
Wellington Calasans
As tensões e incertezas nas relações internacionais entre a Europa, os Estados Unidos e a Rússia no contexto da guerra na Ucrânia têm sido motivo de debates aqui na Europa. Os últimos dias foram realmente intensos.
O fracasso de uma tentativa liderada pela França para unir os países europeus em uma posição comum sobre um possível acordo de paz na Ucrânia, expôs as divisões internas da União Europeia (UE) e a crescente percepção de que Trump está a reduzir o papel central dos EUA na segurança europeia.
A reunião em Paris expôs divergências significativas entre os “líderes” (pausa para rir) europeus sobre questões como o envio de tropas para a Ucrânia e o aumento dos gastos com defesa.
Enquanto alguns países, como a França, defendem maior autonomia europeia, outros, como a Alemanha e a Polônia, mostram hesitação ou resistência, citando limitações práticas e preocupações estratégicas.
O momento que deveria ser aproveitado pelos europeus para a construção de pontes para a retomada econômica, regressando ao acesso fácil e barato do gás russo, tem sido usado para o aprofundamento da crise, através do desejo de alguns países europeus de ampliar o investimento em defesa, sob o falso argumento de que “a Rússia vai atacar”.
A Europa não teria condição tecnológica de desafiar o Exército russo nas próximas duas décadas, mesmo que a Rússia ficasse completamente parada. Os europeus são incapazes de enxergar que a importância histórica da cooperação transatlântica com os EUA perdeu a razão de existir.
Há pelo menos cinco elementos óbvios que apontam para a paz da Europa com a Rússia como o caminho mais seguro para os povos europeus.
1. Estabilidade Econômica: A paz com a Rússia permitiria a retomada das relações comerciais, especialmente no setor energético, aliviando a crise econômica causada pelas sanções e pelo aumento dos preços dos combustíveis na Europa.
2. Redução do Risco Nuclear: Um conflito direto entre a OTAN e a Rússia poderia escalar rapidamente para uma guerra nuclear. A paz evitaria essa ameaça existencial para os povos europeus.
3. Fortalecimento da Soberania Europeia: Ao buscar a paz com a Rússia, a Europa demonstraria sua capacidade de resolver conflitos sem depender exclusivamente dos EUA, fortalecendo sua independência política e diplomática.
4. Melhoria das Condições Humanitárias: A guerra na Ucrânia gerou uma crise humanitária grave, com milhões de deslocados e civis sofrendo. A paz permitiria a reconstrução das áreas afetadas e a volta ao normal das vidas das pessoas.
5. União Interna da UE: As disputas internas entre os países europeus sobre como lidar com a Rússia enfraquecem a União Europeia. A busca por uma solução pacífica ajudaria a restabelecer a coesão política e estratégica do bloco.
Como sabemos, a Guerra na Ucrânia foi péssima para os países europeus. Os problemas decorrentes do chamado período pandêmico foram seriamente aprofundados. Com isso, a promoção da paz entre Europa e Rússia resolveria imediatamente os aspectos críticos que carecem de soluções imediatas.
A crise energética, por exemplo, decorrente da interrupção do fornecimento de gás russo levou a aumentos drásticos nos preços da energia, afetando negativamente as economias europeias e o bem-estar das famílias.
Uma inflação alimentar – que tentaram esconder através da redução das medidas dos produtos – surgiu com a guerra e impactou a produção agrícola, elevando os preços dos alimentos e expondo à pobreza os povos de muitos países europeus.
O custo militar dos países europeus aumentou substancialmente e os gastos militares desviaram recursos de outras áreas prioritárias, como saúde e educação. Irresponsavelmente, alguns “líderes” (nova pausa para rir) ainda dizem que 2% do PIB – desperdiçados na OTAN – são insuficientes para a defesa europeia.
Os problemas com a chegada de mais refugiados e a migração já eram debatidos antes da guerra na Ucrânia. Agora, com a chegada maciça de refugiados ucranianos, há uma sobrecarga dos sistemas sociais de vários países europeus, criando tensões políticas e sociais.
Por tudo isso, não é estranho que as divisões políticas na Europa sejam tão evidentes. A guerra ampliou as divisões entre os estados-membros da UE, dificultando a adoção de políticas conjuntas e enfraquecendo a unidade europeia.
Nota deste observador in loco
Nos últimos quatro anos, tenho sido enfático na defesa do diálogo entre Europa e Rússia e sempre apresento razões que parecem inquestionáveis para que qualquer pessoa fosse capaz de enxergar na paz o único caminho para a pacificação coletiva.
É necessário que os problemas atuais sirvam como lição para a prevenção de conflitos futuros. A pacificação entre Europa e Rússia é essencial para evitar novas guerras e crises que possam colocar em risco a segurança e a estabilidade regional e mundial.
A cooperação internacional deve servir para promover a paz. Isso exige uma colaboração mais eficaz entre as nações, fomentando uma ordem internacional baseada no diálogo, na diplomacia e no respeito mútuo. É hora de reduzir as provocações.
O desenvolvimento só pode ser alcançado em um ambiente pacificado. Os recursos atualmente destinados à guerra poderiam ser redirecionados para enfrentar desafios como a pobreza e a desigualdade.
A proteção dos direitos humanos deve ser valorizada. Somente a paz pode pavimentar e garantir o respeito aos direitos humanos e promover o bem-estar de todas as populações, independentemente de suas origens ou crenças.
Qual a herança para as gerações futuras? Os governantes devem deixar um legado de paz e racionalidade. Construir um mundo pacífico é uma responsabilidade moral das atuais lideranças para assegurar um futuro seguro e próspero para as gerações vindouras.
Clamar por tudo isso pode até parecer ingênuo, mas o momento é oportuno para um recomeço. A conquista da paz é uma luta permanente, não é ingênua. Ela exige muita renúncia, racionalidade e maturidade.