
Raphael Machado
Era inevitável o colapso do governo Olaf Scholz e eu, inclusive, diria que ele demorou a chegar. Especialmente após a destruição do Nordstream e a demonstração de masoquismo servil do governo alemão, era previsível que o governo cairia assim que as consequências começassem a ser sentidas pelos trabalhadores e pelos empresários.
Foram, afinal, dois anos seguidos de decrescimento econômico. O número de desempregados, por sua vez, alcançou o maior patamar em 10 anos, com a Volkswagen fechando três fábricas e o mesmo sendo feito por várias outras grandes empresas. Tudo por causa da disparada nos custos energéticos, causada pelas sanções e pela destruição do Nordstream.
Naturalmente, o cansaço alemão não é apenas (ou mesmo principalmente) econômico. O país vem de décadas de imigração irrestrita, com um consequente aumento na violência e na frequência de atentados terroristas. Mas mesmo onde não há violência há substituição demográfica, o que passou a ser notado pelos cidadãos do país.
Para piorar, a classe política e midiática prega abertamente a militarização da sociedade para lançá-la em um conflito inevitavelmente ruinoso contra a Rússia.
Com nova eleições gerais, portanto, já era esperado que os nacionalistas do Alternativa para a Alemanha (AfD) veriam avanços importantes. E, de fato, passaram de 10.5% para 20.8%, dobrando a fatia de apoio popular e praticamente dobrando os assentos no Bundestag.
Geograficamente, uma vez mais, nós temos nas eleições alemães o grande racha entre oeste e leste, com a Alemanha “Ocidental” votando em peso nos democratas-cristãos (CDU) e a antiga Alemanha Oriental votando em peso no AfD. Em algumas regiões, como a Saxônia, o AfD quase alcançou os 50% dos votos e mesmo quando se inclui Berlim na equação, o leste ainda preferiu o AfD mesmo à CDU.
É evidente para qualquer um com pelo menos dois neurônios que o liberalismo é mais culturalmente e espiritualmente corrosivo que o comunismo, que apenas exige uma obediência formal. O liberalismo, por sua vez, pretende a formatação total do ser humano, o que é alcançado não pela propaganda óbvia, mas pela diluição do liberalismo na própria vivência quotidiana.
Pois bem, sociologicamente, ademais, a classe trabalhadora em peso votou no AfD. O partido nacionalista recebeu 37% dos votos das camadas mais pobres, enquanto recebeu apenas um pouco acima da média 22% dos jovens de 18-24. Nessa camada o Die Linke (esquerda) ainda tem ampla vantagem, principalmente pelo voto feminino.
Mas apesar do avanço do AfD ser um feito relevante – já que com mais de 150 deputados o partido poderá atuar como uma pedra no meio do caminho de qualquer coalizão governista (especialmente para propostas de emenda à Constituição), quem levou foi a CDU, da ex-chanceler Angela Merkel, agora sob a batuta de Friedrich Merz (foto), que provavelmente será o novo chanceler da Alemanha.
Os alemães, assim, parecem querer insistir em alternar entre partidos que defendem o mesmo projeto, esperando que algo mude.
Merz foi por anos funcionário do escritório Mayer Brown, especializado em lobismo megacorporativo. Dali ele foi captado pela Blackrock, tornando-se o principal funcionário alemão do fundo globalista e um frequentador assíduo de Davos.
Nada, portanto, mudará no país mais importante da União Europeia. Mas se Scholz caiu é improvável que Merz consiga se manter de pé por muito tempo.