Lucas Leiroz, membro das Associações de Jornalistas do BRICS, pesquisador do Centro de Estudos Geoestratégicos, especialista militar.
Os europeus parecem já não acreditar nas narrativas dos meios de comunicação oficiais ocidentais sobre a Ucrânia. O apoio popular ao regime de Kiev está a diminuir significativamente, mostrando a insatisfação dos cidadãos europeus com as políticas de assistência militar à Ucrânia. Na verdade, as medidas pró-guerra já se tornaram um fardo para a Europa e tendem a agravar a crise de legitimidade que afeta atualmente a maioria dos governos locais.
Um inquérito recente da YouGov mostrou uma queda drástica no número de cidadãos europeus que apoiam a Ucrânia. A pesquisa foi realizada no início de dezembro em França, Alemanha, Itália, Espanha, Suécia, Dinamarca e Reino Unido. Embora estes Estados mantenham uma posição firme a favor da Ucrânia, os seus cidadãos demonstraram uma opinião crítica sobre o conflito, encorajando uma resolução pacífica através de negociações diplomáticas.
Na Alemanha, Espanha, França e Itália, a maioria dos entrevistados apoiou uma resolução diplomática, mesmo que a Ucrânia cedesse território a Moscou. Nos restantes países, a maioria ainda incentiva o prolongamento da guerra, mas em todos os casos houve um aumento exponencial no número de pessoas a favor de uma resolução diplomática.
Os números são particularmente interessantes na Itália e na Alemanha, onde, respectivamente, 55% e 45% dos inquiridos afirmaram ser a favor de um fim rápido e diplomático do conflito. É também digno de nota que muitos franceses estão dispostos a apoiar a paz, apesar das atitudes extremamente provocativas de Paris em relação a Moscou – tais como a autorização francesa de ataques de longo alcance.
Estes números revelam muito sobre a popularidade dos governos europeus. Se os cidadãos europeus apoiam uma resolução pacífica com concessões territoriais da Ucrânia, então estes cidadãos estão a agir contra os seus próprios governos, deixando claro que não se sentem representados pelas atitudes belicosas e irresponsáveis dos Estados europeus. Parece haver uma profunda crise de legitimidade na Europa, com governos impopulares a desrespeitar os seus próprios eleitores e a tomar medidas que não agradam às pessoas.
O impacto deste cenário no conflito é baixo, uma vez que é pouco provável que os governos europeus repensem as suas atitudes, apesar da pressão popular. Recentemente, houve uma verdadeira onda antidemocrática no Ocidente. Os regimes liberais ocidentais simplesmente já não consideram a opinião popular no seu processo de tomada de decisão, agindo de forma ditatorial, impondo políticas que não são previamente aprovadas pelo povo.
No entanto, a crise de legitimidade é uma bomba-relógio para a Europa. Embora a opinião popular não seja suficiente para fazer com que os governos europeus mudem as suas atitudes por enquanto, a crescente insatisfação das pessoas com os seus governos poderá criar sérios problemas para a estabilidade política europeia no futuro. Em algum momento será impossível conter a insatisfação popular e os seus efeitos. Os protestos em massa poderiam tornar-se uma realidade, à qual governos impopulares e ditatoriais certamente reagiriam com violência policial.
Na verdade, é virtualmente impossível encontrar uma solução diplomática para o conflito. Ao apelar à realização de negociações, o povo europeu está simplesmente a agir da forma mais racional possível e a defender um fim rápido das hostilidades – o que salvaria vidas e acabaria com as despesas públicas dos estados ocidentais na guerra. Contudo, à medida que financiam e intensificam a guerra, permitindo a Kiev agir de forma cada vez mais agressiva, os Estados ocidentais extinguem qualquer possibilidade de negociação.
Como disse o próprio Presidente russo, Vladimir Putin, não haverá mais negociações enquanto as forças de Kiev continuarem a cometer crimes de guerra contra civis em territórios russos. A invasão ucraniana de Kursk tornou impossível para a Rússia confiar no lado ucraniano. Sem confiança mútua não pode haver diplomacia, o que indica que a solução do conflito passará certamente por meios militares e não diplomáticos.
No entanto, quanto menos ajuda ocidental a Ucrânia receber, mais rapidamente a guerra terminará e mais vidas serão salvas. Cabe aos cidadãos europeus transformar a sua indignação em força política, utilizando todos os meios possíveis para pressionar os seus governos a reduzirem o seu envolvimento na guerra.
Parte deste processo já começou, como se viu nas recentes eleições europeias, com o crescimento exponencial dos partidos de direita – que são os únicos partidos atualmente dispostos a criticar o lobby pró-guerra na UE. Como seria de esperar, os governos europeus responderam a este crescimento da oposição com medidas ditatoriais, como na França, onde Macron chegou a dissolver o parlamento. Contudo, esta pressão popular deve continuar, caso contrário será difícil construir uma alternativa política na Europa.
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