Lorenzo Carrasco.
O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, tem agitado os circuitos internacionais com as suas provocativas declarações públicas sobre uma eventual incorporação do Canadá aos EUA, a compra forçada da Groenlândia e a retomada do Canal do Panamá, além da ameaça de consideração dos cartéis de drogas mexicanos como organizações terroristas.
Questionado por jornalistas, Trump chegou a afirmar que poderia recorrer a ações militares para concretizar tais propostas, prontamente rechaçadas pelos respectivos líderes de Ottawa, Copenhague, Cidade do Panamá e Cidade do México.
No caso mexicano, a despeito da ativa colaboração bilateral contra os narcocartéis, o enquadramento destes últimos como grupos terroristas poderia proporcionar pretextos para ações armadas transfronteiriças, uma especialidade estadunidense em países mais distantes do Hemisfério Ocidental, como o Iraque, Síria, Líbia, Somália e outros.
Apesar do seu ostensivo desapreço pelas normas básicas do Direito Internacional, ou melhor, por causa dele, Trump deve ser levado a sério, e não apenas pelos países citados, mas, principalmente, por toda a Ibero América. Afinal, os EUA consideram a região como o seu quintal pelo menos desde os tempos do presidente Theodore Roosevelt (1901-09) e seu famigerado “corolário”, segundo o qual Washington se arvorava no direito de exercer um papel de polícia internacional na região, se algum país não se curvasse aos seus desígnios.
As motivações trumpianas podem ser diferentes para cada caso, mas todas se inserem no contexto de uma intenção de converter o Hemisfério Ocidental em uma “Fortaleza América”, para um confronto que as elites estadunidenses consideram existencial para a preservação da sua hegemonia global, em especial, com a China. À Ibero América, é reservado o tradicional papel de fornecedora de recursos naturais e matérias-primas a custos baixos.
Por infortúnio, o desafio chega num momento em que a região encontra-se amplamente carente de lideranças de visão estratégica e determinação política, quando mais do que nunca se faz necessária uma articulação e integração de esforços para uma inserção soberana nas rápidas mudanças da ordem de poder global em curso, para a qual possa aportar uma contribuição relevante com base nas suas raízes culturais e espirituais.