
Wellington Calasans
A Guerra na Ucrânia tem sido uma das mais complexas e sangrentas disputas geopolíticas do século XXI, com impactos que se estendem muito além das fronteiras ucranianas.
A narrativa dominante sobre o conflito poucas vezes focou nos esforços diplomáticos, priorizando sempre as ações militares diretas, muitas vezes inverídicos.
No entanto, um novo capítulo tem sido escrito nesta guerra paralela de propagandas e narrativas: um suposto plano de Donald Trump para “acabar” com a guerra em 100 dias. Será que ele existe?
Quando fazemos uma análise isenta, vemos que este suposto plano de 100 dias traz à tona uma realidade muito mais profunda: não é um ato de liderança norte-americana, personificada na figura de Donald Trump, mas sim um reconhecimento encoberto da derrota da OTAN.
Ao propor uma solução aparentemente simples, Trump apenas reflete o fato de que a aliança militar ocidental perdeu sua capacidade de influenciar os eventos no campo de batalha e, talvez ainda mais importante, o jogo político global.
Desde o início da invasão russa em fevereiro de 2022, a OTAN posicionou-se como defensora inabalável da soberania ucraniana e “garantidora da ordem internacional baseada em regras” (rules-based international order).
No entanto, a realidade no terreno mostrou que as ações da Rússia não foram meramente impulsivas, mas parte de um cálculo estratégico meticuloso. Enquanto a OTAN investiu recursos financeiros e bélicos na Ucrânia, Moscou demonstrou ser mestre no xadrez da guerra moderna.
Com ataques cibernéticos coordenados, campanhas de propaganda massiva e a capacidade de manter linhas de abastecimento funcionando mesmo sob intensa pressão militar, a Rússia provou que seu domínio sobre o conflito vai muito além dos tanques e mísseis.
O plano de Trump, ao sugerir um “fim rápido”, parece ignorar essa complexidade, reduzindo a guerra a algo que pode ser resolvido por meio de acordos superficiais — uma tentativa de mascarar a incapacidade da OTAN de virar o jogo.
Mais do que isso, o plano de 100 dias de Trump também revela uma mudança significativa na dinâmica de poder global. A OTAN, que há décadas foi a principal força dissuasora contra ameaças externas, agora enfrenta uma crise interna de credibilidade.
Um elemento que começa a ser exposto no bloco militar é o crescente sentimento de divisão entre seus países membros sobre o nível de apoio à Ucrânia, em oposição ao que é dito sobre unidade pela imprensa mainstream.
A dificuldade de sustentar sanções econômicas eficazes contra a Rússia, também enfraquece e expõe a fragilidade da imagem de uma OTAN unida.
Além disso, a dependência energética europeia em relação à Rússia, exacerbada pela guerra, expôs vulnerabilidades que antes eram negligenciadas.
Diante disso, o plano de Trump pode ser visto como um reflexo do desejo de alguns líderes ocidentais de buscar uma saída rápida para evitar maiores danos à economia e à imagem da OTAN.
Contudo, um “orgulho cego” conduz ao pensamento de que qualquer acordo precipitado seria uma vitória indireta para a Rússia, que já conseguiu minar a coesão ocidental sem precisar abrir mão de suas metas territoriais.
Na Newsweek
O suposto plano de 100 dias de Trump para acabar com a guerra na Ucrânia inclui uma ligação com Putin no final de janeiro ou início de fevereiro, seguida de reuniões com Putin e Zelensky em fevereiro ou março. O plano prevê um cessar-fogo até a Páscoa, com a retirada das tropas ucranianas de Kursk e o início de uma Conferência Internacional de Paz para forjar um acordo mediado por potências globais. Os parâmetros do acordo incluem a neutralidade da Ucrânia, sua adesão à UE até 2030, e o apoio militar dos EUA, além de reconhecer a soberania russa sobre os territórios ocupados.
O plano também sugere a suspensão de algumas sanções à Rússia em três anos, dependendo do cumprimento do acordo. Além disso, permitiria a participação de partidos que defendem a paz com a Rússia nas eleições e consultas sobre uma missão de paz europeia após o conflito. O gabinete de Zelensky desmentiu a legitimidade do plano, afirmando que ele não existia na realidade.
Nota deste observador distante
No cumprimento das minhas obrigações éticas e deontológicas, comunico a você – seguidor do meu trabalho – que o plano de 100 dias proposto por Donald Trump não representa uma imposição de força ou estratégia militar superior, mas sim um reconhecimento tácito da derrota da OTAN na guerra da Ucrânia.
Este comunicado acima deveria ter sido escrito pela imprensa “ocidental”, mas quando o jornalismo é usado como arma de guerra, dificilmente a verdade pode ser dita.
A Rússia provou que domina o tabuleiro estratégico, tanto no campo militar quanto no político, enquanto a aliança ocidental luta, em vão, para manter sua relevância.
Qualquer solução apresentada neste momento será menos uma vitória diplomática e mais um sinal de rendição às novas realidades geopolíticas.
Para os “líderes ocidentais” (pausa para rir), resta a difícil tarefa de admitir que, apesar das promessas iniciais, o custo dessa guerra pode superar qualquer ganho potencial — e que o verdadeiro vencedor já está claro no tabuleiro mundial.
A Rússia é a única vencedora.