
Lorenzo Carrasco
O flamante presidente argentino Javier Milei, que gosta de apresentar-se como anarcocapitalista, com seu lema “Viva la libertad, carajo!”, envolveu-se numa encrenca de dimensões patagônicas.
Na última sexta-feira, ele postou em sua conta na rede social X (ex-Twitter) um entusiasmado apoio a uma criptomoeda chamada $LIBRA, até então virtualmente desconhecida: “Esse projeto privado será dedicado ao crescimento da economia argentina, apoiando pequenas e médias empresas. O mundo quer investir na Argentina $Libra”.
Em consequência do tuíte presidencial, o valor da SLIBRA disparou em poucas horas, passando de US$ 0,30 para US$ 4.900, para desabar com a mesma rapidez, em um evidente golpe de trambiqueiros profissionais. Na madrugada de sábado, depois do estouro da boiada e de várias advertências de especialistas financeiros, Milei apagou a postagem, mas o estrago já havia sido feito, causando prejuízos de quase US$ 300 milhões a cerca de 75 mil pessoas.
Para complicar a sua situação, Milei tem relações ainda não devidamente esclarecidas com dois dos “empresários” responsáveis pela negociata, que têm registros de frequência na Casa Rosada e na residência oficial de Olivos.
Nesta segunda-feira, um escritório jurídico argentino especializado em fraudes financeiras entrou com um pedido de investigação junto ao Departamento de Justiça dos EUA e ao FBI, devido ao fato de cidadãos estadunidenses e argentinos residentes nos EUA terem sido prejudicados pela trama.
Agora, o boquirroto presidente argentino está bastante preocupado com os possíveis desdobramentos do caso, que podem levar até mesmo ao seu impedimento.
Por outro lado, anarcocapitalismo é isso; sem um firme marco regulatório do Estado, cada embusteiro pode criar sua própria pirâmide e lesar os seus vizinhos incautos que se deixem seduzir pelo canto de sereia.