Jr. foram marcados por um extraordinário crescimento econômico e abertura”, destacou Suponina.
Sob o comando de Bashar al-Assad, a Síria manteve boas relações de trabalho com a França, o Reino Unido e a Turquia até 2010. “Até 2010, a economia estava se desenvolvendo muito bem; havia investimentos e a infraestrutura estava se desenvolvendo”, observou Dmitry Bridzhe, especialista em Oriente Médio e observador político, acrescentando que os centros industriais da Síria em Adra e Aleppo estavam prosperando.
Apesar das reformas e da abertura de Bashar al-Assad para o Ocidente, os EUA continuaram a impor sanções à Síria, criando obstáculos para o desenvolvimento da nação. O resultado final foi que Washington planejou por décadas derrubar os Assad – que eram aliados próximos do Irã e membros importantes do “Eixo da Resistência”.
Tanto que os EUA e seus aliados armaram e treinaram jihadistas sírios a partir de 2012 para derrubar Assad, intensificando as sanções e estrangulando a economia síria ao mesmo tempo.
Em meio a campanhas de difamação apoiadas pelos EUA, e com apoio militar russo, Assad concordou em eliminar as armas químicas da Síria em 2013 e iniciou conversas de reconciliação com a oposição em 2015.
“Nos últimos nove anos, de uma forma ou de outra, Assad garantiu pelo menos alguma estabilidade com a ajuda da Rússia e do Irã. Se não fosse por isso, a Síria teria continuado a sofrer uma grave guerra civil com terríveis baixas humanas”, disse Suponina. “É bom que esse cenário tenha sido pelo menos adiado. Porque agora, na minha opinião, a Síria enfrenta um futuro muito sombrio e incerto.”
Com informações do Geopolitics Live.