
Lorenzo Carrasco
As recentes eleições parlamentares na Alemanha produziram a esperada derrota dos partidos da desmoralizada coalizão “semáforo” do chanceler Olaf Scholz. A vencedora foi a União Democrática Cristã-União Social Cristã (CDU-CSU), com 28,5% da votação, seguida pela Alternativa para a Alemanha (AfD), com 20,8%, os social-democratas de Scholz (PSD), com 16,4%, e os Verdes, com 11,6%.
O PSD teve a sua menor votação em quase um século e os Verdes estão em franco declínio, enquanto os liberal-democratas (FDP) que integravam o “semáforo” não conseguiram superar a cláusula de barreira de 5%, problema que também afetou a Aliança Sahra Wagenknecht (BSW).
O líder do bloco vencedor, Friedrich Merz, já anunciou o início das negociações para a formação de uma nova coalizão governista, antecipando que aplicará à AfD o conceito do “muro de contenção”, para impedir que faça parte do governo.
Por ironia, a ultranacionalista AfD foi amplamente majoritária nos estados do Leste, a antiga Alemanha Oriental, promovendo uma divisão idêntica à da Guerra Fria; em lugar do Muro de Berlim, os alemães terão o “muro de contenção” contra o partido.
Em síntese, uma nova coalizão governista não poderá dispensar o PSD e os Verdes, resultando em que a única diferença do “semáforo” será a troca do amarelo do FDP pelo preto da CDU-CSU.
Em termos políticos, Merz, tão surpreso quanto seus colegas europeus com a guinada dos EUA de Donald Trump em relação à guerra na Ucrânia, já proclamou que Kiev “precisa vencer a guerra”, e que a Europa precisa tornar-se “independente” dos EUA. Para isto, pretende uma maciça injeção de recursos na indústria bélica.
Entretanto, para que isso ocorra, terá que recuperar a depauperada indústria alemã, debilitada pelos desastrosos efeitos da “transição energética”, que fechou usinas nucleares e termelétricas, e da renúncia às importações de gás natural e petróleo da Rússia, cujos baixos custos constituíam um dos pilares da produção industrial germânica.
E se quiser excluir os gastos militares dos cálculos fiscais, como sugerem alguns, terá que alterar a Constituição e dar à política econômica um vetor dirigista ao qual os alemães deixaram para trás há décadas.
Em outras palavras, dificilmente, Merz terá condições de corrigir o desastroso rumo em que o país foi colocado pelos últimos governos, e não será surpresa se acabar enfrentando um fim precoce como o anterior.