
Mal começado o ano de 2025, o governo Lula já enfrenta três crises políticas, as quais podemos destacar aqui:
1 – A crise do Pix:
Depois de anunciar a instrução normativa com regras para monitoramento das transferências por Pix, o governo se viu obrigado a recuar das medidas por causa da reação do público, em especial por um vídeo do deputado Nikolas Ferreira.
Apesar dos passos para trás, o governo reagiu acusando o deputado e membros da base bolsonarista de “crime contra economia popular”, mobilizando a Advocacia Geral da União para isso. Neste ponto, tem apoio de parte importante da mídia, i.e. a Globo, que corroborou o discurso do governo desde o anúncio da medida. Caso o governo siga adiante nesta direção de acionar os políticos bolsonaristas, fortalecerá mais ainda o discurso destes, que se apresentaram como vítimas de perseguição política e midiática. O que só engordará (ainda mais) o capital político de Nikolas e cia.
2 – A crise da dívida dos estados:
O Congresso aprovou o PROPAG (Programa de Pleno Pagamento da Dívida dos Estados), após negociação entre Senado, governadores e o governo federal, mas os governadores dos estados mais endividados ficaram desapontados com os vetos impostos por Lula a pontos considerados vantajosos, sobretudo por parte dos governos com maiores problemas quanto à dívida: RJ, MG e RS.
A dívida dos estados com a União é um problema que se arrasta por décadas, desde que a União assumiu as dívidas desses entes federativos, que passaram a ficar proibidos de emitir dívida. Após a grave crise econômica de 2015/16, a situação fiscal desses três estados acima mencionados piorou bastante e estes se viram obrigados a brigar contra a cobrança de juros pela União, que seria ilegal, pois esta não é uma instituição financeira e sim um ente federativo.
Nesse sentido, quem vem ganhando destaque é o governador de MG, Romeu Zema, que passou a acusar o governo a cobrar austeridade dos estados, sendo que o gasto com funcionalismo destes vem caindo relativamente à arrecadação, enquanto os gastos do governo federal continuam altos, com ministérios e viagens pelo mundo afora.

Como pano de fundo da questão do Pix e do PROPAG está a crise fiscal da União, pessimamente conduzida pelo ministro Fernando Haddad, que força o governo na sanha arrecadatória, ainda que em cima do cidadão comum (que não recebe dividendos ou possui grandes fortunas) e mesmo dos demais entes federativos. Nas duas crises, o governo prefere taxar os opositores de criminosos ou ingratos, desconsiderando a importância política desses três estados (RJ, RS e MG) em seu cálculo político.
3 – Conflitos na nova política de segurança pública:
O Ministério da Justiça publicou uma portaria na qual impõe o recebimento de fundos para segurança pública à adoção, pelos estados, de novas diretrizes para o trabalho policial, incluindo restrição do uso de armas letais em abordagens policiais e do usos de algemas.
Mais uma vez, o ministério, sob o comando do ex-ministro do STF Ricardo Lewandowski parece minimizar a questão da crise da segurança pública no país, em especial no RJ, em que o uso indiscriminado de armas de guerra, como fuzis de assalto, vêm se tornando regra não só para confrontos para domínio territorial por facções criminosas e milícias, mas também para roubos de veículos e de carga no perímetro urbano. Diante desse nível de ousadia pelos criminosos, as forças de segurança não possuem outra alternativa a não ser estarem preparadas para o confronto, em termos de armamento.
Parece que os formuladores das políticas públicas de segurança, dentro do Ministério da Justiça, parecem copiar o que “vem de fora”, no caso sempre as políticas de segurança adotadas em países europeus e em algumas localidades dos EUA. Além disso, mantém o viés de desconfiança ou mesmo hostilidade às forças de segurança, sobretudo a PM, salientando o alto índice de letalidade policial – mas desconsiderando o grau de violência do qual fazem uso as facções criminosas, principalmente contra a população mais carente, que vive nas áreas sob controle territorial desses grupos.
A má notícia para o governo é que ainda estamos no recesso legislativo, que só terminará em 31 de janeiro, quando o Congresso se reunirá para definir os novos presidentes da Câmara e do Senado. No caso do Pix, o governo talvez tenha contado com isso para lançar a instrução normativa, pois a reação dos congressistas seria mais enérgica caso não estivessem em recesso, mas não calculou o fator mídia social e jovens deputados que vivem dela – com ou sem impulsionamento pelas plataformas, sediadas nos EUA se adaptando à nova administração.