
Wellington Calasans
Quantas vezes você ouviu dizer que “o futebol é uma caixinha de surpresas”? Mas… com a geopolítica, podemos dizer o mesmo? A velocidade dos acontecimentos internacionais e as mudanças ocorridas conduzem a isso.
A situação entre EUA e Dinamarca, por exemplo, certamente contém elementos de ironia, especialmente quando se considera a surpreendente mudança de foco nas preocupações geopolíticas.
Durante décadas, a OTAN e seus países membros, liderados em grande parte pelos Estados Unidos, enfatizaram a ameaça de uma “invasão russa” como justificativa para a manutenção de alianças militares e o aumento de gastos com defesa.
Essa narrativa foi frequentemente criticada por alguns como exagerada ou até mesmo como uma ferramenta de propaganda para consolidar a influência ocidental e justificar a expansão da OTAN.
No entanto, a recente ameaça de Donald Trump de considerar a compra ou até mesmo uma “invasão” da Groenlândia, um território autônomo dinamarquês, coloca os países europeus em uma posição desconfortável.
A Dinamarca, um membro da OTAN, agora se vê diante de uma ameaça inesperada vinda de um aliado tradicional, os Estados Unidos.
Isso levanta questões sobre a confiabilidade das alianças e a natureza das relações internacionais, onde interesses nacionais podem rapidamente se sobrepor a compromissos de longa data.
Quanto à Rússia, é altamente improvável que ela intervenha para “salvar” os europeus de uma ameaça norte-americana.
A Rússia tem seus próprios interesses geopolíticos e históricos de tensão com a OTAN, e qualquer ação nesse sentido seria vista com ceticismo e desconfiança por parte dos países europeus.
Além disso, a ideia de que a Rússia agiria como um salvador em tal contexto é mais uma ironia do que uma possibilidade realista.
Essa situação ilustra como as dinâmicas de poder e as narrativas geopolíticas podem mudar rapidamente, e como as alianças podem ser testadas quando os interesses nacionais entram em conflito.
A ironia reside no fato de que, após anos de alertas sobre uma ameaça russa, os países europeus agora enfrentam uma situação inesperada que desafia suas expectativas e alianças tradicionais.
Dinamarca X EUA
Apesar das tentativas do presidente Donald Trump para comprar ou invadir a Groenlândia, a maioria dos groenlandeses, 85%, se opõe à ideia de se tornar parte dos Estados Unidos. Ninguém quer ser norte-americano!
Uma pesquisa feita pela Verian para jornais dinamarqueses mostrou que os groenlandeses preferem decidir seu próprio futuro. A Groenlândia é parte do Reino da Dinamarca desde 1979, mas é um território autônomo.
O primeiro-ministro Mute Egede afirmou que a Groenlândia, rica em recursos, não está à venda. A Dinamarca anunciou um investimento em sua presença militar na região, mas a União Europeia também está oferecendo apoio em outras áreas, como educação.
Embora Trump tenha manifestado interesse em adquirir a Groenlândia desde 2019 e tenha sugerido medidas econômicas ou militares, a reação internacional tem sido negativa. Os Estados Unidos mantêm uma base militar estratégica na Groenlândia desde a Guerra Fria.
Nota deste observador na Suécia, vizinho da Dinamarca
Henry Kissinger avisou: “Ser inimigo dos EUA é perigoso, mas ser amigo é fatal”.
“Só a Rússia salva!”, grita um vizinho dinamarquês em desespero.