
Lorenzo Carrasco
O presidente francês Emmanuel Macron definiu como um “eletrochoque” o duríssimo choque de realidade experimentado pelos líderes europeus na semana passada, com a constatação de que os EUA de Donald Trump não pretendem mais manter o guarda-chuva estratégico e militar do “atlanticismo”, e basicamente consideram os europeus como irrelevantes para uma conclusão do conflito na Ucrânia.
O golpe recebido com a conversa telefônica entre Trump e o presidente russo Vladimir Putin, seguido pelo discurso do secretário de Defesa Pete Hegseth na reunião do Grupo de Contato de Defesa da Ucrânia, em Ramstein, e do devastador discurso do vice-presidente J.D. Vance na Conferência de Segurança de Munique (CSM), foi tão atordoador que levou a respostas patéticas, como o choro do presidente da CSM, Christoph Heusgen, louvando o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky como o grande representante dos “valores europeus”.
Por sua vez, Macron tratou de organizar às pressas uma reunião em Paris com outros líderes igualmente atordoados, a qual resultou num monumental fiasco, sem qualquer decisão conjunta.
Enquanto isso, em Riad, Arábia Saudita, os diplomatas adultos dos EUA e da Rússia se reuniam para restabelecer a normalidade nas relações bilaterais, rompida pelo calamitoso governo de Joe Biden, enquanto ressaltavam a falta de espaço para as presenças europeias e da própria Ucrânia nas negociações.
Mas a proverbial cereja desse bolo solado foi a conversa telefônica entre Macron e Lula, na terça-feira 18, na qual, segundo o Itamaraty: “Macron reconheceu a importância da contribuição de atores como o Brasil para a busca de uma solução para o conflito na Ucrânia. Os dois mandatários reiteraram a importância de uma solução para a guerra que inclua a participação de todas as partes envolvidas no conflito. Ambos acordaram seguir em permanente contato sobre esse tema.”
Além disso, Macron “reiterou seu apoio à realização da COP-30” e se comprometeu a discutir uma iniciativa conjunta para “ampliar o financiamento climático disponível para países em desenvolvimento” – o grande tema da agenda climática, já comprometido nas últimas COPs e praticamente enterrado com a volta de Trump à Casa Branca. Para chegar a ridículo, faltou bastante; um abraço transatlântico de afogados para ninguém botar defeito