
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, foi condenado por abuso de poder político a oito anos de inelegibilidade, pelo Tribunal Regional Eleitoral de seu estado. Já o candidato à prefeitura de Goiânia, Sandro Mabel, teve sua chapa cassada.
Segundo a juíza da 1ª Zona Eleitoral de Goiânia, Maria Umbelina Zorzetti, o governador teria patrocinado eventos de apoio a Mabel com a presença de vereadores eleitos da capital goiana e outras lideranças políticas dentro do Palácio das Esmeraldas, sede do governo de Goiás.
“Não se espera de um político da sua envergadura tamanho descaso com a legislação eleitoral, inclusive porque está assessorado por advogados com larga experiência em matéria eleitoral. Restou demonstrado que o investigado usou de seu poder de Governador do Estado e, em franco desvio de finalidade, organizou os eventos eleitoreiros, convocou seus convidados, subiu na tribuna e fez campanha eleitoral dentro de um prédio que pertence ao Estado de Goiás”, disse a juíza na sentença.
A defesa de Caiado e da chapa vencedora alega que não foram pedidos votos para os eleitos, mas a juíza entendeu que o pedido de votos foi feito de forma velada, através de “palavras-código”, citando resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que postula que “o pedido explícito de voto não se limita ao uso da locução ‘vote em’, podendo ser inferido de termos e expressões que transmitam o mesmo conteúdo”.
A sentença proferida não tem execução imediata, de modo que Sandro Mabel ainda não encontra impedido de tomar posse como prefeito de Goiânia em janeiro. Nem tampouco a sentença interfere no mandato de Caiado, uma vez tornado apenas inelegível, mas sem perda de direitos políticos. Contudo ambos foram multados: R$ 60 mil para Caiado e R$ 40 mil para Mabel. Ambos vão recorrer ao TSE.
A denúncia que levou à condenação, em tempo sumário, considerando os dois meses da materialidade do caso (a reunião ocorrida em outubro) até a condenação, foi feita pela chapa derrotada, apoiada por Jair Bolsonaro. O mesmo que está inelegível, por decisão do TSE, e cujo partido, PL, corre o risco de ter registro cassado por ação imposta pelo Procurador Geral da República.
Ronaldo Caiado apresentou a candidatura para à presidência neste ano, anunciando que deixará o governo de Goiás em março de 2026. Destaca-se pela maior aprovação popular dentre os governadores e pelo destaque que vem assumindo no fórum de governadores para discutir a PEC da Segurança Pública. Um nome forte que rompe com a polarização entre Bolsonaro e Lula, em que pairam dúvidas se este terá condições de saúde para concorrer à reeleição.
Em entrevista a emissoras de TV (foto), o governador mostrou calma e segurança, ao anunciar que nunca cometeu nada de errado. Possivelmente, acredita que poderá reverter a decisão.
Mário Sabino, em sua coluna no Metrópoles, apontou que há dois pesos e duas medidas para se tratar de casos como esse, tal como a participação de Lula junto a Guilherme Boulos em um comício de 1º de maio, que poderia muito bem ser interpretado como campanha antecipada. Se não fosse há alguns anos, na época da Lava Jato, muito provavelmente seria o caso…
Outro possível candidato, que disputaria o mesmo eleitorado, o governador de SP Tarcísio de Freitas, não se tornou réu por motivo parecido, mas sofre uma campanha midiática, sobretudo da Globo, contra sua política de segurança, que visa o apresentar como uma espécie de “carniceiro”, responsável por abusos do uso da força, praticados pela PM de SP.
Não seria razoável o Judiciário fazer política abertamente, mas o fato é que, considerando o cenário, todas as candidaturas, fora a de Lula, parecem niveladas. A não ser que surja um nome que seja mais blindado, com vida pregressa mais impoluta, a quem não se pode imputar ilícitos nem mesmo com “interpretação criativa” das leis.