
Wellington Calasans
Ainda arde o tapa dado pelo vice-presidente dos EUA, JD Vance, na elite europeia, durante a Conferência de Segurança de Munique. No seu discurso, Vence fez uma síntese que pode ser vista como o resultado de uma visão profunda e provocativa sobre as relações transatlânticas e os desafios que enfrentam tanto a Europa quanto os Estados Unidos.
Ao identificar a “ameaça interna” como sendo o recuo da Europa em relação aos seus próprios valores fundamentais, ele colocou em foco um problema estrutural que vai além das tensões geopolíticas tradicionais com atores externos, como Rússia ou China.
No entanto, ao esconder a culpa dos EUA para o fortalecimento desta mesma “ameaça interna” que agora critica, JD Vance apenas reforçou a repetitiva estratégia norte-americana de trair acordos e culpar o outro. Aqui na Europa, o sentimento de abandono e traição dos EUA está consolidado.
A fala de Vance reforça a constatação de que os europeus estão convergindo em suas percepções sobre os EUA. A visão mais comum é que os EUA não são um “aliado”, mas sim um “parceiro necessário” com o qual os europeus devem cooperar estrategicamente.
Isso é verdade até mesmo em redutos atlantistas tradicionais — como Polônia e Dinamarca — que um ano e meio antes viam os EUA principalmente como um aliado. O retorno político de Trump e sua abordagem direta com a Rússia sobre a Ucrânia podem ser os principais fatores da atual cautela dos europeus.
Nem mesmo os chamados “partidos extremistas” são unânimes na confiança que devem depositar nos EUA. O grande problema, no entanto, é que todos os partidos políticos europeus estão completamente desconectados das aspirações dos cidadãos. Isso aprofunda a falta de confiança nos poderes constituídos entre os europeus.
Os últimos governos dos EUA (incluindo Trump I) trabalharam de maneira tão equivocada a política internacional, que conseguiram duas façanhas inimagináveis para este início de século: a consolidação da parceria Rússia-China e a crise de confiança entre EUA-União Europeia.
Os resultados estão postos, com a derrota da OTAN na guerra realizada militarmente em solo ucraniano. Agora, Trump evita a “cubanização” (completo bloqueio) dos EUA e corre para os braços de Putin.
Ciente de que o bloco econômico BRICS é uma ameaça aos planos econômicos dos EUA, Trump assume uma postura aventureira e tenta formar uma ménage à trois com China e Rússia, provocando um sentimento de “esposa abandonada” na União Europeia.
Para compreender por que a União Europeia (UE), particularmente sua elite governante centralizada em Bruxelas, pode ter sido a “esposa encrenqueira” e passasse a ser vista como uma ameaça genuína ao povo norte-americano, é necessário analisar três dimensões principais: política, econômica e cultural.
Política: a erosão da soberania nacional
A UE tem sido frequentemente criticada por promover uma agenda supranacional que mina a soberania nacional dos estados-membros. Esse modelo de governança concentra poder em instituições distantes da população europeia, muitas vezes sem mecanismos claros de accountability democrática.
Para os norte-americanos comuns, essa tendência à centralização globalista ecoa preocupações similares nos EUA, onde movimentos populistas têm emergido para defender a preservação da autonomia nacional contra tratados internacionais e acordos globais que podem limitar a capacidade dos EUA de tomar decisões independentes.
Bruxelas tem adotado políticas que restringem a liberdade econômica, regulamentando setores industriais e impondo normas ambientais rígidas que podem prejudicar a competitividade global de empresas norte-americanas e europeias.
Essa abordagem contrasta com a tradição liberal estadunidense, que valoriza o livre mercado e a inovação tecnológica como motores de crescimento. Assim, para não ser rotulado de “protecionista” Vance criticou a expansão do poder burocrático da UE, pois isto pode servir como um precedente negativo para quem teme que Washington siga o mesmo caminho.
Econômica: o impacto no comércio e na competitividade
A UE é um bloco econômico poderoso, mas suas políticas comerciais protecionistas e regulatórias excessivas criam barreiras significativas para empresas norte-americanas que buscam acessar mercados europeus.
Além disso, a agenda climática ambiciosa da UE pode levar a aumentos nos custos de produção e reduzir a competitividade das indústrias tanto dentro quanto fora do continente europeu. Isso afeta diretamente trabalhadores e consumidores norte-americanos, que dependem de cadeias de suprimentos globais eficientes e preços acessíveis.
Para piorar, a UE tem demonstrado uma inclinação para impor sanções comerciais retaliatórias contra os EUA em questões controversas, como subsídios agrícolas ou tarifas alfandegárias. Essa postura conflitante enfraquece a cooperação econômica transatlântica, colocando em risco milhões de empregos e bilhões de dólares em comércio bilateral.
Cultural: a colisão de valores
Talvez a questão mais delicada seja a divergência cultural crescente entre os EUA e a UE. Essa diferença filosófica foi aprofundada com o abandono da “cultura woke” com a chegada de Trump e criou tensões profundas, especialmente quando a UE busca exportar as ideologias, até recentemente partilhadas com os EUA, através de acordos internacionais, organizações multilaterais e até mesmo pressão diplomática.
Por exemplo, debates sobre questões sociais como imigração, direitos reprodutivos e liberdade de expressão frequentemente revelam uma lacuna entre os valores predominantes nos EUA de Trump e aqueles defendidos pela burocracia europeia.
Para muitos norte-americanos conservadores, essas diferenças culturais não são apenas irrelevantes; elas representam uma ameaça existencial aos princípios fundadores da nação.
Com isso, Vance não falou apenas aos europeus, mas também enviou uma mensagem para os cidadãos norte-americanos que votaram em Trump na esperança de que ele abandonasse as chamadas “bandeiras identitárias”, amplamente defendidas pelos Democratas.
Na imprensa alternativa dos EUA (sem a culpa)
As palavras de Vance transmitem uma verdade transformadora que poucos ainda compreenderam.
A verdade é esta: No que diz respeito à Europa, o verdadeiro inimigo do povo norte-americano não é a Rússia. O verdadeiro inimigo é a UE, especificamente sua elite governante em Bruxelas.
Em outras palavras, é o regime globalista da UE – e não a Rússia – que representa uma ameaça genuína aos americanos comuns. Por quê?
Porque é essa elite dominante que usa o poder da lei e do Estado para pisotear o bem-estar, a liberdade e os direitos do homem comum.
É o regime da UE em Bruxelas que está trabalhando freneticamente para suprimir os movimentos populistas nascentes não apenas dentro da UE, mas também em todo o mundo. Ele faz isso colaborando com a cabala de líderes globalistas em nações ao redor do globo, como, por exemplo, Justin Trudeau no Canadá, Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil, Keir Starmer no Reino Unido e Volodymyr Zelensky na Ucrânia.
O regime governante da UE é feito do mesmo tecido que o regime Biden-Harris recentemente derrotado nos EUA. Eles compartilham as mesmas metas e objetivos de controle, poder e enriquecimento de si mesmos e de seus associados.
Eles também abominam as mesmas coisas. Acima de tudo, eles se opõem ao processo democrático porque não querem ser limitados pela vontade do povo.
Na imprensa da Europa (com sentimento de esposa abandonada)
BRUXELAS — Enquanto o governo de Donald Trump se volta contra a Ucrânia, líderes da UE e do mundo irão a Kiev na segunda-feira para se reunir em torno do presidente Volodymyr Zelenskyy e discutir garantias de segurança.
O primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez, o presidente do Conselho Europeu, António Costa, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, estarão presentes pessoalmente, anunciaram no X, enquanto líderes da Lituânia, Letônia, Malta e Canadá se juntarão pessoalmente ou virtualmente em uma demonstração unificada de apoio, disseram várias autoridades ao POLITICO.
A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, também participará, embora ainda não tenha sido confirmado “em qual formato ela poderá participar” devido a compromissos anteriores, disse seu porta-voz ao POLITICO.
Nota deste observador in loco
Ao afirmar que a verdadeira ameaça à Europa – e, por extensão, aos interesses norte-americanos – reside em seu próprio declínio moral e político, JD Vance destaca uma realidade dura e de difícil assimilação entre os europeus.
Não é a Rússia, nem a China, mas sim a erosão dos valores compartilhados entre os EUA e a Europa Ocidental, patrocinados inclusive pela USAID, que deve preocupar ambos os lados do Atlântico.
A burocracia globalista centrada em Bruxelas, com sua agenda supranacional e regulatória excessiva, representa uma força que desafia tanto a soberania nacional quanto os princípios individuais que definem as sociedades ocidentais. Isso, no entanto, não é um pensamento unânime, sequer na União Europeia.
Em última análise, a mensagem de Vance serve como um alerta: os EUA sempre irão trair para proteger seus interesses estratégicos, econômicos e culturais. Os europeus devem reavaliar suas “bandeiras” e alianças e priorizar parcerias com aqueles que compartilham os valores fundamentais e tradicionais que fizeram da Europa um continente respeitado.
Um rápido olhar naquilo que a imprensa da Europa chamou de “líderes da UE e do mundo” conduz a nossa análise para uma única realidade: a representação política desses países foi contaminada pela sabotagem da USAID.
Por isso, o regime da UE em Bruxelas trabalha exaustivamente para suprimir os movimentos que refutam esta contaminação, rotulando-os de populistas. Na verdade, são os sentimentos predominantes entre os cidadãos comuns que não querem viver no “mundo do arco-íris”.
Os que são aceitos como “líderes”, formam uma cabala de globalistas em nações ao redor do globo, como, por exemplo, Justin Trudeau no Canadá, Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil, Keir Starmer no Reino Unido e Volodymyr Zelensky na Ucrânia. Chamar isso de liderança é completa inversão de valores.
Eles compartilham as mesmas metas e objetivos de controle, poder e enriquecimento de si mesmos e de seus associados. Trump foi eleito para romper com isso. Se não o fizer, será esmagado dentro e fora das fronteiras norte-americanas.