
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes declarou nesta segunda-feira (24) que o Brasil vive um retorno ao “discurso do tio do churrasco”.
A fala foi proferida durante Aula Magna na Faculdade de Direito da USP, no dia 21 de fevereiro, caracterizando a visão de mundo de “homens brancos e heterossexuais, acima de 45 anos”, com a suposta ampliação de direitos de “grupos historicamente marginalizados, como pobres, mulheres e LGBTQIAP+”.
“Esse discurso surgiu por uma revolta contra determinados momentos em que crises econômicas achataram o modo de vida de uma determinada parcela da população. Há pessoas que ficaram com rancor pela universalização de direitos e pela excessiva concentração de renda”, afirmou Moraes.
Diante desse quadro, empresas de plataformas alimentam esse discurso para gerar engajamento e “corroer a democracia por dentro”. Assim, ele defende “a criação de limites legais para as redes sociais”, reforçando sua posição de que as plataformas devem ser responsabilizadas por permitir “discursos de ódio” e conteúdos ilegais.
Ou seja, o que depreendemos do discurso de Moraes, falando bem longe dos autos, é um ataque a um determinado grupo social, dos homens de 45 anos em diante, como grupo “perigoso para democracia”. Apesar dele mesmo reconhecer que estes são vítimas da “excessiva concentração de renda”. A adjetivação de “tio de churrasco” denota que o ministro está a se referir não só ao ex-presidente Jair Bolsonaro, mas àqueles, dentro desse grupo, com menor instrução formal, logo entre as menores faixas de renda.
Ou pelo menos com ganhos médios bem inferiores à elite dos poderes da República, tendo em vista que, em dados de 2024, o Judiciário brasileiro consumia 1,6% do PIB. O colega de Moraes no STF, ministro Luís Barroso, também defendeu recentemente os altos gastos com o Judiciário, que daria muito mais à sociedade do que consome em recursos.
Além disso, segundo reportagem do G1, os ministros do STF estão pressionando o Itamaraty para assumir uma posição, diante do que eles consideram como assédio de Elon Musk ao ministro Alexandre de Moraes, na forma de uma reação diplomática ao atual governo dos EUA. Um membro do STF teria falado à equipe do G1 que o ataque de Musk, com cargo de ministro no governo Trump, e de membros da base do presidente seriam uma empreitada parte de um plano maior de constrangimento do STF e do Judiciário como um todo.
Em novembro de 2022, vários ministros do STF, incluindo Alexandre de Moraes, participaram da Conferência do Lide Brazil, no Harvard Club, de Nova York, evento apoiado pela Câmara de Comércio Brasil – EUA. Na ocasião falaram no “O Brasil e o respeito à liberdade e à democracia”. Com a mudança de ares em Washington, talvez Moraes não possa voltar a participar de eventos do tipo, considerando que há movimentações nos EUA para barrar sua entrada no país, por causa de ações contra plataformas como o X e o Rumble.
Com informações de “O Tempo” e do G1.